Andres Rueda faz um trabalho de saneamento financeiro, mas sofre no futebol (Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

Fui o terceiro funcionário contratado pela Red Bull para o projeto de futebol da empresa no Brasil, inicialmente o Red Bull Brasil, que agora tornou-se Red Bull Bragantino. Em cinco anos de clube, participei de conquistas de alguns campeonatos e da perda de outros, algo que nunca me pareceu justificável pela diferença de investimento para os rivais. Vi bons gestores e maus gestores nesse período.

A experiência em clube-empresa me fez defender por muito tempo a ideia de que apenas a transformação de qualquer clube em uma SAF não era garantia alguma de resultado. Que o cenário ideal era ter uma boa gestão.

Sigo achando que virar uma SAF simplesmente da noite para o dia não garante nada, mas agora tenho a certeza de que a única salvação  para o Santos é virar uma SAF.

Explico basicamente em dois pontos:

1) O presidente Andres Rueda faz uma boa gestão. Está tentando sanear o clube, que foi arrasado pelas últimas administrações. O custo é um sacrifício muito grande no investimento no time de futebol. Em 2021, por exemplo, o clube gastou mais pagando dívidas do que com o departamento de futebol. Em uma empresa, com um investidor aliado a um trabalho administrativo eficiente, como o do presidente Andres Rueda, certamente teríamos um time mais forte e um rendimento esportivo melhor.

Sigo achando também que, mesmo com poucos investimentos, o Santos poderia ter um time e um desempenho melhor. E esse mau desempenho é um gatilho para que daqui a dois anos nós tenhamos um novo perfil de administração no clube que, pelo histórico, pode jogar fora tudo o que está tentando ser construído desde 2021.

Esse é um problema de um clube associativo. Os projetos duram três anos, no máximo.

E mesmo com uma boa administração, sem dinheiro para grandes investimentos o Santos não vai conseguir concorrer com times de maior torcida e capacidade de conseguir receitas (Flamengo, Corinthians e Palmeiras, especialmente), ou com os clubes com investimento do seu dono (Atlético-MG – mesmo sem ainda ser SAF, Botafogo e Vasco, por exemplo).

2) O Santos precisa ter um dono de verdade. Essa é uma característica muito especial do Santos, que não vejo em outro clube. Talvez pela localização geográfica. Muitas pessoas acham que são donas do Santos, que só elas sabem o que é melhor para o clube, que só pessoas próximas a eles podem trabalhar ou negociar com o clube.

O entorno santista é muito complicado. Existe ainda a cultura do quanto pior, melhor (para mim e meus amigos). Tem muita gente torcendo contra a gestão de Andres Rueda. Eu sou muito crítico, especialmente ao trabalho no futebol, mas torço muito para que tenha sucesso.

Em uma comparação com os rivais, seria como se o Corinthians tivesse “vida inteligente” apenas em Itaquera, o São Paulo no Morumbi/Vila Sônia e o Palmeiras nas Perdizes/Pompéia. Que só as pessoas mais próximas geograficamente é que podem opinar e participar da vida ativa do clube.

Percebam nas discussões sobre SAF na comunidade santista que a maioria (é bom destacar a palavra MAIORIA) das pessoas contra uma possível venda do clube são justamente essas que se consideram donas dele.

Com um dono de verdade e em um formato, de fato, profissional, esse entorno santista poderia até gritar, mas dificilmente teria voz na administração. A avaliação dos caminhos seria feita baseada apenas em performance, não em pressão, não em amizades, não em interesse político.

Meu sonho hoje é o Santos ser comprado pelo Fenway group, de John Henry (claro que ele aparece no Moneyball). Eles são acionistas do Liverpool e vejo muita semelhança entre os dois clubes. Seria um projeto sério, com investimento de origem bem conhecida e com histórico de sucesso esportivo.

Futuro é agora!

Na próxima semana, o Conselho do Santos vai se reunir para discutir mudanças no Estatuto. Não podemos mais uma vez perder o bonde da história, não podemos deixar para depois. A discussão precisa, ao menos, começar.

Sou um defensor da democracia e acho que a transformação em SAF não deve ser imposta.

Acho que o Conselho Deliberativo não é tão vilão como muitos pintam.

Espero que defensores e contrários ao clube-empresa possam apresentar argumentos sobre a posição. E que uma decisão pensando apenas no clube e não nas pessoas seja tomada.

Gigante adormecido

Não tenho dinheiro para comprar o Santos, mas se eu fosse investidor veria uma oportunidade de ouro no clube.

Como sempre digo, o Santos tem um enorme potencial de crescimento em todas as áreas. Tem a maior marca esportiva do Brasil, reconhecida mundialmente em um período de globalização.

Ainda não tem sua Arena, algo que pode trazer um incremento grande nas receitas.

Tem um DNA formador e vendedor.

Pode aumentar (e muito) o número de sócios.

Tem torcedores em todo o Brasil que precisam ter mais envolvimento (gastar mais seu dinheiro) com o clube.

Tem uma história que nem um outro clube do país tem, história essa que pode ser explorada e monetizada com produção de conteúdo.

Tem o Rei e sua corte.

Tem o maior jogador brasileiro da atualidade.

É um gigante adormecido.

Passou da hora de acordá-lo.