O empresário Nabil Khaznadar, 57 anos, pretende preparar o Santos para se tornar uma empresa capaz de receber aportes nacionais e internacionais. Ele acredita que o melhor caminho para o futuro do clube é uma gestão moderna, que torne a marca Santos atrativa para investidores e patrocinadores.
“É uma tendência mundial (a profissionalização do futebol) e o Brasil está indo por esse caminho. Sempre trabalhei com grandes marcas em meus negócios e o Santos é uma marca, uma grande marca”, diz Khaznadar.
O candidato também tem planos de assumir a administração do Pacaembu e construir um novo centro de treinamento para o time profissional, deixando o CT Rei Pelé para as divisões de base.
A entrevista de Nabil é a segunda da série de conversas do DIÁRIO DO PEIXE com os candidatos à presidência. Por ordem do número da chapa, a cada dia um presidenciável responderá a dez perguntas sobre os seus planos para o Santos. As questões são as mesmas para todos e nenhum candidato tomou conhecimento das respostas dos concorrentes antes de sua entrevista.
Leia abaixo a entrevista do candidato da Chapa 2 à presidência do Santos:
1 – Quais serão as prioridades de seu mandato?
Temos 12 princípios, 12 metas, que vão guiar nossa gestão. Uma delas é preparar o Santos para se tornar uma empresa (preparada) para possíveis aportes internacionais, como acontece no mundo inteiro. É uma tendência e o Brasil está indo por esse caminho. Tenho a informação de que o presidente (Michel) Temer irá deixar um legado no seu último ano, por isso o 5082 (projeto de lei que cria a via societária e estabelece procedimentos de governança e de natureza tributárias para a modernização do futebol) deve ser assinado por ele. Vou preparar o clube como sempre preparei as minhas empresas. Sempre trabalhei com marcas internacionais e sempre as preparei para atrair interessados. Já trabalhei com Ralph Lauren, Puma, Adidas, Hugo Boss. O Santos é uma grande marca. O clube deve estar arrumado para receber aporte internacional e se tornar uma S/A. Não pretendemos vender mais do que 49%, queremos fazer nos moldes do que faz o Bayern de Munique, que tem os três “As” – Audi, Allianz e Adidas – como sócios. Acho que esse é o modelo ideal.
Pretendemos também fazer um novo CT para os profissionais. A nossa base vai ficar no atual CT Rei Pelé, dos profissionais. Todo santista tem orgulho da base do clube, apesar de ela ter sido esquecida nos três últimos anos, quando não ganhamos nada. O Santos é um lançador de jogadores, tivemos o melhor do mundo, o jogador mais caro do mundo, fora Robinho, Diego e tantos outros. Precisamos olhar melhor para a base e acho que o upgrade para isso seria o CT Rei Pelé ser transferido para os meninos. E fazer um novo CT para os profissionais, em parceria com uma empresa multinacional, com a qual já estamos conversando. Ela ficaria com o terreno da entrada de Santos e entregaria o CT, que ficaria no continente, perto do pedágio da Piaçaguera.
Outro ponto é o voto à distância, direito que perdemos. Qual o prazer em ser santista, ser sócio, mas porque mora em Roraima ou no Ceará não pode votar? Grêmio e Inter fazem isso há muitos anos, têm o voto eletrônico à distância. É aquela velha política do Brasil, de manter o controle de quem vai votar, isso precisa acabar.
2 – Qual será o seu modelo de gestão?
Teremos uma gestão profissional, baseada na meritocracia, não haverá apadrinhamento, o lema será esse. Não queremos mais a velha política. Temos conversado com pessoas como Celso Loducca, Walter Schalka, Amir Somoggi, entre outros, que vão nos ajudar. Queremos trazer profissionais competentes – e santistas – para trabalhar para o clube, sem receber benefícios financeiros.
3 – Como pretende resolver a questão dos patrocínios da camisa do Santos? Qual é a sua meta para os patrocínios do clube?
Não acho que devamos sair procurando patrocínio para a camisa. O caminho é ter transparência na gestão, mostrar credibilidade e, assim, conseguir atrair parceiros e patrocinadores. O pessoal não vai mais investir no futebol porque sabe a bagunça que é o futebol brasileiro e o quão complicado é esse meio. Por isso queremos dar transparência, criaremos um portal de transparência, para mostrar a todos que o Santos é um clube diferente do que existe por aí. Algo como hoje está sendo feito no Flamengo, que está com receita crescente e sendo gerido bem, até onde sabemos. Por isso, queremos assumir o Pacaembu.
4 – Como pretende administrar a dívida do clube?
