Redes sociais são palco de brigas entre jogadores do Santos e torcedores (Crédito: Reprodução)

Dia desses, produzi um conteúdo criticando a atitude de atletas do Santos que desrespeitaram o isolamento social. Sem citar nomes, pra evitar confusões. Fato é que a confusão veio e fui cobrada por uma das pessoas envolvidas em uma rede social, de forma privada.

O assunto foi parcialmente resolvido, porque tenho certeza que a pessoa vai sempre guardar mágoas de mim, mas me fez pensar muito. Como o atleta se vê, como o atleta vê a torcida e como a torcida vê o atleta?

Me parece que torcedores, em determinadas ocasiões, passam do ponto ao criticar atletas. Tem postagens que são desrespeitosas, tem gente que vai até a rede social do jogador ou da jogadora pra xingar. E acho isso extremamente errado, porque não dá pra esquecer que o atleta, apesar de pessoa pública, é um ser humano e tem sentimentos.

O grande problema é que a linha é tênue, claro, porque o torcedor é alguém movido pelas paixões. Se um jogador não tem um bom desempenho, ele vai criticar, falar mal, é comum. Não dá pra passar dos limites, claro, e tem gente que pega no pé. Mas, faz parte de ser atleta entender que a profissão exercida mexe com as emoções mais profundas do torcedor.

Não acho necessariamente errado que um atleta questione um torcedor pelas críticas – mas isso deve ser feito de uma maneira razoável. Como vimos hoje nas redes sociais, Arthur Gomes chamou uma página de torcida de “lixo”.

Precisa?

Não precisa, porque ele perde a razão.

Ele tem direito de ficar chateado e, talvez, seja melhor se ele puder explicar para o torcedor porque aquilo é negativo. De que forma isso afeta a confiança dele e o psicológico.

Acho que é preciso lembrar sempre que jogador tem família, que os filhos podem estar nas redes sociais, os pais, companheiros ou companheiras. É difícil lidar com isso. É só lembrar que o filho do Fagner, do Corinthians, foi alvo de ameaças de torcedores. Não deve ser tranquilo entrar nas redes sociais e ver uma chuva de críticas a alguém que você ama.

A relação entre torcida e jogador vai do céu ao inferno em outros minutos. É difícil o atleta não ser afetado por essa instabilidade. E uso como exemplo positivo Lucas Braga. Constantemente alvo de críticas da torcida, tem trabalho quieto e feito bons jogos.

Não quero dizer que acho que o jogador obrigatoriamente deve ficar quieto, mas acredito que faz parte da profissão de jogador entender que as críticas virão, porque o torcedor é passional. O clube, claro, tem papel importantíssimo nisso, porque precisa dar aos atletas o suporte psicológico.

Claro que todo mundo vai usar como argumento que eles ganham muito dinheiro (e eu também adoraria sofrer ganhando R$ 100 mil), mas aguentar a pressão, as críticas, os xingamentos, nada disso é fácil, pensando friamente.

Por fim, queria falar ainda o papel do jornalista, que acho que é quem mais apanha dos dois lados. O jogador pode ficar com raiva de um jornalista, como Marinho essa semana. Mas é preciso ser mais consciente dos efeitos que isso gera.

Jogar a raiva nas redes sociais é jogar pra torcida. Aquele mesmo torcedor que perde a mão e xinga jogador, é o que vai ameaçar jornalista (que, definitivamente, não ganha R$ 100 por mês).

O jornalista esportivo tem como ofício ver jogos e fazer avaliações, sempre de forma respeitosa. Claro que há erros, como no jogo em que um comentarista foi desrespeitoso com Raniel e até se retratou depois, mas ameaçar e intimidar não ajuda ninguém. Nem torcedor, nem jogador, nem jornalista.

A crítica vai acontecer e deve acontecer. A avaliação faz parte do esporte de alto rendimento. Tem maneiras de fazer, claro, mas uma crítica não é uma perseguição. E soltar a escalação antes do jogo não é sacanagem, é apuração. O desconhecimento do jornalismo também gera consequências gravíssimas.

Apesar de toda a paixão que o futebol envolve, é preciso lembrar que o jogador é gente. Pode ser sensível (deixem os discursos machistas de lado, por favor), pode se sentir mal com críticas e ser diretamente afetado por isso. Criticar não é desrespeitar, isso precisa estar claro pra todos os lados.

As situações recentes mostram que o torcedor (de forma genérica, não é indireta) precisa de mais noção, mas alguns atletas precisam entender que nem tudo no futebol são flores.