Rueda precisa administrar a primeira gestão de crise no Santos (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

O projeto administrativo do Santos na gestão de Andres Rueda dá sinais muito positivos, como a tão elogiada coletiva dos 100 dias há pouco mais de suas semanas. No entanto, o projeto esportivo se perdeu nos últimos dias, culminando com a saída do técnico Ariel Holan, contratado para liderar um trabalho de 3 anos.

Em quatro meses, Andres Rueda precisa administrar sua primeira crise. Primeira porque certamente outras acontecerão, como é comum no futebol brasileiro. E acho que, surpreendentemente, a gestão de crise começou muito mal (ou nem começou).

Eu digo que é surpreendente porque Andres Rueda é um profissional do mercado corporativo. O seu Comitê de Gestão tem pessoas como Walter Schalka, CEO da Suzano, e José Berenguer, CEO da XP. No mundo corporativo gestão de crise é uma coisa natural, corriqueira. Ao menos os três citados precisaram dar um caminho para o clube.

Para escrever esse texto consultei até o Mauro Teixeira, um dos sócios-fundadores do DIÁRIO e uma das maiores autoridades em gestão de crise no mercado brasileiro.

O primeiro ponto em uma gestão de crise é perceber que ela existe. O discurso inicial de que era um trabalho de reconstrução, de que seria necessário um sacrifício, cortar na carne, já perdeu efeito com a grande maioria dos torcedores. Ele precisa ser reforçado com outras atitudes e posicionamentos.

O segundo ponto é estabelecer quais as atitudes serão tomadas para superar a crise. Na minha visão, o caminho passa por cinco ações:

1 – Encontrar um responsável pelo Departamento de Futebol
2 – Junto com o responsável, encontrar um técnico
3 – Responsável e técnico precisam deixar no elenco quem pode e quer ajudar
4 – Juntos precisam buscar peças para o setor mais carente do time, o meio-campo
5 – Buscar peças para outros setores, começando com as laterais

O terceiro ponto é indicar um porta-voz. Dar um treinamento a ele e escolher em quais canais ele vai se posicionar. A escolha do porta-voz tem de ser feita com base no tamanho da crise. Pode ser um diretor ou o próprio presidente, CEO, etc.

O Santos ainda está em silêncio.

Como é a primeira crise e uma crise esportiva, não institucional, acredito que o porta-voz deveria ser o responsável pelo departamento de futebol. Mas aí eu volto ao ponto anterior: quem é o responsável pelo departamento de futebol do Santos: José Renato Quaresma, membro estatutário do Comitê de Gestão, ou Jorge Andrade, gerente de futebol remunerado?

Qualquer instituição precisa de uma liderança. No ambiente do futebol ela se faz ainda mais necessária.

Quando a liderança não existe, você não pode exigir nada dos liderados.

O Santos precisa definir logo quem é o líder do departamento de futebol e essa pessoa precisa aparecer para dar satisfação aos torcedores, sócios, etc.

Se o projeto esportivo naufragar, será muito difícil manter o projeto administrativo.