O Santos se reapresentou no dia 8 de janeiro. Teve 14 dias antes (18 treinos) antes da estreia no Campeonato Paulista. Pouco tempo, é claro. Então, mais importante do que analisar o desempenho do time no empate em 0 a 0 contra o Red Bull Bragantino (a execução) é preciso tentar entender os conceitos de jogo do técnico Jesualdo Ferreira.
Eles estavam lá. E eram, em sua maioria, ruins. Confira algumas pontos:
1) Saída com 3 e Alison na criação das jogadas – Esse é um dos pontos preocupantes do esquema de Jesualdo Ferreira e uma grande diferença para Jorge Sampaoli. Contra o Bragantino, Luiz Felipe abriu pela direita, Luan Peres pela esquerda e Alison apareceu entre eles para receber a bola e tentar iniciar as jogadas.
O problema é que Alison (e talvez Jesualdo ainda não saiba) não tem qualidade de passe para encontrar os jogadores entre as linhas. Como Luiz Felipe e Luan Peres também não tem essa característica, o Santos perdeu três jogadores na saída de bola. E a melhor alternativa foi o goleiro Everson, que conseguiu até encontrar alguns bons passes.
“Gosto mais do Alison naquela posição do que o Pituca, porque o Pituca tem maior capacidade de penetrar em posições ofensivas e gerar um equilíbrio. Além de Alison tem um maior poder físico”, afirmou Jesualdo Ferreira, na coletiva de imprensa.
Se decidir seguir com o esquema, talvez Jesualdo Ferreira tenha de testar não Pituca, mas Jobson na função de Alison. Entre os volantes do elenco, ele é o que mais tem qualidade de passe e isso é fundamental para a posição.
2) Sem construção pelo meio – O mapa de calor ao lado, do Footstats, mostra qual foi a ideia de ataque pelo Santos. Jesualdo quer o Santos fazendo triangulações pelos lados. A ideia era ter Felipe Jonatan, Diego Pituca e Kaio Jorge pela esquerda, e Pará, Carlos Sánchez e Marinho pela direita.
Até o ano passado, o Santos circulava a bola pelo meio, com os laterais (Victor Ferraz e Jorge, especialmente), participando da criação por dentro. Com os triângulos, o meio-campo do Santos ficou vazio e o time não criou nada pelo meio.
A alternativa teve reflexo direto no desempenho do atacante Eduardo Sasha. Com o ataque tentando criar pelo lado, o centroavante passa a ser um finalizador. Como o Santos não conseguiu fazer uma jogada decente, Sasha não participou da partida. Ele não é o cara para ficar na área esperando cruzamentos.
Até o ano passado, com o jogo apoiado, de posse bola de bola, Eduardo Sasha participava mais da partida porque ele tem qualidade técnica para receber a bola entre as linhas, fazer a parede e dar a sequência na jogada. Para esperar cruzamento, as melhores opções são Kaio Jorge e até mesmo Uribe.
3) Poucos jogadores no ataque – Desde a primeira coletiva de imprensa, o técnico Jesualdo Ferreira deixou claro que considerava a equipe de Jorge Sampaoli muito exposta e queria fortalecer o sistema defensivo da equipe. Por isso, além dos dois zagueiros e de Alison, ao menos um lateral sempre ficou no famoso “balanço defensivo”.
Isso deixou um espaço enorme entre os setores do time na hora do ataque e poucos jogadores no ataque. Sem Soteldo, o jogador com mais capacidade de vencer o adversário no 1 contra 1, o time ficou previsível. Por execução ou ideia (ainda não dá para saber), Diego Pituca e Carlos Sánchez praticamente não entraram na área do Red Bull Bragantino.
Não custa lembrar que, mesmo supostamente muito ofensivo, o Santos teve a quarta melhor defesa do Campeonato Brasileiro de 2019. Ou seja, não existe muito o que ser melhorado.
4) A recomposição defensiva – Mesmo que o futebol moderno tenha adotado o padrão de correr para frente e não para trás quando o time perde a bola, a recomposição defensiva foi a melhor ideia apresentada pelo time de Jesualdo Ferreira na estreia, mesmo que tenha sido praticada por apenas 45 minutos.
