Como uma peça de teatro, o futebol é um espetáculo. Tem atores competentes, uma história com começo, meio e fim, tem dias e horários de apresentação, tem ingressos pagos e, mais importante, é dependente de uma plateia.

A Vila Belmiro é um dos estádios mais antigos do Brasil, o melhor jogador de todos os tempos fez sua carreira naquele gramado. Eu não vi o melhor do mundo jogando, não tive essa honra. Mas por anos eu ouvi entrevistas de Rogério Ceni, Marcos e vários outros gigantes do futebol falando que o nosso Urbano Caldeira era o cenário mais difícil para jogar. Imaginar aquilo é fascinante. Aquela pressão, aquele olho no olho com o time adversário, éramos temidos, o time poderia estar em má fase, mas a Vila sempre cumpria com a sua parte.

Meu sonho era conhecer a Vila Belmiro e ver ao vivo e a cores onde tudo aconteceu, o lugar que transformou um simples time de uma cidade litorânea em um gigante do Estado. Clássicos são jogos de equipes da mesma cidade, são times rivais que brigam pela devoção de espectadores do mesmo território, mas aquele alvinegro era grande demais e, mesmo a uma hora de distância, deu peso à sua camisa e impôs respeito.

Sinto que às vezes nós, santistas, nos esquecemos um pouco de quem somos. As pessoas nos chamam de time pequeno e de certa forma nos apequenamos, todo mundo diz que não temos torcida e que ninguém mais vai aos estádios e, de certa forma, nós também estamos tomando isso como verdade. O caldeirão, que antes dava medo, agora é motivo de piada.

10 de dezembro de 1995. Semifinal do Campeonato Brasileiro. Santos 5 x 2 Fluminense. Só eu sei quantas vezes ouvi essa história… Nem Os três porquinhos foi tão marcante na minha infância quanto esse jogo. “A ida foi 4 a 1, eu achei que o jogo estava perdido, achei que ninguém ia ao estádio. Mas, quando eu cheguei lá, o Pacaembu estava lotado…”. Eu tinha oito meses naquele episodio, mas é de arrepiar ouvir meu pai contar. Fico me perguntando se o Santos teria forças para virar esse jogo nos tempos de hoje.

Visitei a Vila pela primeira vez em um pacato 1 a 0 sobre o Corinthians. Confesso que fiquei decepcionada. Não havia bateria, não havia muito barulho, eu mesma conseguia ouvir meus gritos na arquibancada… Andando pela cidade as pessoas me viam com a blusa do Santos e por um momento foi incrível, porque eu me senti pela primeira vez em um ambiente onde a maioria era santista, mas, por outro lado, as pessoas me davam desculpas para justificar por que não iriam ao jogo naquela tarde. Eu não perguntei para ninguém suas razões, eu nem os conhecia, mas muitos fizeram questão de me explicar.

Gabriel já pediu por mais público, seu requerimento não foi ouvido. Contra o Santo André, pouco mais de seis mil pessoas. Muito frio? Muito calor? Tarde ou cedo demais? Qualquer problema é desculpa. Eu entendo que é irritante ver um 1 a 1 feio, ou se molhar na chuva por uma derrota, mas ninguém disse que seria fácil.

Estamos esperando os jogos “grandes”? Os três pontos contra Santo André, Bragantino ou São Caetano são os mesmo três pontos disputados contra o Palmeiras ou o São Paulo. A fase de mata-mata da Libertadores nunca vai chegar se não passarmos da fase de grupos.

Temos de parar de acreditar que somos a quarta força do Paulista, e nos colocarmos como a 12ª força em campo. A Vila mais famosa do mundo pede socorro. O caldeirão está com saudades de nós. Sinto falta de sermos temidos. Sinto falta de intimidar o adversário. Sinto falta daquele 1995 que nem presenciei.

Santista da Capital ou santista de Santos, isso é o que menos importa. O importante é o escudo no nosso peito e o apoio que temos de dar ao clube.