Nesta segunda-feira, o ex-presidente do Santos, José Carlos Peres, participou de uma Live no Canal do Diário para fazer um balanço da sua gestão no clube. Os comentários no chat foram quase todos agressivos ao ex-dirigente e ao DIÁRIO por promover a entrevista.
Quando você olha para o todo, o TransferBan, a contratação de Cueva, a falta de pagamento da Doyen, a dificuldade de relacionamento com os jogadores e outros motivos que levaram ao processo de impeachment saltam aos olhos e todos nós, torcedores, tendemos a achar que nada funcionou no período.
O objetivo da Live, no entanto, não era fazer um julgamento virtual do ex-dirigente, como muitos queriam. A ideia era comparar as propostas com o que foi feito e tentar entender o que deu errado, para que os erros possam servir de exemplo para as próximas administrações.
Por experiência própria, posso dizer que é muito fácil propor soluções quando você está do lado de fora, mas nem tão fácil de executar quando você está dentro.
A minha visão após a Live segue mais ou menos a mesma que eu tinha antes dela e manifestei algumas vezes nos nossos canais. José Carlos Peres se perdeu no segundo ano do mandato, especialmente após a venda do atacante Rodrygo.
E acho que ele ainda não conseguiu enxergar onde o clube saiu do caminho.
Vejam bem. No primeiro ano, sem dinheiro, o Santos contratou Gabigol, Dodô, Sasha, Sánchez e Derlis González, todos jogadores que, ao menos em algum momento, ajudaram. Errou na contratação de Bryan Ruiz, um erro compartilhado com torcedores e influencers que fizeram campanha para o acordo, e na contratação de Felippe Cardoso, indicação do técnico Cuca. Houve apenas um atraso salarial, de três dias.
Em 2019, após a contratação de Jorge Sampaoli (outro grande acerto) e com o dinheiro de Rodrygo (uma grande venda), o Santos achou que era o Novo Rico. Saiu comprando tudo (Soteldo, Aguilar, Everson, Jobson, Felipe Jonatan e Marinho). Comprou vários carros, mas não construiu a sua casa (e não pagou alguns carros).
Peres usou a venda do Rodrygo, a mais cara de toda América, algo muito raro, como um padrão. Como se todos os anos o Santos fosse vender um Rodrygo.
O velho erro de tratar receita extraordinária como receita recorrente.
Acontece que o Santos não vendeu ninguém em 2019. Não vendeu ninguém na janela de janeiro deste ano. E, junto com a pandemia, chegou a conta.
Essa é uma lição para Andrés Rueda e me parece que ele está bem consciente desse desafio, até por já ter uma experiência muito maior no comando de grandes empresas. Não pode ligar os gastos recorrentes com receitas extraordinárias.
E aí que entra o papel do DIÁRIO nessas entrevistas, papel esse idealizado desde a sua fundação. Nós precisamos ao menos tentar aprofundar a discussão.
Os torcedores ficavam pedindo para perguntar onde foi parar o dinheiro do Rodrygo, já com insinuações de que ele foi desviado para fins escusos. Não temos e ninguém tem na imprensa (porque nada foi publicado) documentos, provas de que houve alguma irregularidade.
É mais simples e banal levantar suspeitas do que entender porque o dinheiro do Rodrygo sumiu, assim com sumiu o dinheiro do Neymar, Gabigol, Felipe Anderson e tantos outros. Nós já tentamos explicar (leia aqui).
O problema passa por outros pontos que tentamos abordar na Live, que fizeram parte das promessas de José Carlos Peres e de seis dos seis candidatos na eleição deste ano. O Santos precisa aumentar as receitas ordinárias, com marketing, bilheteria, etc. E precisa reduzir os gastos ordinários.
A promessa de Peres era ter 100 mil sócios, com melhorias do programa. De fato, o Sócio Rei nessa gestão melhorou. Pouco, mas melhorou. A empresa responsável é mais séria, o sócio começou a ter mais benefícios, pontuação. Mas o Santos, no ponto mais alto, chegou a 29 mil sócios, menos de 30% do estabelecido como meta.
Peres apontou a falta de engajamento do torcedor do Santos como um dos desafios para o programa de sócios. É um ponto a ser considerado. Nós temos como parâmetro a nossa audiência no site. Quando o time vai bem, a audiência aumenta. Quando está mal, ela cai.
O sucesso da promoção feita no início da pandemia, no entanto, é um indicador que existe uma demanda reprimida ligada aos valores. O valor mais barato de mensalidade é R$ 27. O Internacional, um dos times com mais sócios no país, tem o plano mais acessível a R$ 10. O Palmeiras tem dois planos mais baratos (R$ 9 e R$ 17), o plano mais barato do São Paulo é R$ 12 e do Corinthians R$ 17.
Em relação aos rivais paulistas, o sócio torcedor do Santos é o único que vota diretamente no presidente. Aí começa um complicador que o presidente precisa resolver. O Estatuto não permite uma mensalidade inferior a R$ 27. Como praticar o mesmo preço que os adversários dando um grande direito a mais (o voto)?
José Carlos Peres prometeu reestruturar a Vila Belmiro. Tivemos, de fato, algumas mudanças pontuais, uma melhoria na oferta de alimentação e a grande cereja do bolo foi a parceria com a W Torre (depois da furada da Bolton) para a Nova Vila. Se a Nova Vila sair, José Carlos Peres será lembrado como o presidente que deu o pontapé inicial no projeto, assim como Luiz Gonzaga Beluzzo no Palmeiras.
Até lá, ele será lembrado pelo torcedor como o presidente que transformou o Santos de um clube devedor em um clube caloteiro (na Live, ele disse que todos os clubes devem para todos os clubes).
E a grande lição que a administração de José Carlos Peres deixa é que o problema do Santos não passa necessariamente pela falta de dinheiro, mas pelo uso correto do dinheiro (que existe).
Confira aqui a íntegra da entrevista:
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