Na sua primeira entrevista como presidente do Santos, José Carlos Peres declarou que buscaria um técnico que tivesse o DNA do clube, que jogasse no ataque e não apenas por uma bola.
A imagem que muitos torcedores tem desse treinador é a de Dorival Júnior, que em alguns momentos, especialmente em 2016, conseguiu fazer o Santos jogar um futebol bonito e com resultados em campo. Em 2017, porém, o treinador falhou tanto na beleza quanto no desempenho e foi demitido.
Levir Culpi em nenhum momento conseguiu fazer o Santos jogar com o DNA ofensivo. Seu time se defendia muito bem, mas só atuava no contra-ataque. Assim, conseguiu uma série de bons resultados, até que o tropeço para o Barcelona cobrou o preço e o treinador foi demitido.
Jair Ventura tem apenas um trabalho em clubes profissionais, mas o que o Botafogo mostrou sob o seu comando está longe de ser o modelo dito por José Carlos Peres no seu primeiro discurso oficial. O Botafogo de Jair Ventura atuava com três volantes na grande maioria dos jogos e tinha a competitividade e o contra-ataque como suas principais características. Não era um time que tocava a bola com maestria, muito menos um time que buscava o gol a todo momento.
Muitos podem questionar que as peças que o treinador tinha a sua disposição talvez não permitissem atuar de outra forma. É uma argumentação válida, para a qual não podemos dar uma resposta por não termos outros trabalhos de Jair Ventura para usarmos como comparação.
Se o modo de atuar do Botafogo nos últimos anos for o preferido de Jair Ventura podemos dizer que o Santos errou na escolha ou o presidente desistiu do discurso da primeira coletiva. Se o Peixe jogar como o Botafogo de 2017 o torcedor não irá ver o DNA ofensivo. O time será mais próximo da equipe de Levir Culpi do que da equipe de Dorival Júnior.
E se, apesar de gostar do modelo do Botafogo, Jair Ventura tentar mudar seus conceitos também irá errar. Rogério Ceni começou a sua carreira no São Paulo com ideias modernas e ofensivas. Sofreu muitos gols no início do ano, foi muito pressionado e abriu mão dos seus conceitos para buscar um time mais defensivo. Não conseguiu jogar bem, nem resultados e caiu.
Não adianta só ouvir uma ideia e decidir utilizá-la. É preciso entender como ela funciona.
Essa questão de DNA ofensivo é complexa e relativa. Émerson Leão quando formou o time de 2002, estava preocupado com sua defesa. Conseguiu dar estabilidade com as “torres gêmeas”, muito embora André Luis fosse abaixo da média. Mas ao lado de Alex, acabou se saindo bem, se completaram. As laterais eram boas com Maurinho e Léo. Com uma boa defesa, ficou mais fácil trabalhar o ataque, mesmo com dois garotos, sendo um de “canelinha fina”. E olha que ainda nos classificamos para as fases finais na bacia da almas. Entretanto, para se ter um esquema ofensivo, primeiro é preciso ter segurança atrás, lá na cozinha. Acertando a parte defensiva, um time pode se tornar bem ofensivo.