Santos precisa aproveitar o legado deixado por Jorge Sampaoli (Crédito: Rodrigo Coca/SantosFC)

Jorge Sampaoli já faz parte do passado do Santos e não temos mais tempo para ficar lamentando a sua saída. É preciso olhar para frente, mas precisamos aproveitar o legado deixado pelo técnico argentino.

Mais do que o futebol ofensivo, o time bem treinado, o zagueiro improvisado na lateral, o maior legado de Jorge Sampaoli é uma ideia. E ela não é só de jogo, é de clube, de história, uma ideia que estava esquecida por quase todos os dirigentes e boa parte da torcida. Uma ideia de grandeza. De ser protagonista, como Sampaoli dizia.

“A condição financeira do clube não tenho motivo para saber. Cheguei com o conhecimento do elenco, da necessidade que tinha, da necessidade da equipe. É uma realidade que o clube tinha que resolver. Santos é um clube de grande história, e o clube tem que estar à altura, os dirigentes também”, disse Sampaoli, em março.

O Santos é grande demais.

Não pode se acostumar com pouco, não pode achar bom apenas ganhar paulista (um campeonato que tende a sumir) ou garantir vaga na Libertadores. Não pode colocar no planejamento estratégico que a meta para os próximos anos é ser G6 do Brasileiro. G6 do Brasileirão não é nada mais do que obrigação.

O Santos precisa ser protagonista como sempre foi, como mostrou em campo nesta temporada. E para ser protagonista os dirigentes precisam entender que o futebol mudou.

Se seguir usando a fórmula dos últimos anos de vender o almoço para comprar o jantar vai seguir passando fome (de títulos). Flamengo e Palmeiras se organizaram e vão seguir com cinco refeições por dia.

Como competir se você recebe menos da TV, que na maioria dos dias só dá espaço para o Santos quando a notícia é negativa? Como competir se a sua receita de bilheteria é inexpressiva e você tem a terceira pior média de público do Campeonato Brasileiro?

Primeiro, você precisa organizar a casa. O Santos não tem condições hoje de ter quase 800 funcionários. O cabide de emprego político precisa acabar.

Depois, você precisa olhar para a fábrica dos ovos de ouro. O CT Meninos da Vila está abandonado. Gerou quase R$ 200 milhões só com a venda de Rodrygo, mas não recebeu um centavo em investimento desse valor. Não adianta prometer CT novo para ganhar a eleição e depois não cumprir. O Vasco montou um projeto de um novo CT e está conseguindo recursos com os torcedores. Basta ter criatividade e vontade que dá para fazer.

O terceiro passo é garantir que os frutos da fábrica tenham espaço no time. E isso precisa ser institucional, não pode depender de vontade de técnico. É determinar 30% do elenco de 2020 formado na base, para passar para 50% em 2021 e 70% em 2022.

Técnico aceita ou busca outro caminho.

Com a base feita em casa, com salários menores, pode até sobrar uma grana para fazer investimentos em um Soteldo, jogador jovem, de seleção, com potencial de crescimento e de venda futura. Não para o Cueva, jogador de meia idade (pro futebol), com histórico de problemas extra-campo e com possibilidade de revenda difícil por não permanecer muito tempo em clube algum.

O Santos precisa conseguir novas formas de receita. A tal internacionalização da marca tem de sair do discurso e das visitas políticas. Os principais clubes do mundo ganham quase mais dinheiro fora do que dentro dos respectivos países. O Peixe não tem patrocinador e o Barcelona acabou de anunciar acordo com o BMG.

Ah, é difícil, não dá para fazer.

É mais uma vez se contentar com pouco.

Boca Juniors e River Plate disputaram a semifinal da Copa Libertadores com patrocínio da Qatar Airways e da Turkish Airlines. E o River disputou a segunda divisão há dez anos. Se reorganizou, apostou em profissionais para comandar o clube (Gustavo Silikovic, ex-Gerente Geral, era CEO do McDonald’s nas Américas).

Qual mercado é maior para essas companhias aéreas, o mercado argentino ou o brasileiro?

O Santos não pode ter 25 mil sócios, sendo 20% do total com problemas de falta de informações no cadastro. Nem vender o mailing você consegue dessa forma.

A história no futebol não pega mais o bonde, ela voa de drone.

E o Santos está perdendo o drone da história.