Jorge Sampaoli já faz parte do passado do Santos e não temos mais tempo para ficar lamentando a sua saída. É preciso olhar para frente, mas precisamos aproveitar o legado deixado pelo técnico argentino.
Mais do que o futebol ofensivo, o time bem treinado, o zagueiro improvisado na lateral, o maior legado de Jorge Sampaoli é uma ideia. E ela não é só de jogo, é de clube, de história, uma ideia que estava esquecida por quase todos os dirigentes e boa parte da torcida. Uma ideia de grandeza. De ser protagonista, como Sampaoli dizia.
“A condição financeira do clube não tenho motivo para saber. Cheguei com o conhecimento do elenco, da necessidade que tinha, da necessidade da equipe. É uma realidade que o clube tinha que resolver. Santos é um clube de grande história, e o clube tem que estar à altura, os dirigentes também”, disse Sampaoli, em março.
O Santos é grande demais.
Não pode se acostumar com pouco, não pode achar bom apenas ganhar paulista (um campeonato que tende a sumir) ou garantir vaga na Libertadores. Não pode colocar no planejamento estratégico que a meta para os próximos anos é ser G6 do Brasileiro. G6 do Brasileirão não é nada mais do que obrigação.
O Santos precisa ser protagonista como sempre foi, como mostrou em campo nesta temporada. E para ser protagonista os dirigentes precisam entender que o futebol mudou.
Se seguir usando a fórmula dos últimos anos de vender o almoço para comprar o jantar vai seguir passando fome (de títulos). Flamengo e Palmeiras se organizaram e vão seguir com cinco refeições por dia.
Como competir se você recebe menos da TV, que na maioria dos dias só dá espaço para o Santos quando a notícia é negativa? Como competir se a sua receita de bilheteria é inexpressiva e você tem a terceira pior média de público do Campeonato Brasileiro?
Primeiro, você precisa organizar a casa. O Santos não tem condições hoje de ter quase 800 funcionários. O cabide de emprego político precisa acabar.
Depois, você precisa olhar para a fábrica dos ovos de ouro. O CT Meninos da Vila está abandonado. Gerou quase R$ 200 milhões só com a venda de Rodrygo, mas não recebeu um centavo em investimento desse valor. Não adianta prometer CT novo para ganhar a eleição e depois não cumprir. O Vasco montou um projeto de um novo CT e está conseguindo recursos com os torcedores. Basta ter criatividade e vontade que dá para fazer.
O terceiro passo é garantir que os frutos da fábrica tenham espaço no time. E isso precisa ser institucional, não pode depender de vontade de técnico. É determinar 30% do elenco de 2020 formado na base, para passar para 50% em 2021 e 70% em 2022.
Técnico aceita ou busca outro caminho.
Com a base feita em casa, com salários menores, pode até sobrar uma grana para fazer investimentos em um Soteldo, jogador jovem, de seleção, com potencial de crescimento e de venda futura. Não para o Cueva, jogador de meia idade (pro futebol), com histórico de problemas extra-campo e com possibilidade de revenda difícil por não permanecer muito tempo em clube algum.
O Santos precisa conseguir novas formas de receita. A tal internacionalização da marca tem de sair do discurso e das visitas políticas. Os principais clubes do mundo ganham quase mais dinheiro fora do que dentro dos respectivos países. O Peixe não tem patrocinador e o Barcelona acabou de anunciar acordo com o BMG.
Ah, é difícil, não dá para fazer.
É mais uma vez se contentar com pouco.
Boca Juniors e River Plate disputaram a semifinal da Copa Libertadores com patrocínio da Qatar Airways e da Turkish Airlines. E o River disputou a segunda divisão há dez anos. Se reorganizou, apostou em profissionais para comandar o clube (Gustavo Silikovic, ex-Gerente Geral, era CEO do McDonald’s nas Américas).
Qual mercado é maior para essas companhias aéreas, o mercado argentino ou o brasileiro?
O Santos não pode ter 25 mil sócios, sendo 20% do total com problemas de falta de informações no cadastro. Nem vender o mailing você consegue dessa forma.
A história no futebol não pega mais o bonde, ela voa de drone.
E o Santos está perdendo o drone da história.
Comentários perfeito!
Realmente, a passagem do Sampaoli pelo Santos foi boa para resgatar a forma como um time grande precisa se impor perante os adversários. Até há pouco tempo, sob o comando desses treineiros enganadores, obsoletos, que estão sempre sendo lembrados, o Santos ficava todo fechadinho atrás, jogando por uma bola (esperando por um contra ataque, uma bola parada). Mediocridade de time pequeno. Que o próximo técnico também faça o time treinar muito e coloque o time para jogar para frente com muita intensidade (aliás, houve um momento em que parecia que os “líderes” do time estavam conspirando para puxar o tapete do técnico, porque o time deixou de fazer marcação alta e a intensidade não era a mesma. O grande feito do Sampaoli foi fazer os jogadores treinarem muito e uma tentativa rebelião por parte dos acomodados não pode ser descartada). Quanto à utilização da base, forçar a utilização de um percentual é problemático, porque se a safra for ruim, o time vai ter que entrar com 30, 50% de jogadores ruins vindos da base, que, por conta da “cota” de jogadores da base, não vão precisar se empenhar para subir (vai ser automática, pois é institucionalizada) e, ainda, fará com que o Santos tenha dificuldade na hora da assinatura do contrato, pois, mesmo não sendo craque, o garoto e o seu “”staff” sabem que existe uma determinação para que o Santos o coloque um percentual no time principal. Na verdade, o que faz muita falta é uma estrutura administrativa. Já vimos invasões de diretores corinthianos, e, agora, o Autuori trouxe vários profissionais do Pathetico Paranaense. Diretores que se dizem profissionais, mas, recentemente, como vimos nas publicações da Internet, o gerente do Santos, o tal de Andreatta, fez o papel de intermediário entre Sampaoli e Guarani da Capital. O presidente do Santos e o Comitê Gestor contratam gerente de futebol indicado pelo técnico e ninguém sabe dizer qual foi a contribuição desse profissional nobtempobem que o flamenguista esteve em Santos. Se os gerentes/diretores são suspeitos de não estarem batalhando para o bem do clube (inimigos dentro de casa) como acreditar que as contratações de Noguera, Ambidestro, Romário, Cleber Reis, Donizete, Felipe Cardoso, Uribe, Cueva e etc, foram “simples” equívoco e não tinham interesses devterceiros por trás da negociação?