Sempre senti que estar na Vila Belmiro era estar em casa. Tenho certeza que grande parte dessa impressão é pelo fato de o Santos ser, pra mim, uma grande marca da família. Isso, claro, é por causa da minha relação com meu pai. Dia de ir ao estádio é um dia que sei que vou passar com meu pai e, se não com ele, com meu marido.
Mas sinto em 2019 minha relação com o Santos mudou. Não que tenha deixado de ser parte da minha relação com meu pai. Isso nunca vai mudar. Por outro lado, acho que criei um amor independente, uma dedicação minha com o clube.
Eu decidi que queria ir ao jogo contra o Botafogo. Ninguém podia ir comigo. Nem meu pai, nem meu marido. Há algum tempo, isso seria um impeditivo. Eu pensaria que, sem as companhias de sempre, eu não teria como ir. Dessa vez foi diferente. Decidi que eu ia, sim, porque eu queria ir.
Meu pai acho que eu ia pegar trânsito demais na volta (e eu peguei mesmo), meu marido ficou preocupado (e, no fim, eu também fiquei), mas com 25 anos acho que eu tinha motivos pra acreditar que eu podia tomar uma decisão e lidar com as consequências.
Ao longo do ano, conheci muita gente ligada ao Santos por causa do Twitter. Ligada emocionalmente, quero dizer. E isso fez com que eu pudesse ir ao jogo. Porque tinha uma carona pra ir e voltar. E fui.
Fiz tudo diferente do que costumo fazer na Vila Belmiro. Sentei em outro lugar, entrei mais tarde, fui de um lado pro outro falar com gente que conhecia pessoalmente ou não.
Claro que é um pouco estranho estar nessa situação de não saber muito bem como comemorar o gol sozinha ou se as pessoas vão estranhar se você gritar xingando jogadores, mas fiz o que sei fazer de melhor: fui em mesma. E foi legal pra caramba.
Fiquei muito feliz de ter feito minha escolha e ter ido ao jogo porque eu tive vontade, sem depender de ninguém – além da minha carona, claro.
Sei que pra quem é acostumado a ir em estádio sozinho isso pode parecer uma grande besteira. Mas pra mim foi um grande rompimento, uma novidade, um momento meu com o futebol e com o meu time muito diferente do que sempre foi.
Quase sempre é bom viver coisas novas. E foi mesmo.
Me sinto muito segura na Vila Belmiro. Muito mesmo. Não vejo olhares diferentes, hostilidades e isso é muito bom. Conheci gente nova, vi um bom jogo do Santos e me diverti demais.
Mas pra não dizer que tudo são flores, chegando de volta a São Paulo fiquei um pouco assustada. Desci no metrô e me dei conta: era tarde, 23h, e estava de short. Eu não saí de casa pensando que poderia acontecer algo comigo a noite, saí pensando que estava com calor. E fiquei com medo.
Na hora que estava entrando na estação, vi uma menina. Cheguei perto dela, pedi licença e perguntei se poderia ir com ela durante a viagem de metrô. Ela disse que claro, poderia, e afirmou que entendia como eu estava me sentindo. Decidi que iria só até a estação dela, descemos juntas e ela esperou um Uber comigo. Deu tudo certo.
Cheguei em casa radiante. Segura. Feliz com minhas escolhas.
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