No primeiro tempo, o Red Bull Bragantino, uma equipe bastante qualificada, não conseguiu criar nada. O Santos formou a linha defensiva sempre de forma muito rápido e deixou poucos espaços para o adversário. No segundo tempo, no entanto, o time sentiu muito o cansaço e os espaços apareceram. Assim que o atacante Ytalo teve as duas chances para marcar, ambas nas costas do zagueiro Luan Peres.
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Ainda é cedo, claro, para análises definitivas. Mas as ideias de Jesualdo mostram um time mais protegido, que provavelmente não levará goleadas de Ituano e Botafogo-SP, mas que terá muitas dificuldades para criar jogadas. Para encantar, então, como em alguns momentos de 2019, existe uma distância muito longa.
Lembrem da primeira imagem do time de Jorge Sampaoli, no empate em 1 a 1 com o Corinthians em Itaquera. A imagem abaixo mostra como foi o comportamento do time em quase todo o jogo.
O Santos de Sampaoli não ganhou nada, o de Jesualdo pode ganhar.
O que será mais importante para o torcedor?
Um meio de criação com Alison sei não e time lerdo .mais dar um tempo para Josualdo humm
Inevitável a comparação entre o posicionamento do time comandado pelo Jesualdo e a forma de jogar do agitado Sampaoli, e a primeira impressão do trabalho do professor é decepcionante, ainda que se considere que está em início de trabalho, pois o início do Sampaoli foi muito melhor, inclusive na preparação física. O Sampaoli, no início do ano passado, conseguiu dar destaque à maneira de jogar do Santos, time que jogava com intensidade e era o protagonista da partida, mesmo jogando fora de casa. Jogadores considerados medíocres tiveram seus melhores desempenhos com a camisa do Santos sob o comando do Sampaoli. Em 2019 o Santos era assunto em todos os programas esportivos. O problema do Sampaoli eram as invenções (aquele fatidico esquema de três zagueiros, jogadores deslocados) e a exposição demasiada da defesa. Esse time comandado pelo Jesualdo é mais cauteloso (e até chato de se ver) e demasiadamente lento na transição. Com aquele buraco no meio de campo vai ficar impossível chegar ao gol adversário (falando de oponentes organizados e não esses timecos que estão aí no Paulistinha). Aquela correria alucinada do esquema do Sampaoli mascarava a falta de qualidade técnica do time. O argentino dizia que na falta de qualidade dos jogadores era preciso ser fiel à filosofia de jogo. Ou seja, a parte tática fazia a diferença. No esquema do Jesualdo, os perebas voltaram a ser abóboras, antes mesmo do badalar da meia noite. Não ficou nada do que tinha de bom do trabalho do Sampaoli. Esperar que o Alisson seja o cara que vai organizar a saída da defesa é apostar numa causa perdida. O jogador é voluntarioso e só serve para dar combate no meio de campo (depois devolve a bola para o adversário). Meio de campo (onde dizem que se ganha o jogo), com Pituca e Sanches não dá. Falta um jogador para articular as jogadas. Kaio Jorge (queimado fora da posição de origem) e Raniel como jogadores de lado também não funcionam. Até na bola parada, nas cobranças de escanteio, o time mostrou que está mais fraco e não leva perigo ao gol adversário (ah, tem a saída do Gustavo, mas os dois zagueiros de ontem foram muito mal) Que os deuses do futebol protejam o Santos contra o rebaixamento no Brasileirão, porque ontem o Everson até que evitou gol certo, mas não é um goleiro confiável.
A princípio, também não gostei… mas vamos aguardar.
Vocês já foram melhores, Diário. Ano passado eram só críticas ao Sampaoli, ahora querem falar que era o certo.
Felizmente, este foi apenas o primeiro jogo, e o time pode melhorar muito. É muito cedo para fazer análises e ainda mais para comparar o time com os jogos do ano passado, especialmente um amistoso.
[…] Por isso, eu não vou escrever que o Santos não mostra qualquer evolução no Campeonato Paulista. O desempenho e as propostas são os mesmos da estreia contra o Bragantino, como escrevi aqui. […]