Marinho desabafou sobre a sua situação no Santos nesta terça (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

Janeiro de 2021: Santos finalista da Copa Libertadores e Marinho eleito o Rei da América.

Setembro de 2021: Santos em crise no Brasileirão, Marinho sem jogar há um mês, cobrando a saída e revelando erro médico e propostas recusadas pelo clube.

Em um intervalo de nove meses, (talvez) o principal jogador do Santos se voltou contra o clube e despertou uma revolta dos torcedores mais fanáticos.

A explosão de Marinho na Live com o jornalista Ademir Quintino foi motivada por um simples problema de comunicação, mas deixou clara uma sucessão de erros em todo o período, culminando com um erro gravíssimo do atleta (a própria entrevista).

Quem já viveu um pouco dentro do vestiário de um clube de futebol consegue imaginar facilmente o que aconteceu e vou tentar colocar a sequência dos fatos aqui para vocês entenderem.

No final da tarde desta terça-feira, a assessoria de imprensa do Santos informou aos setoristas que o zagueiro Luiz Felipe, o lateral-direito Madson e o atacante Marinho haviam treinado normalmente no CT Rei Pelé. Toda a imprensa, inclusive o DIÁRIO, publicou a informação.

No final da tarde, Marinho foi às redes sociais para negar que tivesse “treinado normalmente, como alguns falaram por aí”.

Aqui, nós precisamos pensar sob a ótica do jogador. Como disse na entrevista, Marinho se sentiu desprotegido pelo clube, que não deixou claro o erro médico e não informou a suposta cirurgia para proteger o departamento médico.

O Santos optou por defender alguém que errou e deixou seu (talvez) principal jogador exposto aos comentários de “chinelinho” e outras dúvidas sobre o seu comportamento.

Marinho provavelmente encarou a informação de que havia “treinado normalmente” como o clube o jogando mais uma vez aos leões (torcedores). Afinal, quem treina normalmente na terça deve jogar no sábado, certo? Ou estará fazendo corpo mole. E Marinho deixou claro na entrevista que ainda não tem condições de jogo.

Quando os boatos de “erro médico” começaram, o Santos deveria ter se pronunciado. Bastava gravar um vídeo na Santos TV com o responsável pelo departamento explicando o caso e deixando claro que havia um problema, que o jogador não estava fazendo corpo mole.

Foi essa a sugestão que eu dei para pessoas do clube. Me responderam que o Santos não podia se pronunciar a cada boato surgido na internet.

Eu ainda rebati: “caros, não é um boato qualquer. Envolve (talvez) o melhor jogador do clube”.

O Santos não se posicionou e o assunto explodiu na Live desta terça.

Marinho também reclamou de não ter sido vendido e nem recebido um aumento ou “plano de carreira”. Rueda confirmou ter recusado as propostas que chegaram ao clube pelo atacante pelo valor considerado insuficiente.

Nesse caso, fica muito difícil opinar sem conhecer todas as informações, como o valor pedido pelo Santos (se foi um valor condizente com o mercado para o jogador) e sem saber como foi a conversa com o próprio atacante (me parece, pela entrevista, que não houve uma conversa clara).

O Santos não é obrigado a vender jogador só porque ele quer, mas fez isso com Lucas Veríssimo, Luan Peres e Soteldo (Diego Pituca acho que foi um pouco diferente). Como Marinho disse na Live, o clube vendeu todo mundo, menos ele. A “regra” para alguns não serviu para outro e isso tem um peso enorme no vestiário.

De novo, me parece que faltou uma melhor comunicação entre o clube e o atleta.

Como administrar a crise?

Primeiro, uma conversa olho no olho com o atacante. Se ele confirmar que quer sair, o clube deve lhe informar o quanto quer para liberá-lo. Precisa informar ao empresário o valor e pedir para ele trazer propostas.

Comunica a decisão ao torcedor. “Marinho pediu para sair o clube vai liberá-lo se chegar uma proposta que atenda às condições do Santos”.

E coloca para jogar enquanto a proposta não chegar. Quanto melhor for o desempenho do atacante, maior será a chance dele realizar o seu desejo de deixar o clube. E o torcedor estará atento para fiscalizar as condutas do clube e do atleta e já preparado para a saída de um grande jogador.

Marinho tem 31 anos e contrato até o final de 2022. A temporada de Rei da América foi, disparada, a melhor da sua carreira.

O desejo dele de capitalizar em cima do bom momento é justo, como também é justo o desejo do Santos de conseguir o melhor valor possível pelo seu (talvez) melhor jogador.

Seria preciso uma boa conversa para que os desejos das duas partes fossem conciliados e o caminho apontasse para a harmonia, mas o caminho apontou para o conflito.

É uma pena.

Veremos mais um jogador que teve destaque no Santos deixando o clube de uma forma não muito legal.

Não podemos ficar culpando apenas os atletas.