Pepe costuma dizer, entre risos, que é o maior artilheiro terráqueo da história do Santos – afinal, ele afirma que Pelé veio de Saturno e, portanto, não conta. Nascido em Santos e criado na vizinha São Vicente, o descendente de espanhóis José Macia chegou ao clube aos 16 anos com um sonho modesto, o de fazer uma carreira decente no futebol, mas conseguiu muito mais do que isso: tornou-se integrante do maior time do mundo e um mito alvinegro, o eterno Canhão da Vila.
Mesmo jogando na ponta esquerda, onde tinha como função prioritária colocar a bola na cabeça do centroavante, Pepe marcou 405 gols em 741 jogos pelo Santos – nesse último item ele também só é superado por Pelé, o de Saturno. A quantidade de títulos com a camisa do Peixe é tão grande que ele perdeu a conta, e olha que Pepe é bom de conta. E de memória, tanto que se lembra com detalhes do início de seu caso de amor com o clube.
“O Santos tinha um jogador chamado Del Vecchio que era muito meu amigo, o apelido dele era Mimi, e um goleiro chamado Cobrinha, que jogava comigo na várzea de São Vicente”, contou Pepe, que está com 82 anos, ao DIÁRIO DO PEIXE em uma entrevista no Memorial das Conquistas. “O Cobrinha veio fazer um teste no clube, agradou e me chamou. Fiz o teste aqui na Vila, e marquei um gol. O treinador era o Salu, que também era massagista e trabalhava em uma casa funerária. Às vezes ele vinha treinar o time com um defunto dentro do carro. Ele estacionava na porta do estádio, dava o treino e depois ia embora com o defunto”, recorda ele, aos risos.
Aprovado no teste, Pepe chegou ao time profissional no finzinho de 1954. No ano seguinte, marcou contra o Taubaté o gol do segundo título paulista do Santos, 20 anos depois do primeiro. E não parou mais de levantar taças. Especialmente depois que passou a ter a seu lado um rapazinho vindo de Bauru que tinha uma certa facilidade para fazer gols. Aquele de Saturno.
“Eu estava na barbearia em frente à Vila, que na época era do Espanhol e depois foi adquirida pelo Didi, que está lá até hoje. Então se aproximou de mim um cidadão chamado Waldemar de Brito. Ele me disse assim: ‘Estou trazendo um garoto para o time que eu acho que vocês vão gostar. O apelido dele é Pelé’”, relembra Pepe. “O Pelé estava tomando um refrigerante em um bar ao lado da barbearia, e o Waldemar de Brito me apresentou a ele. Fui o primeiro da equipe a conhecê-lo. Ele me cumprimentou com tanta força que quase quebrou minha mão. Aí pensei: ‘Esse rapazinho veio com vontade’ (risos). Ele foi colocado em um quadro misto, depois nos profissionais. E começou a fazer gol atrás de gol.”
Com Pelé e Pepe, e mais Dorval, Mengálvio, Coutinho, Zito e tantos outros craques, o Santos assombrou o planeta nos anos 60. Foi campeão mundial em 1962 contra o Benfica de Eusébio, time que era freguês do Peixe, segundo o ex-ponta (“A gente jogava muito contra eles e ganhava em 90% das vezes”), e, no ano seguinte, diante do Milan. O segundo dos três jogos contra os italianos, no Maracanã, foi o maior momento de Pepe no clube, de acordo com ele mesmo. “Nós estávamos perdendo por 2 a 0 e viramos no segundo tempo para 4 a 2 com dois gols meus.”
Pepe encerrou a carreira em 1969 sem jamais ter vestido outra camisa. E foi no Santos que ele iniciou uma trajetória como treinador que durou quase quatro décadas – com quatro passagens pelo time principal do Peixe, que lhe renderam o título paulista de 1973. “Sempre que a coisa apertava no clube, o pessoal me chamava”, lembra ele.
Hoje aposentado, Pepe acompanha a equipe de seus amores de seu apartamento na Ponta da Praia. Mas ainda é uma figurinha carimbada na Vila Belmiro, onde é tratado com enorme carinho por torcedores e funcionários. “Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e eu temos um contrato com o clube para participar de eventos aqui. Toda hora me ligam para eu vir à Vila para receber grupos de visitantes”, relata ele. “O Santos representa tudo para mim. Com relação ao esporte, ao futebol, em primeiro lugar está o Santos. Os sentimentos que tenho pelo clube são amor e respeito. Muito.”
“Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e eu temos um contrato com o clube para participar de eventos aqui. Toda hora me ligam para eu vir à Vila para receber grupos de visitantes…”
Fico contente em saber.
“Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e eu ” isto aí e 45.45% da razão de hoje eu ser Santista.
Na verdade acho que todo Santista da minha época era muito folgado, pois nada mais fácil do que torcer pro maior time de todos os tempos”