Texto de Fernando Ribeiro para o DIÁRIO DO PEIXE
Pelé e sua turma transformaram o Santos no maior time da Terra. Pararam guerras, visitaram os quatro cantos do mundo e criaram o mito que perdura até hoje. Somos o time brasileiro mais reconhecido no exterior. O mágico time que encantou o mundo, surgiu pouco mais de 40 anos depois da fundação do Peixe. Pouco tempo antes de esses grandes jogadores chegarem, a torcida santista vibrava com os gols de Odair, o Titica.
Esquecido pelas novas gerações, Odair marcou 135 gols em 223 jogos disputados – média superior a um gol a cada dois jogos. Quando a geração de ouro das décadas de 50 e 60 surgiu, era o quinto maior artilheiro da história do clube, ficando atrás apenas de Feitiço, Araken Patusca, Camarão e Antoninho, este último seu companheiro. Na lista atual, é o 14º que mais balançou as redes com o manto alvinegro. Odair marcou mais gols do que muitos ídolos da torcida, como Robinho, Serginho Chulapa, João Paulo e Juary.
Batizado Odair dos Santos, nasceu em Santos, no ano de 1925. Na infância, o futuro craque vendia jornais nas ruas do centro da cidade, uma maneira de complementar a renda de sua família. Ingressou no clube muito jovem, depois de participar das “Manhãs Esportivas”, torneios com jovens que serviam como forma de peneirar os que tinham qualidade para chegar ao quadro principal.
Nas divisões inferiores, Odair foi destaque nas campanhas vitoriosas do campeonato santista amador em 1940, 1941 e 1942. No ano seguinte, então com 18 anos, fez sua estreia entre os profissionais, em vitória por 5 a 1 sobre um combinado de jogadores do Jabaquara e da Portuguesa Santista. Naquele mesmo ano, 1943, participou de mais cinco partidas, marcando três gols – o primeiro deles também em um amistoso (2 a 2 diante do Rio Claro, fora de casa).
Nos dois anos seguintes, disputou 26 jogos e marcou apenas quatro gols. Não conseguiu se firmar na equipe principal. A sorte de Odair muda em 1947, quando consegue maior sequência de partidas – disputa 26 jogos naquele ano. Com a posição de titular assegurada, apurou o faro de gols: em 1948, foram 20 deles. Cinco marcados em uma mesma partida, contra o Comercial, de São Paulo, em Vila Belmiro. Na vitória santista por 5 a 4, Odair marcou todos os gols do Peixe.
O apelido de Titica, recebido ainda nas categorias de base pelo físico acanhado, acompanhou-o durante a vida toda. Entre 1948 e 1951, foi o artilheiro do time no ano, marcando 100 gols neste período. Junto a Antoninho e Nicácio, formava um trio espetacular, que por muito pouco não colocou fim ao jejum de títulos no Paulistão – o último (e único) havia sido em 1935. Foi titular absoluto nas campanhas que resultaram no vice-campeonato paulista em 1948 e 1950. Odair é o autor do gol 3.000 da história do clube, marcado no empate frente ao XV de Piracicaba, em dezembro de 1950. Em 1951, teve o seu melhor desempenho com a camisa do Santos, marcando 35 gols em 50 jogos.
A boa fase despertou o interesse dos clubes da Capital e o Palmeiras não mediu esforços para contratá-lo. Em abril de 1952, Odair encerrava sua trajetória em Vila Belmiro. No clube alviverde, não conseguiu reeditar suas ótimas atuações e logo perdeu espaço entre os titulares. Em sua primeira visita à Vila Belmiro como adversário, em 1952, foi derrotado por 4 a 0. Em pouco menos de dois anos, foi emprestado à Ferroviária, de Araraquara, onde jogou apenas oito jogos – com dois gols marcados. De volta a sua terra natal, atuou no Jabaquara antes de pendurar as chuteiras. No Leão do Macuco, voltou a fazer trio com Antoninho e Nicácio, porém a idade avançada e a fragilidade do restante da equipe fizeram com que não tivessem o mesmo sucesso de outrora.
Pelo Santos, Odair não conquistou o sonhado título paulista – objetivo que o clube só alcançaria três anos depois de sua saída. Foi campeão de quatro competições, porém todas sem a mesma projeção:
– 1948, campeão da Taça Cidade de Santos
– 1948, campeão da Taça das Taças
– 1949, campeão da Taça Cidade de São Paulo
– 1950, campeão do Quadrangular de Belo Horizonte
Como era comum na época, quando encerrou sua carreira não reunia condições financeiras que o permitissem parar de trabalhar. Por anos atuou como estivador no Porto de Santos. Depois, ainda trabalhou como vendedor de artigos esportivos em uma das mais tradicionais lojas do ramo à época. Odair faleceu em 1996 em sua amada cidade de Santos.
Muito boa matéria realmente não conhecia Odair.