Presidente Andres Rueda recebeu o DIÁRIO nesta quinta (Crédito: Fabio Maradei)

O presidente do Santos, Andres Rueda, tem uma certeza: vai deixar o clube em uma situação financeira mais saudável do que encontrou em janeiro de 2021. Nesta quinta-feira, o dirigente recebeu o DIÁRIO DO PEIXE em sua sala no CT Rei Pelé e abriu os números do clube. Com uma apresentação que já foi mostrada ao Conselho Deliberativo e algumas planilhas, Rueda detalhou o “caixa” do Peixe (ele evita falar em dívida) em uma conversa de cerca de duas horas.

“Contabilidade é contabilidade e caixa é caixa. Superávit não paga conta. Se eu contrato um jogador com salário de R$ 1 milhão por 36 meses, contabilmente eu tenho uma dívida de R$ 36 milhões. No caixa, não. Isso é uma despesa recorrente. A dívida não existe porque eu posso vender o jogador com um ano”, argumentou Rueda.

De acordo com os números apresentados pelo dirigente, o Santos precisa de R$ 198 milhões (ou menos) para quitar as dívidas com clubes, Profut, Bancos, Fornecedores a contingências trabalhistas. Em todos os casos, os valores estão parcelados em médio ou longo prazo ou em negociação. Nos três anos de gestão, Rueda quitou R$ 431 milhões nesses casos.

“A gente recebeu o clube falido, quebrado. O que foi feito no Santos foi criminoso. Tínhamos contas bloqueados, os patrocinadores depositavam as receitas em juízo. Tinha transferban da Fifa. Hoje está equalizado. O trabalho sujo foi feito. Agora é só não fazer besteira”, afirmou o presidente.

Dos R$ 431 milhões pagos na atual gestão, R$ 69 milhões foram de ações que corriam na Fifa e poderiam gerar Transferban, casos como Felipe Aguilar no Atlético Nacional e Bruno Henrique no Wolfsburg e Barcelona (prioridade de Gabigol). Nesse quesito, o Santos ainda precisa quitar R$ 22 milhões com o Krasnodar pela contratação de Cueva. Os clubes seguem negociando.

De execuções judiciais (de administrações anteriores), o Santos quitou R$ 191 milhões. A dívida nesse caso ainda será de cerca de R$ 35 milhões em janeiro de 2024. Só da negociação de Neymar o Peixe pagou R$ 17 milhões para a agência tributária da Espanha, por exemplo. Jorge Sampaoli recebeu R$ 6 milhões e Dorival Jr recebeu R$ 4 milhões durante a gestão. O volante Jean Lucas recebeu um valor de R$ 1 milhão por uma dívida referente a sua primeira passagem pelo clube.

De dívidas tributárias (Profut, FTGS, INSS) o Santos ainda precisa pagar R$ 43 milhões. Segundo o Rueda, o Profut estava cancelado quando ele assumiu por cinco parcelas em atraso. Hoje o programa está em dia, assim como Fundo de Garantia. A dívida com Imposto de Renda foi parcelada em 145 parcelas e com o INSS em 60 parcelas.

“Ficou uma situação administrável”, justifica Rueda.

O Santos ainda quitou R$ 48 milhões de dívidas extrajudiciais que ainda não estavam em execução (cerca de R$ 4 milhões para o técnico Jesualdo Ferreira, por exemplo). O clube ainda precisa pagar R$ 1,1 milhão de comissão da transferência de Lucas Veríssimo, além de R$ 67 mil de Felipe Jonatan.

Ainda de acordo com Rueda, o clube conseguiu o regime de centralização de dívidas e gerou um montante de R$ 95 milhões, dos quais R$ 70 milhões ainda estão aberto. O Santos tem de pagar até 4% da receita recorrente para os acordos. Se tiver dinheiro em caixa, o clube pode chamar os fornecedores e negociar descontos para pagamento antecipado.

Em relação aos empréstimos, o Santos pegou R$ 18 milhões com o BMG, mas o valor estará liquidado até o final do ano, de acordo com Rueda. O clube também fez um leasing no Banco Mercantil para a troca dos refletores da Vila e compra de computadores, que estará praticamente liquidado em dezembro.

