Leão foi um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro, com participação em quatro Copas do Mundo, fazendo parte do histórico elenco de 70, e diversos títulos de expressão pelos clubes em que atuou. A função de técnico começou a exercer em 1987, no Sport, e o forte temperamento sempre foi uma de suas marcas como jogador e treinador. Nervoso, briguento, sem medir as palavras e vencedor, esse foi Leão por quase toda a carreira. Quase, porque por um período ele precisou mudar, precisou deixar de ser só linha dura para ser paizão. Paizão dos “novos Meninos da Vila”, grupo formado por Robinho, Diego, Elano e Renato, entre outros.
O técnico chegava para dirigir o Santos pela segunda vez em sua carreira. Tinha sido campeão em 98 da Copa Conmebol e sua maneira dura de trabalhar foi a solução encontrada pelo então presidente Marcelo Teixeira para colocar ordem na casa. O time, comandado por Celso Roth, vinha de eliminações precoces no Torneio Rio-São Paulo e na Copa do Brasil, e as expectativas não eram boas para o Campeonato Brasileiro.
A notícia boa era que havia tempo para treinar. Em ano de Copa do Mundo, e eliminado das competições, Leão colocou a meninada em campo para suar a camisa e se entrosar. E, para ver se o time estava mesmo dando liga, pediu um amistoso contra o Corinthians de Parreira, que era considerada a melhor equipe do Brasil naquele momento.
Leão, na época, disse que todos o chamavam de louco, que a equipe seria goleada. O amistoso na Vila terminou 3 a 1 para o Santos, e o ex-treinador do Peixe não tem dúvida em dizer que ali começou a conquista do título do Campeonato Brasileiro de 2002. O ex-comandante santista diz sempre que foi a partir daquele jogo que os jogadores começaram a acreditar que poderiam jogar de igual para igual com as outras equipes.
“Eu e o Marcelo (Teixeira) não tínhamos convicção do que iria acontecer. Mas tínhamos convicção de que era preciso mudar. A sorte é que o tempo ajudou. Tivemos tempo para treinar, unir uma geração, e transformá-los de garotos em homens profissionais”, disse Leão anos após a conquista.
O Brasileirão então se iniciava. Estreia com vitória em casa diante do Botafogo. Depois derrota para o Juventude fora de casa. Vitória em casa sobre o Figueirense e empate fora com o Fluminense. Campanha de altos e baixos até a classificação para a fase mata-mata, conquistando a última vaga.
Nas quartas, duas vitórias sobre o São Paulo, primeiro colocado da fase de classificação. Nas semifinais, a vitória sobre o Grêmio na Vila por 3 a 0 foi determinante para a classificação para as finais. E mais uma vez o Corinthians de Parreira estaria pela frente.
Mas até a chegada à decisão foram mais de seis meses de trabalho. Seis meses em que o Brasil, acostumado a ver um Leão brigador, conheceu a outra faceta de Emerson Leão, um treinador paizão.
Ele sempre diz que nunca deixou de cobrar os “meninos”, que tinha responsabilidade. Mas admite também que precisou ser tolerante, bem mais tolerante. As brincadeiras lideradas por Robinho e Diego ocorriam o tempo inteiro. E até o treinador era alvo dos dois jovens craques e do restante do elenco.
“Esses novos garotos foram adquirindo uma confiança grande, dentro de uma liberdade em que tivemos de deixar de lado algumas coisas, prosperar para conseguir um futuro melhor. Eu diria que aprendemos da mesma forma que ensinamos a esses garotos. Ensinava e também aprendia o que era ser jovem, coisa que já tinha passado.”
Nas finais, o Santos ganhou as duas partidas contra o Corinthians. A primeira por 2 a 0 e a segunda, 3 a 2. Mas o último jogo foi tenso. O Peixe saiu ganhando e tomou a virada. Leão então voltou a ser Leão, discutiu com o juiz e foi expulso. Mas não desceu para o vestiário. Ficou na porta, escondido, comandando o time, porque um treinador pode até abandonar seus comandados, mas um paizão nunca!
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