2020 foi um ano marcado pelas grandes manifestações antirracistas, pelo aumento da representatividade das mulheres na política (apesar dos números ainda serem baixos), pela maior repercussão dos discursos das chamadas minorias políticas. Já o futebol segue sendo um espaço machista, homofóbico e racista, comandado por homens brancos e ricos, muitos deles sem qualquer comprometimento com causas sociais.
Esse texto não é apenas sobre o Santos, mas também sobre ele. O clube que revelou para o mundo o maior jogador de futebol da história, um negro. O clube que se diz de preto e de branco. O clube que sempre foi pioneiro no futebol feminino e que com frequência faz ações lindas em prol do combate ao preconceito. Em 2020, o Santos conseguiu manchar tantas partes de sua bonita história.
Foi neste ano que nosso time tentou contratar um condenado por estupro, na ocasião em primeira instância, sob a justificativa de ser um ídolo e se baseando na chamada “presunção de inocência”. Descobrimos também os casos de racismo dentro do clube e a permanência de conselheiro que assediou funcionária. Assistimos de perto o descaso com o futebol feminino, com a permanência do treinador que não mostrou nenhum resultado dentro de campo.
Não quero ignorar as coisas boas, mas mostrar como absurdos aconteceram no Santos esse ano, sem que medidas relevantes fossem tomadas. Se algo mudou, foi pela pressão da torcida que ficou envergonhada das atitudes do Santos, que não condizem com nossa história.
Como santista, posso falar com propriedade do Santos, mas, infelizmente, o clube está longe de ser uma exceção. Na noite de quarta-feira, 30, quando o Grêmio se classificou para a final da Copa do Brasil, ouvimos Renato Gaúcho comparando possa de bola a levar uma mulher para o motel. Sabemos que o treinador é tratado como ídolo.
Esse ano ouvimos o tão aclamado Jorge Jesus diminuir a pergunta de uma mulher e dizer que denunciar racismo “está na moda”. JJ, a gente espera que isso não saia de moda NUNCA.
Vimos as piadas, comentários toscos e homofóbicos por parte de dirigentes, como Duílio Monteiro Alves, agora presidente do Corinthians, diminuindo a camisa 24 – número do “viado” (dá até vergonha dizer que isso aconteceu em 2020, meu deus).
Isso tudo sem contar postura de tantos torcedores, que perseguiram, ameaçaram e invadiram a privacidade de jornalistas mulheres em tantas ocasiões, apenas por pensarem diferentes (muitas vezes, o problema era tentar combater o machismo).
Os exemplos são inúmeros. Acontecem em todos os clubes e eu poderia passar horas falando sobre eles. São tantos, que, às vezes, acabam passando batido. Nós, como cidadãos, não podemos perder a capacidade de nos indignarmos diante de tudo isso. O futebol não é terra de ninguém, não é espaço sem lei. A punição precisa acontecer.
Lentamente podemos notar as mudanças acontecendo. As transmissões de futebol feminino na televisão aberta e fechada, a maior presença de mulheres nas transmissões esportivas, os protestos de jogadores contra o racismo. A questão da homofobia, me parece, foi a que menos progrediu nesse período, porque o futebol ainda é um espaço de comprovação de virilidade (ai, que preguiça). Mas o caminho é longo, muito longo.
O ano, agora, será 2021. E não tem mais espaço para atitudes racistas, misóginas, homofóbicas e preconceituosas. Eles vão tentar encontrar espaço pra isso. No Santos e em todos os clubes. Cabe a nós, torcedores, não permitir que isso siga acontecendo.
Feliz 2021, torcedor. Seja qual for seu time, meu desejo mais profundo é que a instituição que você ama seja melhor e um exemplo pro mundo.
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