Marcelo Teixeira voltou ao Santos como presidente do Conselho Deliberativo (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

Marcelo Pirilo Teixeira foi presidente do Santos por um total de 12 anos (entre 1992 e 1993 e entre 2000 e 2009) e, mesmo depois de ter saído do cargo, nunca deixou de ser uma figura influente no clube. No fim do ano passado, retornou formalmente ao Peixe como presidente do Conselho Deliberativo, mas ele jura que não deseja mais do que isso. Aos 53 anos, Teixeira diz não ter tempo nem disposição para retornar ao comando do Santos.

Nesta semana, o presidente do Conselho Deliberativo recebeu a reportagem do DIÁRIO DO PEIXE e o colunista Vágner Frederico para falar sobre o momento do clube. Em mais de uma hora de conversa, opinou sobre o começo de mandato do presidente José Carlos Peres, comentou o trabalho de Modesto Roma Júnior, ex-presidente que chegou ao poder com seu apoio, e revelou o desejo de ver um de seus herdeiros, Marcelo Teixeira Filho, atualmente com 21 anos, na presidência do Peixe no futuro.

Leia a seguir a primeira parte da entrevista exclusiva com Marcelo Teixeira:

O que é mais difícil, ser presidente do Conselho Deliberativo ou presidente do clube?

Sem dúvida a presidência do clube é mais difícil. Exige uma dedicação maior do que você assumir um órgão como o Conselho. A parte executiva dá um trabalho maior, foi até por isso que eu me convenci a mais uma vez tentar ajudar o clube neste momento. Havia novamente um movimento forte para que eu retornasse ao clube, então tentamos de algumas formas criar alternativas, como o quadro associativo e o apoio ao Modesto.

O Modesto cumpriu bem aquilo a que o grupo se propôs, que era equacionar e sanear parte das dívidas do clube, e foi além também porque a equipe foi bem em campo.

Existem muitos grupos hoje e alguns deles nem estão preocupados com a preservação da imagem do clube. Então eu coloquei meu nome para a disputa do Conselho porque eu entendia que no Conselho eu teria um tempo para me dedicar, eu imaginei até que tivesse menos trabalho, mas isso faz parte. É uma experiência diferente, pois estou acostumado a executar, e não a legislar.

Qual é o problema mais urgente a ser resolvido no Santos?

O clube vive uma fase importante, de recuperar aquilo que o Santos perdeu muito nos últimos anos. Perdeu demais em termos da evolução em estrutura, patrimônio, até então o Santos tinha o melhor CT, estava com planos de investir no CT Meninos da Vila, que é um caminho importante e fundamental para que o Santos mantenha a diferença para os outros clubes, mas o Santos não investiu o suficiente para o padrão de um dos grandes clubes do Brasil. Apesar de que essa não é a minha função, mas no que a gente puder ajudar… A Vila parou de se modernizar, dar segurança, conforto, os projetos pararam. Acho que algumas coisas precisam ser recuperadas para que o Santos volte a ter uma estrutura à altura dos demais clubes, principalmente dos grandes de São Paulo.

E qual papel o presidente do Conselho pode exercer nisso, uma vez que quem tem a caneta é o presidente do executivo?

Pouco. Nós não temos essa responsabilidade, nem a função, de adotar essas medidas. Mas sempre que possível, nesses contatos, a gente se conseguir passar…

Teixeira ao lado do presidente José Carlos Peres (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

Mas sendo o senhor quem é, é mais fácil? Como está a relação com a atual diretoria?

Acho que isso vai depender muito mais da parte do Comitê Gestor do que propriamente da nossa. Eu tenho um estilo mais agregador e sempre procurei trazer, independentemente de correntes políticas, o máximo para que pudéssemos conversar e dialogar com ex-presidentes, funcionários, familiares, mesmo que eu soubesse que havia diferenças de pensamento. Hoje a gente percebe que tem de ter muito cuidado, uma coisa é eu fazer um pronunciamento como torcedor, outro é fazer um depoimento como ex-presidente, e agora como presidente do Conselho. Eu sou muito autêntico e transparente, mas tenho me policiado um pouco até por entender que a atual gestão vem tentando implantar uma nova filosofia e a gente tem de dar tempo para ver se todas essas mudanças que estão sendo feitas darão realmente resultados no futuro. Mas nunca fui consultado em nenhum momento.

Acho que os dois poderes devem ser harmônicos. Não estamos aqui para dificultar ou criar problemas, pelo contrário. O intuito é ajudar.

