Kaiky voltou ao time titular do Santos contra o Red Bull Bragantino (Crédito: Ivan Storti/SantosFC)

O torcedor do Santos, em sua maioria, tem uma relação curiosa com os Meninos da Vila. Quando eles não estão em campo, o torcedores pedem as suas entradas. Quando eles entram, alguns santistas adoram criticar no primeiro erro e mandar um carimbo de “esse não serve para nada”.

Na sua melhor partida com Fábio Carille, contra o Red Bull Bragantino, o Santos teve entre os destaques Kaiky (17 anos), Pirani (19 anos) e Ângelo (16 anos). Outros jogadores, como Zanocelo, foram bem, mas nesse texto eu vou tratar apenas dos jogadores revelados pelo clube.

Com 17 anos, Kaiky já tem 32 jogos com a camisa do Santos, já fez gol na Libertadores e já ouviu que é baixo, lento e erra muito passe. Ele erra mesmo alguns passes justamente porque não tenta o mais fácil. Ele tenta construir as jogadas, o passe entre linhas, os lançamentos, como o que deu para Marcos Guilherme no lance em que quase saiu o gol de Lucas Braga.

Tem torcedor que prefere o zagueiro que dá um monte de passe para trás ou para o lado e tem 94% de acerto no Sofascore. Eu prefiro o Kaiky com 80% de acerto em passes que iniciam as jogadas ofensivas do Santos. Acho que os principais clubes da Europa, que o monitoram desde o Sub-15, também.

A zaga é uma posição em que os jogadores normalmente conseguem espaço mais velhos. Marquinhos quase não jogou no Corinthians com 17 anos (Tite queria utilizá-lo como volante), Thiago Silva só jogou na Série A do Campeonato Brasileiro com 22 anos. É muito fora da curva o que o Kaiky está fazendo no Santos.

Pirani tem 19 anos e já soma 56 jogos com a camisa do Peixe. Assim como Kaiky, ele erra. Muitas vezes, erra também porque tenta a jogada mais difícil. Esse para mim é o grande mérito do Pirani no Santos. Ele não se omite. Seja o drible ou a finalização de fora da área, o garoto está sempre buscando algo diferente.

Pirani já foi intimidado no hotel antes da última rodada do Paulistão, já ouviu que não tem corpo para ser jogador de futebol e até vaias em jogos do Santos. E lá está ele correndo risco de errar lances difíceis e dando a cara para bater.

Ângelo tem 16 anos. O torcedor adora pedir o garoto no time titular e vaiar quando ele erra algum drible. São 44 jogos no profissional, gol em Libertadores, presença em lista tradicional do The Guardian como uma das 60 maiores promessas do futebol mundial. E mesmo assim, basta um erro, para o torcedor apontar o dedo.

Enquanto Kaiky, Pirani e Ângelo entravam em campo contra o Red Bull Bragantino, Marcos Leonardo era o capitão e fazia três gols em vitória da Seleção Brasileira Sub-18 diante dos Estados Unidos em torneio no México. Ele mesmo, que já foi chamado de “pereba” por alguns torcedores, apesar de ser o recordista de gols na história do Paulista Sub-15, ter sido artilheiro e melhor jogador da Copa Nike, ter se destacado em todas as categorias de base da Seleção Brasileira.

Nenhum desses quatro jogadores está pronto para o profissional. Em outros clubes talvez eles nem tivessem estreado ainda. Gabriel Pereira subiu ao profissional do Corinthians com 19 anos e só teve espaço mesmo com 20, por exemplo. A tradição de “apostar na base” e a necessidade anteciparam etapas para esses quatro jogadores no Santos.

Kaiky, Pirani, Ângelo e Marcos Leonardo ainda vão errar muito nos próximos jogos, ainda vão falhar. Mas a torcida do Santos precisa entender que a salvação do clube passa pelo aproveitamento deles nos próximos anos (retorno técnico) e também por suas vendas (retorno financeiro).

É hora de a torcida que apoia a base realmente apoiar a base.