Projeto da nova Vila será votado pelo Conselho do Peixe nesta quinta (Crédito: Reprodução)

O Santos tem uma das partidas mais importantes da sua história na noite desta quinta-feira (dia 1). Desta vez, ela não será disputada no gramado da Vila Belmiro, mas no salão Vidal Behor Sion. Não teremos 11 jogadores de cada lado, mas cerca de 250 conselheiros (entre o próprio salão e o computador), em tese, do mesmo lado. O resultado do jogo pode mudar a história do clube.

Os conselheiros vão discutir e votar o projeto de parceria com a WTorre para a tão sonhada Arena do Santos. Resumidamente, a construtora buscará recursos para construir um novo estádio, com capacidade para 30 mil pessoas, ao custo de cerca de R$ 400 milhões e terá a administração da propriedade por 30 anos.

Os números precisam, é claro, de uma boa discussão. É um projeto definitivo, não é algo que se possa mudar em dois ou três anos. Mas a discussão precisa acontecer dentro de parâmetros reais, não idealizados pela paixão do torcedor.

O DIÁRIO DO PEIXE foi o primeiro veículo a noticiar as conversas entre Santos e WTorre (veja aqui) e acompanhou todas as etapas das conversas, os altos e baixos e a proposta final. O que sempre ouvimos foi que era um “projeto viável”, mas de “números apertados”. A própria gestão de Andres Rueda demorou a entender que não era uma “negociação em uma feira”, mas uma proposta de “parceria”. Os termos entre aspas foram ditos mais de uma vez durante o processo.

O que pretendo dizer com isso? Que a proposta pode (pode) não ser a perfeita, mas está muito claro que é “perfeita para o momento” e, mais importante, possível. Não adianta sonhar com algo muito diferente,que quase não tem chance de acontecer.

A Vila Belmiro tem uma história linda, que jamais será apagada, mas o clube, assim como o time, não pode viver só de passado. Precisa olhar para a frente e o torcedor de hoje, a maior parte dele, não quer apenas tradição, quer conforto, bons serviços, beleza. Isso a Vila não oferece mais.

Maracanã e Wembley, estádios icônicos, foram transformados em Arenas modernas e não perderam o seu encanto.

O Santos precisa de uma Arena que ofereça o conforto que o torcedor de hoje quer e que também gere receitas para o clube além do Matchday. Allianz Parque, também construído pela WTorre, é um exemplo de como isso pode funcionar. Até mesmo o Morumbi tem vida própria em dias sem jogos e gera receita para o São Paulo.

CONCEITO

É importante que a Arena do Santos tenha dois conceitos, de setores bem diferentes: o entretenimento e o religioso.

Um amigo, Antônio Jorge (parabéns pelo casamento), sempre me disse que a Vila Belmiro tem de ser como a Disney. É verdade. A Disney é, por exemplo, um dos principais presentes de 15 anos no mundo todo. Mesmo quem não gosta, já pensou em visitar os parques para conhecê-los. É o modelo da indústria do entretenimento.

A Arena do Santos também precisa ser a Meca do futebol, um local de peregrinação em que os torcedores precisam comparacer ao menos uma vez de tempos em tempos. É a terra onde Nasceu Pelé e a Arena precisa de um espaço onde o torcedor possa rezar e pedir “benças” ao Rei.

A localização geográfica e o perfil do torcedor do Santos (que está espalhado pelo mundo) casam demais com os dois conceitos. Assim como pessoas de todo o mundo viajam para conhecer a Disney e Meca, torcedores (não só do Santos) podem viajar para conhecer a Arena do Santos.

CAPACIDADE

Muitas das discussões sobre a Arena do Santos dizem respeito à capacidade. Para alguns, 30 mil lugares é muito, para outros é pouco. Nenhuma das duas coisas, é a ideal.

Mesmo com um desempenho pífio, o Santos teve a quinta maior taxa de ocupação de estádio no Brasileirão deste ano, mas teve uma das piores médias de público. Muito pela capacidade (e pelas cativas).

Diversos estudos pelo mundo comprovam que a média de público aumenta significativamente nos dois primeiros anos de novas Arenas. Cansei de ver jogo ou trabalhar em jogo no Parque Antárctica com 10, 12, 15 mil torcedores. A média do Palmeiras atualmente é superior a 30 mil.

Por outro lado, alguns torcedores sonham com estádio para 40, 50 mil torcedores. Foge da realidade. Não que o Santos não tenha capacidade para colocar 40 mil, 50 mil pessoas no estádio. Cansou de fazer isso no Pacaembu ou no Morumbi. Mas isso acontece em jogos pontuais e uma Arena não pode ser concebida pensando apenas em “jogos pontuais”.

Teremos muita dificuldade para colocar 30 mil torcedores na Arena em uma quarta-feira, às 19 horas, contra São Bento no Paulistão ou Goiás no Brasileirão. E muito difícil o deslocamento dos torcedores de São Paulo (local de maior concentração dos torcedores) e quase impossível o deslocamento dos santistas do interior (local de segunda maior concentração dos torcedores).

No jogo contra o Juventude, saí de São Paulo por volta das 17h30min. Peguei comboio na serra, trânsito na chegada a Santos e, mesmo com o jogo marcado para às 20 horas, perdi os dez primeiros minutos. É muito difícil para quem trabalha em São Paulo até às 17 ou 18 chegar em jogos do Santos no primeiro horário da noite.

Já li comentários de que apenas os torcedores da Baixada santista poderiam lotar a Arena em todos os jogos e muitas críticas também pela suposta baixa frequência. Dia desses fiz um estudo sobre o número total de torcedores do Santos na Baixada e de torcedores de São Paulo, Palmeiras e Corinthians na cidade de São Paulo. Nesse caso, 40 mil pessoas por jogo na Arena do Santos seria o mesmo que 160 mil torcedores em todos os jogos dos três outros grandes do Estados. Sabemos que esse número é impossível.

CONCLUSÃO

O Santos perdeu uma oportunidade de ouro de ter um novo estádio na onda da Copa de 2014. Seus concorrentes quase em sua maioria conseguiram aproveitar a chance e hoje tem uma vantagem competitiva sobre o Peixe.

Está na hora de o jogo mudar. O Santos não pode perder mais uma vez o bonde da história.