Como você vê a maneira de trabalhar do presidente Peres, fazendo uma transformação no quadro de funcionários, inclusive demitindo ídolos do Santos como Clodoaldo. O senhor acha que isso era necessário?

Houve uma proposta nítida desse grupo. Acho que nós temos de respeitar, até porque é uma vontade do quadro associativo, que foi às urnas e votou nesse grupo entendendo que as propostas apresentadas eram as melhores. Se você fizer uma análise, e eu não quero traçar comparativos, mas um exemplo: na nossa administração, quando assumi, em 2000, havia muitos funcionários que pertenciam à administração anterior. O que fizemos? Demos um prazo de dois ou três meses para que pudéssemos fazer uma avaliação. Óbvio que a realidade daquele momento, acredito eu, não seja talvez a de hoje pelo número de funcionários que se estima que há hoje. Mas o que fiz? Determinei que fizéssemos uma avaliação para que não cometêssemos nenhuma injustiça.

O senhor acha que faltou isso a essa administração?

Talvez seja um fator a ser discutido ou analisado no futuro. Você avaliar isso hoje é precoce. Porque eu acho que se você tem o perfil de um profissional como Juary, ou Clodoaldo, mas a substituição seja por profissionais tão bons ou até melhores, é difícil, mas pode ser, você tem de respeitar. O pior é se for o contrário. Acho que é válido dentro do propósito da gestão. Agora, o resultado prático disso a gente só vai perceber depois de implantada essa metodologia e com os resultados do trabalho desenvolvido pelos profissionais.

O Modesto diz ter feito um trabalho importante de saneamento de dívidas do clube. O Peres, por outro lado, afirma que o Santos está falido. Quem está com a razão?

É só avaliarmos o balanço. Você vai notar contabilmente como o Santos estava naquele momento (início de 2015). Não só contabilmente, existia uma série de outras questões que teriam de ser resolvidas durante o processo e o Modesto, corajosamente, conseguiu, se não resolver integralmente, ao menos equacionar essas dívidas. Agora assumiu um novo grupo, eles tomaram posse e viram uma situação financeira que continua séria. O clube continua com graves problemas financeiros, que historicamente nós sempre tivemos. Isso também não é algo particular do Santos hoje, mais de 90% dos clubes brasileiros se encontram em dificuldades.

O que a sua administração deixou de mais importante para o Santos?

Bom, eu peguei os recursos nossos, aos quais depois tive de fazer um suplemento (risos), e a prioridade era o futebol. Eu não poderia pensar em outra coisa a não ser o futebol. Não basta você fazer uma semana de administração perfeita, saneando dívidas, equacionando, se você não consegue o resultado dentro de campo para obter o fôlego necessário… Eu estou lançando um livro agora e lá tem os documentos todos que eu guardava. O livro é sobre a minha vida esportiva, desde o que me levou a ser torcedor do Santos até 2002, então lá tem coisas como os rascunhos do CT, que não eram divulgados na época, pois se fossem seria uma cobrança a mais. Sofremos, mas conseguimos fazer a transformação nesse processo. Gradativamente foram implantadas as coisas que a gente tinha imaginado. Acho que esse tipo de planejamento falta aos clubes brasileiros. Apesar de o Santos ter sido criticado por ter permanecido tanto tempo com um mandatário só, foram tempos em que o clube se transformou, houve uma metodologia que deu certo e o Santos colhe esses frutos até hoje. O livro deve sair em junho, só não tem o título ainda, quero convidar (para o lançamento) os atletas de 2002, a comissão técnica, os juízes, tem 400 e poucas páginas. Depois vamos lançar outros.

A presença do senhor no Conselho Deliberativo é o máximo que o senhor se vê no clube hoje? Não se vê como presidente do executivo de novo?

É o limite. Não me vejo.

Olhando para o futuro, você sonha em ver seu filho (Marcelo Teixeira filho) como presidente do Santos um dia?

Bom, sonho… Pelo que a gente passa no Santos, a gente fica preocupado. O Santos tem as grandes alegrias e os grandes dissabores, que são momentos delicados. O Marcelinho é diferenciado. Alguns dizem que vai colocar o avô e o pai no bolso, e eu concordo. Aqui no Santos ele ainda está engatinhando. Acho que vai depender mais dele do que de mim. Deixo muito à vontade. Em 2014, naquele processo eleitoral, o Modesto carregou muito o Marcelinho para o Pacaembu. Eu pensei que naquele momento ele fosse se envolver mais na vida do clube, mas não. Então acho que tudo tem o seu tempo, ele está estudando, trabalhando, ele está no Conselho, convivendo mais conosco. Está em um caminho bom, vai chegar lá, tem uma boa escola.