Rueda tem mais dois anos de mandato no Peixe (Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

O “mundo corporativo” tem algumas expressões clichês que, muitas vezes, são um saco. É o tal de “pensar fora da caixinha”, “sair da zona de conforto” e algumas outras frases ditas nos processos de “coaching” para todo mundo “bater meta” e viver feliz para sempre.

Tenho bode de muitas dessas expressões, mas uma que eu aprendi nos meus tempos de Red Bull levo para a vida, o “olhar 360°”. É tentar observar as situações de todos os ângulos para extrair a melhor decisão possível.

Bem, acho que falta um “olhar 360°” para o Santos do presidente Andrés Rueda. Falta olhar mais para o mercado e menos para o próprio umbigo.

O que eu quero dizer com isso?

O Santos hoje vive um processo de saneamento financeiro. O objetivo da gestão é diminuir as dívidas, reduzir os custos e buscar um equilíbrio financeiro. E eles acertam muito nesse processo. Se o clube fosse uma instituição isolada, todo esse processo deveria ser aplaudido de pé, muito mais do que é, de fato.

O problema é o mercado e o Santos precisa olhar para ele. O clube compete com outros e essa competição tem papel fundamental nas possíveis receitas, que são importantes para o tal equilíbrio financeiro.

Se dentro do mercado você atua de forma legal, honesta, respeitando os regulamentos e outros clubes não fazem o mesmo, você tem uma desvantagem competitiva.

O Corinthians, que tem dívida maior que a do Santos, que não pagou salários de jogadores das categorias de base, contratou jogadores com salários na casa do Milhão e ainda sonha (sonho meu, sonho meu…) com Luis Suárez e Cavani. O São Paulo, que tem dívida milionária com Daniel Alves, quer Soteldo, Douglas Costa, etc.

Esportivamente, vocês acham que o melhor desempenho em 2022 vai ser do Santos com seu equilíbrio financeiro que não consegue pagar os salários pedidos por jogadores com idade avançada e desempenho duvidoso como William e Rodriguinho (ainda bem) ou do Corinthians com Cavani (hahaha) e do São Paulo com Soteldo?

Ah, mas o Santos lá na frente vai se beneficiar desse processo enquanto Corinthians e São Paulo vão ter problemas.

Não, não vão.

Ao menos não vão se o mercado seguir sem uma regulamentação. O Manual de Licenciamento de Clubes da CBF existe, mas não é colocado de fato em prática. Não existe fair play financeiro de verdade.

O futebol brasileiro protege clubes tradicionais e suas administrações ruins. A Lei da SAF é mais um Profut para tentar ajudar clubes que não conseguem se organizar. A Lei não regulamenta a SAF, ela dá uma oportunidade de empurrar as dívidas para um limbo para que os clubes possam criar novas dívidas.

Em poucos anos esses clubes vão falir e algum outro projeto de lei será criado, com qualquer outra desculpa, para continuar salvando os incompetentes.

Não acho que o caminho para o Santos é ignorar o equilíbrio financeiro e contratar o Messi, o Mbappé ou repatriar o Neymar, mas acredito que o Peixe, até pela sua importância histórica, pode muito bem liderar o processo de adequação (criação) do mercado.

Esse processo começa com uma cobrança para que o Manuel de Licenciamento de clubes seja, de fato, colocado em prática, com uma liderança na criação de um fair play financeiro real, que possa rebaixar clubes com gestão temerária e com um movimento forte no sentido da criação de uma Liga de Clubes.

Voltando às expressões do mundo corporativo, o Santos não pode ser um “Trend Follower”.

O Santos precisa ser um “Trend creator”.