O Santos também pagou neste ano a dívida com o próprio presidente Andres Rueda pelo empréstimo para o pagamento ao Hamburgo pela compra de Cléber Reis, realizado em 2020. O dirigente emprestou R$ 11,7 milhões para o pagamento ao clube, além de R$ 3,8 milhões para quitar os tributos da negociação. Com juros e multa, o valor chegou a R$ 25,2 milhões. Rueda abriu mão de R$ 5 milhões e recebeu R$ 20 milhões (valor do empréstimo + correção pela selic).

Apesar de ter recebido o valor do empréstimo do caso Cleber Reis, Andres Rueda ainda será credor do clube após deixar o cargo. Ele foi um dos cinco torcedores do Santos que levaram investimentos para o Banco Safra para garantir empréstimos ao clube com taxas melhores do que as de mercado. O clube chegou a pegar R$ 50 milhões, já pagou R$ 23 milhões e terá de pagar R$ 27 milhões, em 30 parcelas. O avalista desse empréstimo é o próprio presidente.

Neste número, não estão computados 10,5 milhões de Euros (cerca de R$ 55 milhões) referentes a jogadores contratados nesta temporada, como Soteldo, João Basso e Jean Lucas. Nenhuma parcela está em atraso. O clube já quitou os US$ 1,6 milhão referentes ao meia Carabajal (foram seis parcelas) e discute um acordo com o Vasco pela compra de Nathan.

“Para mim isso é despesa corrente. Posso vender o Jean Lucas amanhã. Aí distorce todo o entendimento do que é dívida”, afirmou.

Para o fluxo de caixa do próximo ano, Andres Rueda garante que não antecipou qualquer cota. Então, ele aponta que o próximo presidente começará 2024 com R$ 30 milhões a receber da Federação Paulista pela cota do Paulistão. E com Marcos Leonardo, que ele comemora ter segurado no meio do ano apesar de forte pressão da Roma. O técnico José Mourinho chegou a ligar para o atacante e a badalada agente Rafaela Pimenta foi ao CT Rei Pelé e sentou à mesa com o dirigente.

Marcos Leonardo ficou e segue como artilheiro do Santos na temporada e no Campeonato Brasileiro, mas existe um compromisso de vendê-lo na próxima janela se o clube receber uma proposta de valores superiores ao que recebeu neste ano.

“Chega uma hora que você precisa falar chega! Eu aceito pressão até onde eu quero. Tenho contrato com ele até 2026”, afirmou.

Para o torcedor, Andres Rueda virou um “pagador de boleto”. Os R$ 431 milhões pagos em dívidas são um montante maior do que o clube investiu no futebol nos três anos de gestão. O resultado foi lutas contra o rebaixamento, eliminações precoces em competições mata-mata, goleadas em clássicos, entre outras coisas. Mas o presidente não se arrepende.

“De maneira alguma. O clube estava quebrado. Quando o paciente entra na UTI, o médico vai para os sinais vitais. É assim que uma situação de crise é tratada. Naquele momento, era deixar o Santos respirar”, afirmou.

Além de “pagar os boletos”, Andres Rueda comemora chegar ao momento final da sua gestão sem ter recebido qualquer acusação de dolo, fraude, roubo. Algo básico, mas pouco recorrente no clube nas últimas gestões. Comparado com os ex-presidentes Eduardo Bandeira de Mello, do Flamengo, e Paulo Nobre, do Palmeiras, no início do mandato, o dirigente acredita que ele e os dois nomes citados fizeram (ou tentaram fazer) apenas o mais simples.

“O que o Paulo Nobre, o Bandeira, o Rueda fizeram ou estão fazendo não tem nada de genialidade. É o que tem de ser feito. É ser honesto. O pessoal só lembra que honestidade é virtude quando tem o desonesto. No futebol, infelizmente, o desonesto é uma regra. Depois é reduzir despesas e aumentar receita. Colocar ordem, colocar regra. Hoje tem treino aqui e não tem empresário, não tem conselheiro assediando jogador, não tem ninguém vendendo joia. A gente isolou. Todos os processos do clube estão no papel”, afirmou.

Andres Rueda, mais uma vez, garantiu que não será candidato nas eleições de dezembro deste ano. Em janeiro de 2024, pretende voltar a dormir às três horas da madrugada, acordar às 11 horas, passar mais tempo na casa no Guarujá, que não visita há três anos, e tomar uma caipirinha de vodca aos sábados pela manhã.

Vou ter a minha vida de volta“, encerrou.

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