Apresentação de Robinho na Vila: marco de gestão de Luis Alvaro (Crédito: Ricardo Saibun/SantosFC)

*Por Fernando Silva, especial para o DIÁRIO DO PEIXE

Em 5 de dezembro de 2009, um sonho de quase 10 anos de luta tornou-se realidade. A vitória de Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, o Laor, nas urnas do Santos FC fez surgir uma nova fase na história recente do Clube.

Aquele grupo de oposição teria condições e sabedoria de se tornar ‘situação’? De pedra a vidraça depois de quatro eleições seguidas tentando a gestão alvinegra?

Os resultados mostram que sim. Os primeiros dois anos, 2010 e 2011, tornaram-se os mais importantes do Clube desde a Era Pelé. Dois Paulistas – em 2012 veio o tri que não se repetia desde 1969 com o próprio Santos -, uma Copa do Brasil inédita em 2010 e a Libertadores 2011, que credenciou o time a enfrentar, no Japão, o maior Barcelona de todos os tempos na partida mais perfeita sob o comando de Pep Guardiola, segundo ele mesmo.

Ainda que o resultado do Mundial tenha sido frustrante, era o Santos de volta ao protagonismo nas Américas após 48 anos de espera. Graças a uma política ousada que culminou com a manutenção do craque Neymar no clube por um período impensável para os padrões da época e atuais – basta lembrar quanto tempo Gabriel Jesus, Lucas Paquetá, Vinícius Jr e o próprio Rodrygo permaneceram em seus times nos últimos anos.

A manutenção de Neymar teve efeitos desportivos – seis títulos! – e mercadológicos. O Santos saiu de um faturamento de R$ 70 milhões em 2009 para R$ 116 milhões em 2010, R$ 189 milhões em 2011 e mais de R$ 200 milhões em 2012. O Clube triplicou seu faturamento nos três primeiros anos da gestão Laor. Ainda que a venda do craque, em 2013, tenha sido envolta em polêmicas, a permanência dele foi, sem dúvida, um dos melhores negócios já feitos por um clube brasileiro. Neymar trouxe dinheiro, títulos e um incremento importante de torcida, transportando a marca Santos novamente para o mundo. Não à toa, a Santos TV ainda é a TV institucional de clube brasileiro com mais visualizações no Youtube.

A construção do time campeão da Libertadores passou por outros nomes importantes. A contratação de Danilo, que despontava no América Mineiro, e de Alex Sandro, lateral-esquerdo revelado pelo Atlético PR, ainda em 2010, que revezava com Léo, ídolo da torcida. A zaga foi reforçada com Durval, Bruno Rodrigo e Bruno Aguiar e já contava com Edu Dracena, líder e capitão. No meio-campo, uma tacada polêmica: a vinda de Arouca para o lugar de Rodrigo Souto, que foi para o São Paulo. Parte da torcida protestou por alguns dias, mas bastaram duas partidas para que o encaixe do volante fosse fundamental para o sucesso daquele time ao lado de Wesley, em 2010, e Adriano, em 2011. Além disso, o meio-campo contava com a genialidade de Paulo Henrique Ganso, que, mesmo atrapalhado por contusões, foi fundamental nas conquistas daquele biênio.

Mas se houve um evento que mostrou a mudança de mentalidade de gestão no Santos, foi a chegada de Robinho, por empréstimo do Manchester City, no primeiro dia de fevereiro de 2010. Laor havia assumido o Cclube 45 dias antes com dívidas consideráveis e problemas urgentes. Quem analisasse as contas no dia 16 de dezembro de 2009, certamente não embarcaria nessa ideia ‘tresloucada’, adjetivo que o Luis Alvaro adorava proferir. Mas a criatividade da gestão foi comprovada criando um modelo de contratação novo: mais da metade dos vencimentos de Robinho, nesse período de empréstimo, seria pago por ‘comerciais’ de TV que o craque, então protagonista na Seleção Brasileira que disputaria a Copa do Mundo na África do Sul, gravaria para algumas marcas. Deu certo. E o evento de sua chegada foi histórico. Mais de dez mil pessoas, numa segunda-feira pela manhã, lotaram a Vila Belmiro para receber o craque de volta. No gramado, show da banda Charlie Brown Jr em seu auge. Desce o helicóptero com o rei das pedaladas, mas quem abre a porta é o Rei do Futebol. Ele dá a volta, abre a outra porta e traz Robinho pela mão para emoção geral.

Os jornalistas que cobriam o dia a dia do Clube sabiam que aquele evento sinalizava outra gestão. Que ousaria desafiar o status quo reinante. Entre erros – foram muitos! – e acertos (também!), o que aconteceu no Santos neste biênio ficou para a história. E marcou a gestão de Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro como uma das mais visionárias da história do Santos FC.

Óbvio que os acertos não apagam os erros. Mas à medida em que o tempo passa, a torcida mede o legado de cada administrador que passou pelo clube com mais equilíbrio. E é certo que fizemos história. Mais até do que imaginávamos. Menos do que gostaríamos. Ainda assim, montamos um time vencedor com contratações pontuais e uma política clara; transformamos a base em vencedora novamente com uma geração que até hoje presta serviço ao clube; mudamos conceitos no Marketing e na Comunicação; colocamos um clube que vinha de um biênio decadente para a melhor fase pós Era Pelé. Dez anos depois, continuo me orgulhando desse trabalho ao lado de profissionais incríveis continuam mostrando seu valor.

*Fernando Silva é empresário, CEO da PWTECH e foi consultor de futebol do Santos entre 2010 e 2011.