O Santos é um clube dividido. É dividido entre santistas de Santos e santistas de São Paulo, dividido entre famílias que sempre se serviram do clube (e dividido até mesmo dentro de algumas dessas famílias), dividido em dezenas de grupos políticos, que normalmente se aliam em época de eleição em projetos apenas de poder.
Diante desse cenário, nenhum clube sofre tanto com “fogo amigo” quanto o Santos. A gestão atual é um grande exemplo, com presidente e vice que não se falam, com um trabalhando contra o outro desde o início do mandato (é exemplo, mas o problema não é exclusivo dessa gestão).
Com o presidente, um santista de São Paulo, chamando a Vila de “puxadinho” no início do mandato e pregando o “choque” e não a união na divisão de jogos entre Vila e Pacaembu (depois percebeu a besteira e tentou amenizar o discurso). A posição do DIÁRIO, só para deixarmos claro mais uma vez, é a de que o Santos precisa jogar nos dois estádios, mas sempre com 70% de ocupação.
Nessa atual gestão também existe uma divisão entre a diretoria executiva, o Comitê de Gestão, liderado pelo presidente José Carlos Peres, e o Conselho Deliberativo, liderado pelo presidente do órgão, Marcelo Teixeira.
Ao menos é o que o próprio CG tenta mostrar para a opinião pública.
Nesta quinta, o Comitê de Gestão (do Santos) usou os canais oficiais do clube (Santos) para questionar o Conselho Deliberativo (do Santos). E não foi a primeira vez.
Parece piada, mas não é.
O Santos consegue criar as próprias crises.
Alguém imagina uma área da Coca Cola, por exemplo, publicando no site oficial da empresa uma nota questionando o trabalho de outra área da própria Cola Cola?
Aqui nem estou discutindo o mérito do assunto em questão (o parecer da CIS pedindo o impeachment do presidente pelas contas reprovadas de 2018).
A discussão é sobre procedimentos.
O caso será votado pelos conselheiros na segunda-feira (ou não, porque o CG já entrou com pedido de liminar para barrar a votação). Não havia a necessidade de uma carta aberta ao público. É um procedimento interno do clube. Se passar no Conselho, o processo de impeachment vai para os sócios. Aí, o CG poderia se explicar publicamente.
A divulgação é estratégica. A imagem do presidente José Carlos Peres talvez só não esteja mais desgastada que a do próprio Conselho, visto, erroneamente, por parte dos santistas, especialmente os mais jovens, como um local “apenas” de velhinhos ultrapassados que não pensam no Santos.
Esse Conselho tem quase 25% dos seus membros que faziam parte da chapa de José Carlos Peres.
A divisão enfraquece o comando diante dos comandados. Nos últimos anos, tivemos “crises” geradas por entrevistas de “colaboradores”, outra coisa impossível de ser pensada no “mundo Coca Cola”. Tivemos reclamações de Cuca, Sampaoli, Paulo Autuori, Marinho, entre outros.
Nesta semana, foi a vez de Lucas Veríssimo utilizar a TV e a imprensa para discutir problemas do Santos. Muitos torcedores reclamaram da postura do zagueiro de não resolver a questão internamente, o Comitê de Gestão ficou incomodado com as cobranças e o próprio presidente José Carlos Peres, em entrevista à Gazeta Esportiva, disse que o assunto seria resolvido internamente.
Agora eu pergunto: como cobrar jogadores e técnicos para que os assuntos sejam resolvidos internamente se o próprio Comitê de Gestão joga as m. do clube no ventilador?
Essas cobranças públicas por parte dos funcionários dão a ideia de que o presidente não cumpre com o que foi combinado ou que o presidente desaparece na hora em que é cobrado. Os funcionários fazem isso para que o presidente apareça e de um posicionamento sobre o assunto. Ou seja, parece que os funcionários não confiam nas palavras do patrão.