Não há segredo. Sou economista e farei o que faço em minhas empresas. A dívida do Santos aumentou demais nos últimos anos. Temos de procurar os bancos, alongar o prazo dessa dívida e reduzir as taxas de juros que são pagas. Temos bom relacionamento com os bancos, inclusive com o Itaú, que é o maior credor do Santos. Hoje pagamos R$ 10 milhões de juros ao ano, o que é insustentável, você fica correndo atrás do rabo e não sai do lugar. Precisamos alongar a dívida, reduzir as taxas, aumentar as receitas, reduzir despesas e buscar equilíbrio.
5 – Como você vê a discussão entre o Santos jogar na Vila Belmiro e no Pacaembu? Qual é a sua preferência? Você defende a construção de um novo estádio?
Sou contra um novo estádio. Acho sem sentido. Temos dois estádios, a Vila e o Pacaembu. Já temos um acordo verbal com a prefeitura (de São Paulo) para assumir o Pacaembu. O futuro do Santos é fora da cidade. A Vila continua sendo do Santos, mas precisamos jogar mais em São Paulo, em outras cidades e alcançar o torcedor em todo o Brasil, que se desacostumou a ir ao estádio.
Não dá para nas quartas de final da Libertadores, contra o Barcelona do Equador, você ter 12 mil torcedores na Vila. É pouco. Temos a meta de alcançar cem mil sócios para poder lotar o Pacaembu e a Vila. Temos de dar melhores condições ao torcedor para que possa ir ao estádio ajudar o time. Por isso o Pacaembu é nossa alternativa. Vamos reformar vestiários e banheiros.
Em troca, teremos descontos no aluguel do estádio, que será de R$ 3 milhões ao ano. Dois clássicos que façamos lá já pagam o aluguel do ano. A Vila não enche, sabemos disso, por isso precisamos fazer da Vila de novo um alçapão, trazer o torcedor para mais perto do jogador. Não faz sentido termos aqueles camarotes atrás dos gols. Aquilo esfriou a Vila, virou um estádio frio.
Precisamos de um projeto de melhorias que dê conforto para o nosso torcedor.
6 – Quais serão suas prioridades para as divisões de base do clube? Vê a necessidade de construção de um novo centro de treinamento?
Vamos dar um upgrade na base com a destinação do CT Rei Pelé para os meninos. A base é a galinha dos ovos de ouro, e não pode deixar a cidade. Os meninos precisam ficar perto da escola, da família, do cinema. Fica mais fácil de administrar.
7 – Quais são seus planos em relação ao futebol feminino e aos esportes amadores do clube?
O feminino vai continuar, dá visibilidade ao clube. Quanto aos esportes amadores, queremos voltar com o futsal, até porque todos os grandes jogadores saíram do salão e depois foram para o campo. Faremos esse novo ginásio de futsal no terreno do CT Rei Pelé. Em relação aos outros esportes, vamos estudar. Gosto de vôlei, de futebol americano, em que temos o Santos Tsunami. Precisamos avaliar a melhor maneira de dar suporte a esses e a outros esportes.
8 – Se eleito, você pretende manter Elano como técnico? Qual perfil de técnico você considera ideal para o Santos?
Elano não será mantido, ele precisa estudar, se aperfeiçoar. Precisamos de um técnico moderno, que conheça nosso jeito de jogar, sempre para a frente. Os últimos técnicos não usaram nossa vocação, o time jogava amarrado, para trás. A não ser o Dorival, que fez o time ofensivo em alguns momentos. Mas ele não seria o técnico que eu contrataria. Temos de ter alguém que tenha nosso DNA ofensivo e que use a base. Acho que o elenco deve ter 24 ou 25 bons jogadores, que entrem e resolvam.
9 – Você avalia que o time precisa de reforços? Quais setores são mais carentes? Tem nomes que gostaria de trazer para o Santos?
Sim, acho que precisa de reforços e já conversei com alguns (risos). Precisamos de um camisa dez, de um centroavante, reforçar as laterais, um segundo volante e um atacante que jogue pela direita. Não faz sentido usar o Copete, canhoto, jogando na direita, ou o Bruno Henrique na direita. Você desvaloriza o patrimônio do clube. Sonho com um jogador como o Bruno Henrique para jogar na direita, com o próprio Bruno Henrique na esquerda. Mas isso deve ser alinhado com o novo treinador.
10 – Qual Santos você espera entregar ao final de seu mandato?
Um Santos muito melhor do que esse que está aí. Minha maior meta é arrumar a gestão do Santos e ser campeão brasileiro. Há anos, desde a gestão Laor (Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, ex-presidente), não valorizamos o Brasileiro. O time sempre começa muito mal, e o Campeonato Brasileiro pede uma largada boa, é preciso ir bem nas dez primeiras rodadas. É isso o que define como o time irá. A meta não é o Paulista, apesar de dar dinheiro, as prioridades devem ser o Brasileiro e a Copa do Brasil.
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