Por Miro Neto, Especial para o DIÁRIO DO PEIXE

Em suas primeiras e ricas manifestações como técnico do Santos – na entrevista coletiva de apresentação e em artigo no jornal português O Jogo -, Jesualdo Ferreira expressou enorme reverência ao Alvinegro. Em palavras ditas e escritas, demonstrou sentir-se orgulhoso por ter a oportunidade de comandar um clube sul-americano tão tradicional.

A noção que demonstra ter da grandiosidade do Santos advém de um admirável conhecimento histórico do clube. Além de indicar ser um obcecado pela história, seus contextos e caminho – o professor, como gosta de ser chamado, deu pequenas aulas sobre a dinâmica do futebol mundial e a presença de técnicos brasileiros em Portugal -, também remexeu em sua memória afetiva.

Jesualdo recitou a lendária formação com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Uma linha que fisgou seu coração quando garoto ao presenciar a final do Mundial de Clubes de 1962. Os 5 a 2 no Benfica, no estádio da Luz, em Lisboa, que Pepe costuma citar como a maior exibição de futebol que atestou e protagonizou como atleta.

Antes de ser apresentado oficialmente, o treinador fez um passeio pelo Memorial das Conquistas. Um evento registrado com competência pela Santos TV. Trocou palavras carinhosas com Lima, Dorval, Mengálvio e Edu e contemplou os troféus e fotos de “um passado e um presente só de glórias”, como verseja o hino oficial.

Na entrevista, exaltou o fato de haver no vestiário da equipe, acima do nome dos atletas do elenco atual, a lista daqueles que vestiram cada uma das camisas. Ao observar esse detalhe, acabou por ilustrar a importância da memória permanente, algo que pretende firmar na mente dos jogadores. Que tenham a dimensão do manto que envergam e quem foram, e o tamanho que têm, aqueles que os antecederam.

No texto veiculado no último domingo (12) em O Jogo, Jesualdo fartou-se no uso do substantivo história, também em sua variante adjetiva “histórico”, ao referir-se ao Santos para os leitores portugueses: “(…)O Santos é um clube histórico do futebol mundial(…)”, “(…)O jogo de estreia é contra o Bragantino, em Vila Belmiro, um palco cheio de história(…)”, “(…)Santos, que já ganhou tudo em toda a história da sua vida(…)”.

Por ser um técnico com expressivo currículo e que goza de muito respeito entre seus pares portugueses, Jesualdo foi um acerto da diretoria para substituir Jorge Sampaoli. E ao iniciar sua história no Santos, aos 73 anos, com tamanha devoção pelo clube, gera boas expectativas.

Inúmeros fatores dialogam para o êxito ou fracasso de um trabalho, ainda mais no ambiente imediatista e complexo do futebol. Mas antes de a bola rolar e o campo dar respostas mais específicas, é inegável que o novo técnico santista candidata-se com elegância e sabedoria a tomar alguma parte na história do clube.