Texto de Vinícius Cabral, pesquisador do Santos que escreve Jogos para sempre e Lendas da Vila aqui no DIÁRIO, além de ser um dos responsáveis pelo podcast do DIÁRIO DO PEIXE
Tudo o que eu mais queria era estar no Morumbi naquele dia 15 de dezembro de 2002. Todo mundo já sabe o que aconteceu: as oito pedaladas, a virada corintiana, os gols de Elano e Léo. O fim da interminável fila de 18 anos sem um título de maior relevância.
Lembro como se fosse hoje de não conseguir ingresso para a segunda partida da final do Brasileirão. Era uma época de internet precária, não existia Sócio Rei e tampouco eu era associado do Santos. Quem quisesse ingresso tinha que estar na Vila Belmiro o mais cedo possível. No dia da venda dos ingressos eu cheguei e a fila já dava voltas no estádio. Fiquei sem ingresso e chorei no meio fio. Patético, eu sei. Meu pai me consolou, mas passei os dias seguintes revoltado.
“Meu time vai ser campeão e eu vou ter que ver pela televisão”. Eu simplesmente detesto assistir jogos do Santos pela televisão. Dentro do estádio parece que tenho controle do que vai acontecer, numa espécie de premonição. Imagina assistir ao jogo mais importante dos últimos anos pela televisão. Um martírio.
Seja na Vila, no Pacaembu ou no Morumbi eu ouvia as torcidas cantando parabéns para o Santos e não entendia direito. “Como assim, estão dando parabéns para o Santos?”. Minha mãe deve ter explicado em um jogo qualquer, mas mesmo assim não entrava na minha cabeça aquela congratulação.
Depois de mais velho comecei a entender que era uma ironia. Malditos. Eu questionava meu pai sobre o Santos estar na fila mesmo tendo vencido o Rio-São Paulo 97 e a Copa Conmebol 98. E ele falava que um time do tamanho do Santos precisava estar no topo do Brasil, da América, do mundo. Com 14 anos aquilo não entrava na minha cabeça, mas tudo bem.
Ai chegou o dia 15 de dezembro de 2002. “Vontade de chorar e morrer”. Acho que foi a melhor entrevista de um jogador na história do futebol. O Léo resumiu muito bem o sentimento dos torcedores santistas e eu pensei algo muito parecido, mas não igual: “Agora posso morrer em paz”.
Aquele jogo é o divisor de águas da minha vida. Faço questão de manter os laços com aquele dia e desde 2003, todo dia 15 de dezembro eu assisto à final de 2002. Antes era num DVD que se perdeu com o tempo. Depois no bendito Youtube. Assistam, relembrem, mandem para os amigos. O dia 15 de dezembro de 2002 é interminável.
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