Nome de Marcelo Bielsa voltou a ganhar força no Santos (Crédito: Leeds United/ Divulgação)

Marcelo Bielsa, por pouco, não revolucionou o futebol brasileiro em 2013. O treinador foi procurado pelo Santos para assumiu o lugar de Muricy Ramalho, demitido pelo clube. Por vários motivos, as negociações não foram concluídas. Nove anos depois, o nome do treinador volta ao cenário santista.

O Santos abriu conversas com o técnico argentino para discutir a possibilidade dele assumir o clube em 2023. O treinador está fora do mercado desde que deixou o Leeds, da Inglaterra, no começo do ano. A diretoria do Peixe já fez dois contatos com Marcelo Bielsa. O primeiro deles aconteceu no final de semana e o segundo nesta quinta-feira.

Mas, antes da famosa negociação em 2013, o Peixe procurou Bielsa em 2011. Quem conta é Pedro Luiz Nunes Conceição, antigo Diretor de futebol do Santos em 2010/11 e membro do Comitê de Gestão do clube entre 2012 e 2013.

“Em 2013 não foi a primeira vez. Antes, no início de Março de 2011, depois da saída do Adilson Batista, e antes da negociação com Muricy (Ramalho), procuramos o Marcelo e fizemos uma Conference Call de quase 1h30. Estávamos em quatro pessoas, ele havia acabado de se demitir da Seleção Chilena. Como ocorre com todas as gestões amadoras nos Clubes Brasileiros, tínhamos pressa, a Libertadores já em andamento, o Santos correndo risco de não se classificar… Marcelo, muito atencioso, educado e didático, pediu o vídeo de todos os jogos do Clube em 2010 para poder analisar, aí depois iríamos até a sua residência na Argentina. Enfim, era uma negociação demorada. Dias depois falamos com ele, agradecemos, explicamos porque não iríamos avançar, ele ficou honrado e de certa forma foi estabelecido um relacionamento, ainda que superficial”, disse Pedro Luiz Nunes Conceição.

Dois anos depois, o nome voltou à pauta e ganhou força na Vila. A diretoria do Santos foi até Madrid e se reuniu com o treinador por cerca de cinco horas. Ele falou sobre os atletas, condições de trabalho e fez algumas exigências. Confiante, o Peixe chegou a trocar documentos para anunciar o treinador, mas declinou.

“Em Julho de 2013, com a decisão da saída do Muricy, voltamos a contatá-lo, ele estava no Athletic Bilbao e não iria renovar com o clube Basco. Tínhamos um diretor executivo, o Felipe Faro, e fui “escalado” pelo CG para acompanhar a negociação. Fizemos então um tipo “bate-volta” até Madrid e nos reunimos com Marcelo e seu auxiliar das 22h até 3h da manhã. Papo longo, todos os nomes do elenco discutidos um a um e condições inclusive financeiras colocadas na mesa. No Brasil seguimos com as tratativas, com a aprovação claro do presidente Laor e CG, avançamos, trocamos minutas, os jurídicos se falaram. Negociação que exige paciência, resiliência e que envolvia o futuro do Clube. Daríamos, em tese, uma guinada. Por duas vezes ele adiou a chegada ao Brasil, por motivos justificáveis, mas não existia total segurança da gestão (estou falando de todos da gestão, não deste ou daquele) e na medida em que as negociações avançavam, acho que o Marcelo também sentiu uma insegurança, mas ele dedicou-se muito a conhecer o clube, estrutura, referencias no mercado e elenco (assistiu vários jogos e discutiu conosco jogador a jogador várias vezes, várias), pediu mais alguns poucos dias para terminar o projeto desportivo”, comenta Pedro Luiz.

“Disse que tinha consciência que era um profissional muito caro para o clube e que ainda precisaríamos investir em três a quatro jogadores, mas que temia que uma intercorrência nos primeiros seis meses levasse a uma pressão externa insustentável para que ele assumisse o time principal e que isto arruinaria o projeto. Ele entendeu a necessidade legitima do clube de uma definição urgente, mas não abria mão de passar o segundo semestre analisando as Séries A e B, conhecendo as categorias de base, o clube, a cultura para só assumir em janeiro de 2014, enquanto seu auxiliar comandava o time profissional”, completa o ex-dirigente.

Apesar de algumas ressalvas, Pedro Luiz Nunes Conceição elogia Bielsa e vê como grande oportunidade de revolucionar o futebol brasileiro, mas em momento inadequado, pelo menos anos atrás.

“Minha conclusão: o projeto Marcelo Bielsa era sim revolucionário, mas provavelmente para um momento inadequado. O Clube (a gestão) não estava preparado (o que se repete até hoje) para o receber sem medo de ser feliz. Para finalizar, o Clube deixou passar uma oportunidade ímpar para aprender, evoluir, ser vanguarda, protagonista. O futebol brasileiro também perdeu essa oportunidade. Torço demais para que dessa vez dê certo”, completa Pedro Luiz Nunes Conceição.

Marcelo Bielsa tem 67 anos e é referência para toda uma geração de técnicos, como Pep Guardiola e Jorge Sampaoli. Ele surgiu com destaque no Newell’s Old Boys no começo da década de 90, quando conquistou o título argentino e o vice da Copa Libertadores. Trabalhou na França, Espanha, México, Itália e Inglaterra. Foi técnico da Seleção Argentina entre 98 e 2004 e conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas.