Santos está invicto na Copinha (Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

O Santos já igualou nesta temporada sua melhor campanha na Copa São Paulo de Juniores desde a conquista do tricampeonato, em 2014. Se passar pelo Mirassol nesta terça-feira, vai superar a campanha de 2018, quando parou nas quartas de final diante do Internacional.

A boa campanha do Peixe ampliou os olhares dos torcedores para Lucas Pires, Lucas Barbosa, Weslley Patati e Rwan Seco, entre outros, mas é bom deixar claro que a promoção e o sucesso no profissional depende de muitos outros fatores do que o desempenho na Copinha.

Do time campeão em 2013 apenas um jogador está atuando no primeiro nível mundial, o lateral-esquerdo Emerson Palmieri, que defende até a Seleção da Itália. O destaque da Copinha foi o volante Leandrinho, que jogava no meio-campo ao lado de Lucas Otávio, Pedro Castro e Léo Citadini.

Pedro eu levei para o Botafogo-PB quando era executivo de futebol, em 2016, e lá ele retomou sua carreira. Nos últimos anos manteve um bom nível em clubes da Série B do Brasileirão. Léo Citadini tem espaço no elenco do Athlético-PR e Lucas Otávio já encerrou a carreira.

Nenhum jogador do time campeão está no Santos de hoje. Tinha Giva, Neílton, Stéfano Yuri e Lucas Crispim, entre outros.

Do time campeão em 2014 apenas João Paulo, John e Daniel Guedes estão no elenco do Santos de 2022. Nenhum jogador ganhou destaque no primeiro nível do futebol mundial. Talvez o meia Serginho, hoje no Japão, seja o atleta com maior destaque em um time que tinha Zeca, Paulo Ricardo, Nailson, Fernando Medeiros, Diego Cardoso e João Pedro, entre outros.

Em 2015, o Santos foi eliminado na primeira fase depois de ficar atrás de Linense e Penapolense. O time, no entanto, tinha ao menos três jogadores com destaques no futebol mundial: Lucas Veríssimo, hoje no Benfica, Caio Henrique, hoje no Monaco, e Claudinho, atualmente no Zenit. Os goleiros João Paulo e John são os únicos jogadores no elenco atual.

Em 2016, o Santos foi eliminado na segunda fase pelo Ceará, com John e Caio Henrique titulares ao lado do lateral-direito Igor Vinícius e do atacante Arthur Gomes. Robson Bambu era banco.

Em 2017, o Peixe foi eliminado pelo Avaí na terceira fase. Andre Anderson, atualmente na Lazio, é o jogador daquele time com mais destaque no futebol profissional. A promessa da equipe era Anderson Ceará e o oba-oba era em cima do atacante Nícolas Bernardo, que não chegou a atuar no profissional. Com o empréstimo de Ceará, o único jogador do elenco no time profissional do Santos atualmente é Guilherme Nunes (e deve sair em breve).

Em 2018, o Santos chegou nas quartas e a torcida vibrava com Tailson, Walison Madalena e Gabriel Calabrês. O primeiro esteve emprestado no ano passado e voltou na pré-temporada, mas tem futuro incerto. Walison Madalena foi campeão da quarta divisão de São Paulo ano passado pelo União Suzano e Gabriel Calabrês está no Cianorte.

Wagner Leonardo era titular, Vinícius Balieiro, Sandry e Kaio Jorge eram reservas na equipe, que tem a mesma campanha do Santos de 2022 até então.

Levantei o histórico para mostrar que é preciso ter calma com os jogadores. A promoção depende de oportunidade, de posição, de maturação e de boa cabeça, entre outras coisas.

“É importante evitar queimar etapas. O jogador precisa estar pronto para chegar no profissional e permanecer no profissional. Quando a gente queima etapas a permanência dele no profissional fica mais difícil. Chega necessitando fazer ajustes na parte técnica. É isso que a gente quer criar na base do Santos para que a gente possa avaliar bem todas as etapas e escolher o melhor momento dele subir ao profissional”, afirmou o gerente Guilherme Lipi, em entrevista coletiva nesta segunda.

É quase um alerta.

O Santos tem um time-base com sete jogadores que já estouraram a idade da base (Diógenes, Sandro, Lucas Pires, Jhonnathan, Ed Carlos, Lucas Barbosa e Rwan Seco). Sandro, Jhonnathan e Lucas Barbosa já tiveram chance no profissional ano passado e não se destacaram. O primeiro, especialmente, fez jogos bem ruins.

Não fosse a imagem dos jogos ruins de 2021, talvez Sandro pudesse ser uma aposta para uma das opções mais carentes do elenco. Pessoalmente, ainda tenho muitas dúvidas sobre a evolução dele no profissional, mas talvez fosse o caso de renovar por mais um ou dois anos (contrato dele termina em novembro) e emprestar para ganhar um pouco mais de bagagem.

Lucas Pires é um lateral promissor, com destaque ofensivo e também em um setor carente do time. No entanto, tem a mesma característica de Felipe Jonatan, com o mesmo ponto fraco, a marcação. Tenho mais esperança em Pedrinho, que tem uma qualidade maior na marcação e na criação pelo meio, mas é outro que tem contrato no final e pode ser emprestado para ganhar rodagem.

No profissional, Jhonnathan jogou como zagueiro e lateral-esquerdo e não foi bem. Na Copinha, atuou como primeiro volante e alternou bons e maus jogos. Ele tem o perfil físico que todo técnico sonha para um primeiro volante. É alto, tem imposição física. Como também é uma posição muito carente e ele se mostrou muitas vezes um jogador bem centrado, não duvidaria dele ter espaço como 5 durante a temporada.

Ed Carlos tem muita qualidade técnica, mas zero intensidade. Na base, que tem um rimo mais devagar, a falta de intensidade em alguns jogos não faz muita diferença. No profissional, faz. Se ele não melhorar o condicionamento físico, enxugar, não vai jogar.

Lucas Barbosa é, na minha opinião, o jogador mais pronto para subir (até porque já viveu essa experiência). Como todo jogador muito alto, ele precisa estar sempre bem fisicamente para conseguir se destacar. O desafio para ele é o mesmo de Ed Carlos, conseguir ser intenso por mais tempo.

Rwan para mim ainda está mais próximo de Walison Madalena do que de Kaio Jorge e Marcos Leonardo. Ele já está no limite da idade, tem uma vantagem física pela estatura diante dos garotos da Copinha, não teve muito trabalho de base, falta muito fundamento. Talvez seja mais um caso de maturação tardia, mas também precisa de um planejamento antes de subir. Um empréstimo, talvez.

O Santos precisa (e muito) cuidar bem de Jair Paula e Weslley Patati. O primeiro é muito fora da curva. Tem apenas 16 anos e joga como um adulto, é um dos destaques do Peixe na Copinha (o maior para mim) e um potencial de crescimento enorme. Precisa ser trabalhado, precisa de um plano de carreira, para subir e não sair mais (antes de ser vendido por alguns milhões, é claro).

Patati é um garoto que há dois anos nem tinha chuteira para jogar futebol. Teve uma trajetória meteórica no Santos pelo enorme talento que tem, mas ainda está longe de ter a sua formação completa (até porque sua formação começou, de fato, em 2019). É outro que precisa ser tratado com carinho e protegido pelo clube.

Proteger passa por boas entrevistas como as de Dracena e Guilherme Lipi nesta segunda.

Se a teoria for para a prática, poderemos dizer realmente que o futuro é alvinegro.