Apaixonado pelos Meninos da Vila, o torcedor do Santos tem uma frase sempre na ponta da língua para falar sobre as categorias de base do clube:
“A base sempre salva”.
Embora seja uma verdade histórica, a frase tem um erro conceitual, que todos os pré-candidatos que prometem grande investimento na base ou os torcedores/conselheiros que invadem Lives para reclamar quando outros assuntos são discutidos precisam entender: a base não tem de salvar o Santos, mas tem de ser uma vantagem competitiva.
Para isso, o clube tem, necessariamente, de melhorar a geração de receitas em outras áreas.
O torcedor também está acostumado a dizer que o Santos teve uma receita de mais de R$ 1 bilhão em vendas de jogadores nos últimos dez anos e questionar onde foi parar o dinheiro.
É simples, “a base salvou”.
O dinheiro foi usado para pagar contas do clube porque a receita com outras iniciativas não foi suficiente.
Claro que o Santos precisa investir nas categorias de base. Melhorar a estrutura física, aumentar o investimento em scouts e captação, melhorar o trabalho na área pedagógica e social, etc.
O clube já tem mais facilidade para atrair jogadores justamente pelo histórico de dar espaço aos garotos formados no clube (isso é um grande ativo no mercado).
Mas só investir na base não vai resolver os problemas do clube, nem dar uma vantagem competitiva ao Santos.
No orçamento enviado pelo Santos ao Conselho no ano passado, o clube projetava uma receita de R$ 351 milhões para 2020, sendo R$ 171 milhões em receitas extraordinárias, que são, basicamente, vendas de jogadores. Ou seja, quase 50% do orçamento poderia vir das categorias de base e nem assim a receita do clube seria competitiva (em 2019, oito clubes faturaram mais do que R$ 351 milhões, inclusive o Santos).
O Peixe teve um faturamento interessante em direitos de TV em 2019 (cerca de R$ 110 milhões), mas ficou muito abaixo do potencial em programa de sócios, bilheteria, licenciamento, patrocínios, etc.
Os principais clubes do mundo tem uma divisão muito parecida nos três pilares de receitas recorrentes: direitos de TV, marketing e Matchday.
O Santos teve quase 60% da receita com TV. Com Matchday (sócios + bilheteria), o clube tem apenas R$ 24 milhões, ou seja, 15% do total (foi apenas a 13ª equipe no ranking de receitas com Matchday). Com marketing, foram R$ 23 milhões, também cerca de 15% do total (ficou atrás de Bahia e Fortaleza no ranking).
Apenas como um exercício. Se os R$ 110 milhões de direitos de TV representassem 40% das receitas recorrentes do Santos, um percentual próximo do ideal, o valor total das receitas tradicionais já subiria para R$ 275 milhões.
Com os R$ 171 milhões previstos em receitas extraordinárias no orçamento, o faturamento do clube subiria para R$ 446 milhões. O Santos seria o terceiro faturamento do país em 2019 com esse total.
Trabalhar com geração de receita de Matchday, marketing, sócios, licenciamento dá muito trabalho. Precisa de uma equipe competente, de um investimento do clube, leva tempo. Por isso, o processo tem de começar logo.
Quando tiver uma receita recorrente decente, o Santos vai poder usar as receitas extraordinárias com vendas de atletas para investir ainda mais em estrutura e captação para as categorias de base e o processo vira um círculo virtuoso.
Sem aumentar as outras receitas, a base sempre vai “salvar o clube”.
E, como mostrado, não é o ideal.
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