Pelé
A infância
Pelé nasceu no município de Três Corações, Minas Gerais, em 23 de outubro de 1940. Filho de um jogador conhecido como Dondinho, mudou-se com a família para Bauru, São Paulo, aos quatro anos. Foi na cidade do noroeste paulista que começou a jogar futebol, tendo como grande objetivo ser tão bom quanto o pai, um centroavante que fazia muitos gols de cabeça e brilhou em times do interior de Minas e de São Paulo.
Nas categorias de base do Bauru Atlético Clube, o menino Edson Arantes do Nascimento, na época conhecido como Dico, mostrou um talento incomum. Foi artilheiro e campeão várias vezes, chamando a atenção de Waldemar de Brito, ex-jogador que defendeu a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1934 e que trabalhava no BAC como descobridor de talentos.
A chegada ao clube
Waldemar de Brito, que como jogador defendeu vários dos maiores clubes do Brasil, como São Paulo, Palmeiras, Botafogo, Flamengo e Fluminense, sabia que tinha uma joia nas mãos, e também sabia que aquela joia não ficaria muito tempo mais em Bauru. Ele teve, então, a ideia de indicá-lo ao Santos Futebol Clube, que era o time da moda na época, pois havia sido campeão paulista em 1955 com um elenco jovem e muito talentoso.
“Esse menino vai ser o melhor jogador de futebol do mundo”, disse Waldemar aos dirigentes santistas quando, em 8 de agosto de 1956, levou ao clube Pelé. Ou melhor, Gasolina, apelido que o garoto de 15 anos carregava à época, mas que logo foi esquecido. Um mês depois, o jogador vindo de Bauru fez sua estreia na equipe principal do Santos em um amistoso contra o Corinthians de Santo André. Nesse jogo, Pelé marcou o primeiro dos 1.281 gols de sua carreira.
O primeiro título
Em 1957, seu primeiro ano completo como profissional, Pelé não levantou taças, mas conseguiu a façanha de ser o mais jovem artilheiro da história do Campeonato Paulista – quando a competição começou, ele ainda tinha 16 anos. Foi a primeira das 11 vezes que o menino de Três Corações terminou o Estadual como maior goleador. Seu desempenho foi tão impressionante que naquele mesmo ano ele chegou à Seleção Brasileira.
Na temporada seguinte, enfim o jogador comemorou sua primeira conquista pelo Peixe. Ele foi campeão paulista com a inacreditável marca de 58 gols em 38 partidas na competição. Até hoje, nenhum outro goleador do Paulistão chegou perto desse número. Também em 1958, Pelé, aos 17 anos, ganhou a Copa do Mundo como um dos destaques da equipe brasileira e voltou da Suécia com o título de nobreza que o acompanhará para sempre: Rei do Futebol.
O jogo perfeito
Pelé disputou mais de mil jogos pelo Santos – 1.116, para sermos mais exatos –, então não é exatamente uma tarefa fácil apontar sua melhor partida com a camisa alvinegra. No entanto, o segundo jogo do Mundial Interclubes de 1962 é considerado pelo próprio Rei a sua atuação mais perfeita pelo Peixe. Em Lisboa, o time aniquilou o Benfica de Eusébio, campeão da Europa, com uma goleada por 5 a 2 e se tornou o primeiro clube brasileiro campeão do mundo.
Pelé marcou três vezes no Estádio da Luz, que estava lotado de portugueses assombrados com o show de bola da equipe da Vila. Coutinho e Pepe fizeram os outros gols do Santos, e o Benfica só anotou dois tentos no finzinho da partida – com Eusébio e Santana –, quando o placar apontava 5 a 0 para os alvinegros e os jogadores santistas já comemoravam a inédita conquista.
