Nossa colunista Anita Efraim escreve sobre a luta da mulher no meio do futebol (Crédito: Arquivo Pessoal)

Não acredito que o Dia Internacional da Mulher seja um dia e comemoração. Acho que é um dia de reflexão, de repersarmos nossas atitudes – até porque, mulheres também reproduzem o machismo. Hoje, quero falar sobre como cada um trata mulheres que conseguem alcançar posições de destaque.

Tem centenas de homens que trabalham com futebol no Brasil. Talvez até milhares. Mas é muito mais fácil ver nomes de mulheres que atuam na área alcançarem os trending topics do Twitter, quase sempre sendo criticadas. Por que?

Quando você liga a TV pra ver aquele seu joguinho e o comentarista não é do seu agrado, mas é um homem, quanta raiva aquilo desperta em você? E se é uma mulher, esse ódio é diferente? Essa pergunta é retórica, porque eu sei que pra muitos há, sim, uma diferença. Sinto na pele essa diferença.

Acho que muitos amantes do futebol já sonharam em ser comentaristas, repórteres, narradores. Mas nem todo mundo persegue esse sonho, às vezes até tentam, mas não dá certo. Minha sensação é que, quando uma mulher chega lá – ou chega mais perto do que um homem desse lugar – um ódio desmedido toma conta dele. E isso é despejado em nós, mulheres, especialmente nas redes sociais, onde muitos não têm cara nem nome.

Tenho dois bons amigos, um homem e uma mulher, que são produtores de conteúdo sobre Santos. Quando o time perdeu a final da Libertadores para um rival, um deles teve o canal invadido por torcedores rivais, xingando e ridicularizando. Qual deles vocês acham que era? A mulher.

Obviamente, eu preferia que nenhum dos dois tivesse passado por isso, mas preciso explicar o motivo de minha amiga ter passado por isso, mas meu amigo não. Muitos homens acham que a mulher é “o lado mais fraco”, que são mais fortes e poderosos que elas e, por isso, podem trata-la do jeito que quiserem. Não, não podem.

Ser mulher e cavar um espaço no mundo do futebol não é nada fácil. É preciso ser muito forte pra conseguir se manter nesse lugar, mesmo com os ataques diários, com o menosprezo, com o preconceito.

O momento mais emblemático que vivi foi o do caso Robinho. Eu e muitos santistas fomos agredidos verbalmente ao nos posicionarmos contra a volta do jogador, na ocasião condenado por estupro em primeira instância e agora em segunda. Mas os ataques contra mim, uma mulher se posicionando contra a contratação de uma pessoa condenada por estupro, foram muito mais violentos.

Minha vivência me leva a crer que o ódio contra mim e às colegas, feito de forma tão desproporcional, é parte de uma frustração de tantos homens que queriam estar no nosso lugar. Mas quantos deles já pararam para pensar no que passamos para chegar até aqui? No meu caso, “aqui” ainda não é tão longe, mas só de não ser uma torcedora “anônima”, muitos direcionam esse ódio a mim. E eu duvido que, no nosso lugar, aguentariam o que aguentamos com tanta frequência.

Além disso, a mulher não tem o direito a ser medíocre. Tem inúmeros homens que trabalham com futebol e são regulares, na média, medíocres. A mulher precisa sempre ser excepcional, perfeita, ter 100% de acerto. Caso não seja, será condenada pelo tribunal dos torcedores e, como punição, pode ir parar nos trending topics do Twitter.

Por fim, vale o pedido: parem de incentivar a rivalidade entre mulheres. Parem de nos comparar. Cada uma tem seu jeito, um pode bater mais com o seu e outro menos, mas não quer dizer que haja uma competição entre nós. A ideia de colocar mulheres umas contra as outras, muitas vezes, é medo, porque sabem que juntas somos muito melhores.

No Dia da Mulher, podem nos dar parabéns, mas não pelo dia. Nos parabenizem pela nossa luta, pela nossa resiliência, pela nossa força por, todos os dias, enfrentar o ódio direcionado à nós.