Miguelito é destaque nas Eliminatórias, mas não joga no Santos (Crédito: Raul Baretta/Santos FC)

Nas últimas semanas, a situação do meia Miguelito mobilizou torcedores do Santos nas redes sociais, gerou críticas em rede nacional do narrador Luiz Roberto na transmissão de Brasil e Chile e foi o grande assunto da coletiva de Fábio Carille e Giuliano após a vitória do Peixe por 3 a 2 sobre o Mirassol no último sábado.

Todo mundo quer entender como o garoto consegue ser o destaque das Eliminatórias, como no golaço diante da Colômbia, mas não consegue oportunidades em um Santos capenga na Série B. E os dedos e vozes acusadoras encontram como única culpa a (suposta) incompetência do técnico Fábio Carille.

Mas será só ele o culpado por essa situação?

Já deixo claro que não, A culpa é do técnico (e de outros técnicos), do clube e até mesmo o jogador tem sua parcela de culpa.

Miguelito virou um craque no imaginário do torcedor do Santos entre os 14 e 18 anos. Ninguém o via jogar (ele não podia disputador competições oficiais), mas o próprio clube alimentava a situação com relatos maravilhados sobre o desempenho do jogador em treinos, com declarações apaixonadas de técnicos e muito mais. Isso sem ele ter feito uma partida ofical com a camisa do clube, que até contratou outro jogador apenas para agradar os representantes do meia.

O torcedor passou a esperar por um novo fenômeno no profissional.

Aí entra a parcela de culpa do jogador: ele acreditou.

O DIÁRIO soube de relatos de jogadores da Bolívia, por exemplo, com muito mais história na seleção que se incomodaram com a maneira como ele se apresentou nas primeiras convocações, quase como um popstar. O sucesso (ainda imaginário) subiu à cabeça do garoto.

Talvez esse fato possa explicar as falas do meia Giuliano na coletiva. O futebol é um meio em que o corporativismo impera. Quando você precisa ligar para pedir informação de um atleta para outro, raramente você vai ouvir depoimentos negativos. É um círculo em que todos se ajudam para serem ajudados depois.

Com toda a experiência, Giuliano quebrou o círculo, Não é normal e acho que foi proposital, talvez como um alerta.

O clube também tem culpa. Não só por promovê-lo como uma nova joia antes do tempo, mas por não dar o suporte a ele no momento mais difícil da vida, quando ele perdeu a mãe. O Santos nunca fez um trabalho psicológico decente com os atletas do clube e chega ao cúmulo de não ter um psicólogo contratado no profissional neste momento.

A cabeça, que estava nas alturas, foi às nuvens. E ele não teve apoio do clube para voltar à terra firme.

Quem não se lembra dos posts dele treinando nas ruas?

Por último, mas não menos importantes, temos os técnicos. Ninguém deu confiança ao jogador e ajudou no desenvolvimento dele. Miguelito ainda é um atleta em formação. Tem potencial, vai errar, vai acertar. Precisa ser trabalhado e muito técnico não gosta de atleta assim.

Preferem a imagem de um passado distante de atletas como Patrick, Otero, Cazares, do que a projeção de uma imagem de futuro como a de Miguelito.

Mas agora Miguelito não é mais futuro, já é presente. E não faz o menor sentido, mesmo que ele não tenha a intensidade citada por Giuliano, que ele tenha menos espaços que jogadores como Pedrinho e Nacha Laquintana, que espero não ver mais no clube em 2025.

Miguelito eu espero ver. Com a cabela melhor, com apoio psicológico, dentro de um contexto melhor, no qual o coletivo possa potencializar as qualidades dele. Não é dar a camisa e falar: vai lá e resolve. Você não é o cara?

Quando lembro que estamos falando do Santos e um poderoso departamento de futebol, tendo a lamentar que teremos mais um talento desperdiçado como tantos os outros que tivemos nos últimos anos.

Ao torcedor vai restar apenas comentários como o tradicional “saia do Santos e seja feliz, ganhe títulos”.

É uma pena!