Projeto do Santos para 2020 não funcionou (Crédito: Caíque Stiva)

O Santos precisa de uma mudança geral no comando do clube para ontem. O presidente José Carlos Peres, o diretor de futebol William Thomas e o técnico Jesualdo Ferreira não têm mais como seguirem no clube. Se isso não acontecer, o Peixe corre sério risco de cair para a Série B do Campeonato Brasileiro.

Vou explicar porque os três precisam sair.

José Carlos Peres não pode entrar no CT Rei Pelé porque os jogadores estão revoltados com ele, segundo matéria publicada pelo portal UOL. Só isso já seria o motivo para a saída do dirigente, mas ainda temos vários outros fatores. Ele não tem mesmo a chance de ganhar um título em sua gestão, que vai terminar antes das decisões do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Libertadores.

Precisa sair também porque no cenário atual ninguém quer trabalhar no Santos. Se ele demitir o técnico Jesualdo Ferreira e o William Thomas, quem vai aceitar trabalhar no clube? Peres já teve problemas com Cuca, Sampaoli, vetou jogo da Inter de Elano na Vila. Nenhum treinador decente vai assumir a bronca. Executivo já tivemos Gustavo de Oliveira, Ricardo Gomes, Paulo Autuori. O último saiu e deu entrevistas dizendo que, se ficasse no Santos, iria contra os seus valores.

Além disso, José Carlos Peres não se mostrou capaz de levantar mais recursos financeiros para o clube. Ninguém quer colocar dinheiro no Santos no cenário atual.

Vejo três soluções. A melhor delas seria o presidente realmente pensar no bem do clube e se afastar. Ele pode chamar as lideranças do Santos, que estarão na disputa da próxima eleição, e montar um colegiado. Deixa Fernando Silva no comando do futebol (ele já atuou assim em 2010/2011), deixa o Andres Rueda na administração, controle de dívidas, o Ricardo Agostinho na mobilização com os torcedores, Rodrigo Marino no controle do programa de sócios, Miltinho Teixeira no marketing, e por aí vai. José Carlos Peres pode até seguir tocando o projeto de Retrofit da Vila com a W. Torre. É algo importante para o futuro do clube e ele (Peres) tem mérito por iniciar as conversas.

Ainda existe a opção da renúncia, pedida por torcedores, conselheiros e até mesmo por membros do Comitê de Gestão. E a terceira via de saída é através do processo de impeachment, que deverá ser aberto a partir da reunião do Conselho Deliberativo na próxima segunda-feira.

A saída de José Carlos Peres criaria um fato novo, que traria de volta a torcida para o lado do clube, passaria uma sinalização positiva para o mercado e o Santos poderia reagir. Costumo dizer que time grande não cai no campo, cai fora dele. O Santos não pode deixar que isso aconteça.

A segunda mudança precisa ser feita no departamento de futebol. Apesar do discurso bonito, todas as decisões (ou quase todas) de William Thomas foram ruins. Ele não foi contratado para ser o responsável pelo departamento, nunca atuou nessa função na vida e claramente não consegue assumir a missão. Ele seria um ótimo cara para a função que ele foi contratado, um coordenador técnico.

A escolha de Jesualdo Ferreira passou por ele. Não dá para aceitar que, depois de um dos melhores trabalhos de campo do século, o Santos tenha escolhido um técnico que não trabalhava havia seis meses, que tinha como último trabalho de sucesso em alto nível o Porto, encerrado em 2009. Nos últimos dez anos, Jesuado Ferreira teve trabalhos médios ou ruins em times pequenos ou sucesso em mercados alternativos. Com todo respeito, mas títulos no Egito e nos Emirados não credenciam ninguém a trabalhar no Santos.

As escolhas técnicas também foram muito ruins. O Santos abriu mão do Vanderlei (não vão colocar o culpa no Sampaoli porque ele já tinha saído) para ficar com Everson e Vladimir. Um entrou na Justiça seis meses depois, outro entrou em campo contra a Ponte Preta e deu no que deu.

Victor Ferraz não tinha mais clima para seguir no Santos, mas sempre foi um profissional muito valorizado no mercado. Foi trocado pau a pau por Madson, que o Athletico-PR não quis, o Grêmio não quis, chegou machucado e não conseguiu sair da reserva do Pará. E todos nós conhecemos bem o Pará.

Vitor Bueno não deveria ficar no Santos. Foi trocado por Raniel, que passou quase todo o ano passado lesionado e no jogo mais importante do Peixe em 2020 estava onde? No departamento médico. Histórico tem de ser levado em consideração na decisão.

