A eleição deste ano no Santos tem tudo para ser um divisor de águas na história do clube. Com o voto virtual utilizado pela primeira vez, mais de 8,2 mil sócios participaram do pleito e, com 48,4% dos votos (3.936), Andrés Rueda foi eleito o próximo presidente do Peixe.
Para efeito de comparação, Julio Casares foi eleito presidente do São Paulo neste sábado com apenas 155 votos (e muito mais cobertura da grande mídia). É uma vergonha.
A eleição deste sábado pode ser um divisor de águas porque, talvez, nunca antes na história do Santos a vontade de toda a sua coletividade tenha sido respeitada. Explico: sem o voto virtual, a vontade do torcedor que mora na Baixada santista sempre teve mais força nos pleitos, principalmente, por uma questão de logística.
Se olharmos para a eleição deste 2017, Modesto Roma Jr foi o segundo mais votado mesmo após ter feito uma das piores administrações do Santos em todos os tempos, pela força do voto da Baixada.
Neste ano, também podemos enxergar esse fenômeno. Nos votos presenciais, Rodrigo Marino, Daniel Curi e Miltinho Teixeira, candidatos muito identificados com a cidade de Santos, foram muito bem votados. Na eleição virtual, os três perderam espaço para Ricardo Agostinho e Fernando Silva.
Antes que comecem as teorias da conspiração, quero deixar claro com todas as letras que esse texto não tem interesse em estimular essa rivalidade tacanha entre santistas de Santos e santistas de São Paulo. O Santos não pertence a eles. O Santos é do MUNDO.
O ponto é que o Santos tem torcida no Brasil inteiro, 1% ao menos dos torcedores em todos os Estados, segundo o Ibope, e todos devem ter a chance de participar da eleição do clube. O pleito não pode ter a característica da eleição para vereador em cidades pequenas ou médias, onde a grande maioria do eleitorado vota em quem conhece e pela possibilidade de ter um cargo na administração, não em propostas de fato.
Até nesse ponto, a eleição de Rueda pode ser um divisor de águas. Ele ganhou disparado tanto em Santos quanto no voto virtual. Vai ter praticamente todo o Conselho Deliberativo (terá todos os membros eleitos, que se juntam aos membros fixos). O torcedor do Santos, seja da Baixada, de São Paulo ou do Acre, acredita que Rueda era a melhor opção. Deu seu voto de confiança ao empresário.
A responsabilidade é enorme.
Acredito que Rueda pode fazer uma gestão tão histórica quanto a sua eleição. Os críticos o comparam com José Carlos Peres, mas, sinceramente, não vejo qualquer semelhança. Peres, desde a ONG Santos Vivo, sempre esteve envolvido com as administrações do clube, foi indicado pelo clube ao G4 Paulista, mas ninguém nunca soube exatamente o que ele fez profissionalmente.
Rueda construiu uma empresa do zero e vendeu por milhões. Profissionalmente, não dá para fazer qualquer tipo de comparação com José Carlos Peres.
O Comitê de Gestão de Rueda é muito qualificado. Tem os CEOs de duas empresas gigantes (Suzano e XP) e, também ao contrário de Peres, o futuro presidente não tem o perfil personalista, de querer tomar as decisões de forma isolada e não através do colegiado, como manda o Estatuto. Nem o vice, José Carlos de Oliveira, me parece alguém louco para tirá-lo do cargo. Tenho ótima impressão sobre José Carlos, aliás.
Do ponto de vista administrativo-financeiro, a gestão tem tudo para colocar o Santos nos trilhos.
Meu ponto de dúvida sobre Andrés Rueda sempre foi a visão sobre o futebol, algo em que ele foi muito atacado nos debates. E a dúvida nem é se ele entende ou não de futebol, como pegavam no pé. Entender todo mundo acha que entende (inclusive eu) e a grande maioria não entende (inclusive eu…rs).
A minha sensação já foi de que ele tem uma visão um pouco simplista, modesta nesse sentido. Um exemplo foi ter citado o Ulrico Mursa como opção para o mando de jogos do Santos durante uma possível reforma da Vila e sem público nos estádios.
O custo de uma reforma para deixar o Ulrico Mursa em uma situação minimamente decente para receber um jogo de Brasileiro (drenagem, gramado, vestiários, cabines de imprensa, etc), sem sombra de dúvida, seria muito maior do que o de alugar um estádio do ABC ou Arena Barueri, por exemplo.
Ter os pés-no-chão é diferente de pensar pequeno.
Ouvi que José Renato Quaresma, do CG, será responsável pelo futebol e muitas pessoas já me falaram que ele entende bastante, mas nunca conversamos sobre futebol. Logo, não posso dar minha opinião.
Na última Live que fiz com Rueda (aqui), ele repetiu uma palavra que uso muito: processos. E disse que o Santos tem de pensar em ser campeão de tudo.
Espero que ele crie os processos no futebol, especialmente no de base. E que ele melhore, de fato, a estrutura. O CT Meninos da Vila é uma vergonha.
No blog que eu mantinha no LANCE! sobre gestão esportiva, escrevi certa vez que o segredo para o sucesso de clubes de futebol passava pelo P.P.E.A. (pessoas, processos, estrutura e ambiente). Leia aqui!
As pessoas Rueda tem em seu CG, os processos precisam ser criados e a estrutura melhorada.
O ambiente depende diretamente desses três primeiros pontos.
Com processos (como o simples pagamento dos salários em dia, por exemplo), você pode até escolher um técnico que possa acrescentar algo tático e técnico para o time e não necessariamente um treinador que tenha como característica principal blindar o elenco dos problemas do clube.
#Ficaadica
Deixar um comentário