O milésimo gol
No dia 19 de novembro de 1969, quase um mês depois de ter completado 29 anos, Pelé quebrou mais um recorde ao se tornar o primeiro jogador na história do futebol a ter comprovadamente alcançado a marca de mil gols. Com a camisa branca do Santos, o Rei anotou o histórico tento contra o Vasco, no Maracanã. Tempos depois, ele confessou que gostaria de ter feito o gol de cabeça, o que seria uma forma de homenagear seu pai, Dondinho, que era um ótimo cabeceador, mas o fato de ter sido na cobrança de um pênalti criou o cenário perfeito para o evento. Enquanto Pelé se preparava para o chute, a imprensa presente no estádio se ajeitava para registrar o momento histórico e o público do mundo inteiro prendia a respiração.
“Pela primeira vez, eu tremi. Nunca senti uma responsabilidade tão grande”, revelou o Rei, que foi carregado em triunfo e, sob aplausos da torcida do Vasco, deu uma volta olímpica após ter feito um dos gols mais marcantes de sua vida.
O último título
O Campeonato Paulista de 1973 foi a última competição vencida por Pelé no Santos. Prestes a completar 33 anos, o Rei não conseguiu evitar o empate por 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação da decisão, contra a Portuguesa, no Morumbi. Assim, a disputa do título foi para os pênaltis, e o inusitado aconteceu.
Quando o placar apontava 2 a 0 para o Santos, o árbitro Armando Marques decretou o fim da disputa e declarou o Peixe campeão. Ocorre que cada time ainda tinha duas cobranças a executar, o que dava à Portuguesa a remota possibilidade de empatar o marcador. Ao se dar conta do erro, o juiz mandou chamar de volta os jogadores do time rubro-verde, que já tinham saído do campo, mas ninguém foi encontrado no vestiário. A equipe da capital foi embora às pressas do Morumbi para não ter de completar a disputa, pois sabia que suas chances de vitória eram mínimas.
Dias depois, a Federação Paulista de Futebol decidiu dividir o título. Pelé, que seria o último cobrador do Santos na decisão por pênaltis, teve de comemorar uma conquista pela metade.
A despedida
Em julho de 1971, Pelé deu adeus à Seleção Brasileira em um amistoso contra a Iugoslávia, no Maracanã. Três anos depois, no dia 2 de outubro de 1974, chegou a vez de o Rei se despedir do clube de seu coração, que ele defendeu por quase 20 anos. Em um jogo contra a Ponte Preta, na Vila Belmiro, pelo Campeonato Paulista, Pelé fez aquela que foi a sua primeira despedida do futebol – porque no ano seguinte ele voltou a jogar nos Estados Unidos.
Aos 21 minutos do primeiro tempo, Pelé recebeu a bola no meio do gramado e fez um gesto que está na história: ele se ajoelhou no campo e, de braços abertos, despediu-se da torcida alvinegra. O placar daquela partida contra a Ponte foi 2 a 0 para o Santos, mas praticamente ninguém se lembra disso. O que está na memória do mundo todo, e dos santistas em particular, é o fim da relação entre o maior jogador de todos os tempos e o clube em que ele construiu uma carreira inigualável.
De branco pela derradeira vez
Quase exatamente três anos depois da despedida do Santos, Pelé deu adeus definitivo ao futebol. No dia 1º de outubro de 1977, uma grande festa foi organizada no Giants Stadium, em East Rutherford, casa do New York Cosmos, time que contratou o Rei em 1975 para que ele ensinasse os americanos a gostar de futebol. Foi a última vez que ele vestiu a camisa santista.
A partida de despedida de Pelé foi um amistoso entre Cosmos e Santos, vencido pelos americanos por 2 a 1. O Rei jogou o primeiro tempo pelo time de Nova York e o segundo pelo Peixe, tendo marcado de falta um dos gols do Cosmos – o primeiro e único que ele anotou contra o Santos. O prestígio do ídolo nos Estados Unidos era tão grande que a partida atraiu ao estádio várias celebridades, entre elas Barbra Streisand, Mick Jagger e Muhammad Ali, e contou com a cobertura da mídia de todo o planeta.