Jair Bolsonaro estará na Vila Belmiro neste sábado para assistir ao clássico entre Santos e São Paulo. Foi o presidente quem pediu para acompanhar o jogo, o convite não partiu do Santos e acho que é importante relembrar isso.
Eu entendo e estou com a parte da torcida que está revoltada com isso.
Como o Santos, que faz campanha contra racismo e diz que pessoas preconceituosas não devem ir a Vila, permite a presença de alguém com opiniões como as de Bolsonaro no estádio?
Tudo isso é totalmente incoerente.
Mas, como jornalista, não só torcedora, acho importante olhar por outro lado. Faz sentido uma instituição se recusar a receber o presidente da República?
Falei com a cientista política Deysi Cioccari para entender melhor a questão. Na visão dela, o Santos receber o presidente não quer dizer que o clube corrobore com as opiniões de Bolsonaro. Aceitar a presença do presidente seria respeito à liturgia do cargo.
A grande diferença é o que o Santos fará em relação ao presidente dentro do estádio é determinante. Segundo Deysi, a maneira correta de tratar Bolsonaro é com formalidade e educação. Um aperto de mão e só.
Entendo que incomode a muitos e que seja incompatível com a história do clube, mas, até o momento, vivemos em uma democracia e Bolsonaro foi eleito. E democraticamente aceitamos o resultado – essas palavras são de Lula, não minhas.
O que temo, no entanto, é que haja um show. Bolsonaro não precisa ser convidado para sentar com o presidente do Santos, ganhar camisa (se Peres der a 3 será a coroação do show de horrores), ou ser anunciado nos auto-falantes do estádio. Não precisa de nada disso. Presidente pediu para ir? Ok. Mas não precisa e não deve ser a atração principal, apenas mais um espectador. Deixar com que ele vá é respeito ao cargo. Não exaltá-lo é respeito à torcida, na qual ele não é unanimidade – longe disso.
O protesto, a oposição, cabe à torcida. É muito relevante politicamente ver as organizadas se posicionarem contra o assunto e serem contra. Sábado é dia de Vila Belmiro lotada, de alçapão, de clássico. E tenho certeza que cada um que estiver lá e for contra o presidente, fará valer a oposição.
Sobre Sampaoli, que não está satisfeito com a ida do presidente ao estádio, ele não será o único. E espero que a vontade dele de não deixar Bolsonaro ir ao vestiário seja respeitada. O treinador santista não quer contato é direito dele. Quero acreditar que a presença no estádio não seja determinante para Sampaoli ficar ou não, mas os acontecimentos no dia podem ser.
Peço apenas, de coração, para que deixem Pelé fora dessa. Nada disso de ficar querendo dizer que Pelé apoia Bolsonaro. Isso não existe. Respeitem Pelé e a história do Santos. Parem de querer colocar palavras na boca dele.
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