Se você não tem dinheiro para contratações, tem de ser criativo e usar bem os recursos que tem. O departamento de futebol do Santos não usa (ou não tem).

Além de contratar jogadores, o responsável pelo departamento de futebol de um clube tem duas missões muitos difíceis: comandar o dia a dia e aparecer para apagar os incêndios. Faz parte do “Job description”.

Só neste ano, o Santos teve o abandono do Cueva (foi o DIÁRIO que informou ao Santos onde ele estava, o clube não sabia). A saída do jogador ainda pode provocar um grave problema financeiro para o clube. Teve a rescisão unilateral do Bryan Ruiz, com até a alegação de danos morais e pedido de indenização de R$ 10 milhões. Foi o departamento de futebol que acho legal colocá-lo para treinar no Santos B. Teve as saídas de Everson e Sasha. Teve reclamações públicas dos jogadores dizendo que não conseguem conversar com a diretoria.

Tudo isso poderia ser evitado com uma boa administração do departamento de futebol. Não dá para ficar culpando o presidente Peres por todos os problemas do mundo.

Copete está treinando no time B e Arthur Gomes entrou para resolver o problema do Santos contra a Ponte Preta. Alguém tem dúvida de que o colombiano é um jogador melhor? (o que, é verdade, não significa muito). Logo mais Copete vai ser outro a entrar na Justiça para pedir indenização por dano moral.

Sobre apagar os incêndios, alguém viu o responsável pelo departamento de futebol dar alguma entrevista para explicar as decisões tomadas pelo clube, como o corte unilateral de 70% dos salários? A única entrevista que eu me lembre foi para falar da carreira como preparador físico do Lucas Leiva, os estudos em outros países e o planejamento para evitar que o Santos perca jogadores de graça.

Yuri Alberto fica sem contrato nesta sexta e a decisão de liberá-lo para a Seleção Sub-23 e colocá-lo em campo no clássico contra o Palmeiras, mesmo sem assinar a renovação, foi do departamento de futebol.

Chegamos no técnico Jesualdo Ferreira. Um profissional que mostrou um caráter fenomenal, especialmente após a pandemia do coronavírus. Ninguém pode falar um A da postura do técnico fora de campo.

Mas dentro de campo, para a função que ele foi contratado, Jesualdo Ferreira não mostrou serviço. O Santos terminou o Campeonato Paulista com 41% de aproveitamento. Foram quatro vitórias, quatro empates e cinco derrotas. Na Libertadores, a liderança não representa o desempenho. Ganhamos do Defensa y Justicia no contra-ataque, depois de levar sufoco o jogo todo. Contra o Delfin, susto na Vila e o gol em bola parada.

Bola parada, aliás, que nunca funcionou defensivamente. E não funciona porque Jesualdo Ferreira insiste em um tipo de marcação, em linha, quase em cima da pequena área, que não funciona. A Ponte ganhou TODAS as disputas pelo alto.

Jesualdo Ferreira não conseguiu corrigir os problemas de marcação pelo lado esquerdo da defesa. Prendeu Felipe Jonatan, não resolveu o problema e ainda perdeu o lateral na sua melhor característica, o apoio ao ataque. Além da demora para as substituições, Jesualdo tem escolhido errado as trocas. Contra a Ponte, deveria ter entrado Jobson e não Arthur Gomes. E já no intervalo, não precisa esperar tomar o empate.

O Santos de Jesualdo Ferreira não sabe jogar com um homem a mais e nem com um a menos. Ficou com um a mais contra o Guarani, tomou um sufoco danado e ganhou em um gol espírita em falta do Jean Mota. Ficou com um a mais contra o Corinthians e em nenhum momento conseguiu ameaçar o rival.

Quando ficou com um a menos, o time foi uma tragédia. Ganhava de 1 a 0 do São Paulo e sofreu a virada, ganhava de 2 a 0 do Novorizontino e perdeu por 3 a 2, ganhava da Ponte e perdeu por 3 a 1.

Um bom técnico sabe que precisa treinar a equipe durante a semana para jogar nas duas situações, um a menos e um a mais. O Santos mostrou que não sabe jogar de nenhuma das formas.

O Santos hoje tem um elenco limitado e nos três pilares de gestão não me parece ter gente competente para mudar a situação. Por isso, uma mudança só em uma das pontas não é suficiente para resolver os problemas.

É hora de uma revolução!