Bustos tem 11 jogos no comando do Santos (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

O Santos é líder em pontos do Campeonato Brasileiro (com sete) e vice-lanterna no ranking de posse de bola da competição (com 42,45% em média, segundo o Footstats – o melhor site de estatísticas no Brasil), na frente apenas do Cuiabá, que tem 41%

Se o lema da equipe em 2019, com Jorge Sampaoli, era “amor pelo balón”, em 2022, com Fabián Bustos, o lema parece ser o contrário, “ódio pelo balón”.

O Santos não gosta de estar com a bola e não sabe muito o que fazer quando está com ela.

E pode estar tudo bem.

Como muitos torcedores dizem, “posse de bola não ganha jogo”.

Não existe apenas um caminho para vencer, já escrevi isso aqui diversas vezes.

O Santos de Fabián Bustos é um time que se defende, especialmente quando joga fora de casa, e busca sempre um jogo vertical, de contra-ataque, como o lateral-direito Madson explicou em uma boa entrevista ao GE.com essa semana.

“Ele pede um jogo vertical, direto. Em alguns momentos, a equipe não tem tanto a posse de bola. Acho que por característica. O Santos é uma equipe de muita troca de passes, muita envolvência, mas nesses últimos jogos não vem tendo. Porém, o time vem sendo bem vertical e isso está dando resultado, até pelo jeito que a equipe vem jogando, num 4-2-4, com quatro atacantes”, afirmou Madson.

Os “reforços” contratados pelo Santos para o segundo semestre “casam” com o estilo de Bustos. Rodrigo Fernández é fundamental para roubar as bolas e dar a possibilidade para a equipe sair em contra-ataque. William Maranhão, em tese, tem o mesmo perfil.

Jhojan Julio é a cara do time de Bustos e, por isso, está quase sempre em campo com o treinador. Com a bola ele sofre. Sem ela, ajuda na recomposição e sai correndo no contra-ataque. Angulo ajuda na marcação dos zagueiros e também não pode ter a bola por muito tempo. Ele tem de dar apenas um toque nela, como no gol contra o La Calera. Se tiver de dar dois ou mais, já complica um pouquinho.

O Santos, como Madson disse acima, não tem meio-campo. Joga com quatro atacantes. Bustos teve a chance de contar com Alan Patrick, mas não se empolgou e o meia foi para o Internacional (também havia uma dúvida clínica sobre as condições deles).

Jogar em transição, ter pouca posse de bola não é um problema e dá resultado, como tem dado no Campeonato Brasileiro. Só que a transição do Santos ainda não me parece muito organizada.

A única jogada clara do time depende do talento do garoto Ângelo. Ele pega na direita, corta para o meio e tenta criar alguma coisa. Contra o Coritiba, na Vila, pelo Brasileirão, ele deu um lançamento para Léo Baptistão no facão e saiu um gol. Contra o América, na Vila, ele cruzou para Marcos Leonardo marcar e chutou no lance que originou o primeiro gol de Vinícius Zanocelo. Contra o La Calera cruzou e, no rebote da zaga, Angulo marcou.

Fico, de fato, na dúvida se os resultados que tem aparecido são mais méritos da proposta vertical de Bustos ou do talento de Ângelo e Marcos Leonardo (que, além de marcar contra o América, criou o lance do gol vitória sobre o Coritiba na Vila Belmiro).

É tarefa do treinador criar um esquema de jogo para potencializar as qualidades dos seus atletas.

Ainda (e pode ser que mude) não vejo isso no Santos.

Vejo o time jogando um futebol de resultado e, como disse, está conseguindo.

Com os resultados, Bustos vai ganhando tempo para tentar melhorar a qualidade do jogo.

Com esse futebol, sem resultado, vai ser difícil segurá-lo por muito tempo.

Sampaoli, do Amor pelo Balón, perdeu o Paulista, foi eliminado na primeira fase da Copa Sul-Americana, foi eliminado na Copa do Brasil e, mesmo assim, foi o último técnico a ficar um ano no Santos.

O torcedor se sentia representado pelo futebol da equipe, mesmo sem grandes resultados.

O santista não se sente representado pelo futebol mostrado até aqui pela equipe de Fabián Bustos.