A atacante Cristiane, segunda maior artilheira da história das Sereias da Vila e ídolo do Santos, aprendeu durante a vitoriosa carreira a driblar as adversárias em busca dos gols, mas talvez sua tarefa mais difícil tenha sido superar os obstáculos, como o preconceito, para realizar o sonho de ser mão.
Cris se casou com Ana Garcia em agosto de 2020 e, em setembro daquele ano, decidiram ter um bebê. A gestação provocaria uma pausa na carreira da atleta, uma das dificuldades enfrentadas pelas mães esportistas. Por isso, a opção do casal foi para que Ana, que é advogada, fizesse a gestação.
Depois de um processo burocrático com passagens de médicos da Seleção, do Comitê Olímpico e com a ginecologista, a jogadora conseguiu fazer o processo de coleta dos óvulos durante a pandemia. Momento propício com a parada do futebol, já que o procedimento poderia gerar problemas nos exames de doping.
Bento chegou ao mundo em 26 de abril de 2021. A atacante do Santos conta como é conciliar a vida de mãe e atleta.
“É bem difícil ser atleta e mãe ao mesmo tempo já que a gente tem todo esse aprendizado direto com o Bento. Na nossa relação também, a gente erra muito e acerta muito, todos os dias a gente vêm com algo diferente e tem que saber conciliar. Muitas vezes eu chego, agora um pouco melhor, mas no comecinho chegava com sono no treino, cansada no jogo. Então, a gente tinha que cumprir nosso trabalho, nosso dever dentro do clube e muitas vezes eu tinha que tirar força de onde eu não tinha porque eu não dormia, estava cansada e me alimentava mal. Para as pessoas que não sabem, tinha esses momentos de dificuldade sim e eu tinha que saber lidar com isso, não transparecer isso dentro do meu ambiente de trabalho, mas chegar em casa e ter a satisfação de ter um colinho dele, o abraço da minha esposa também me traz uma satisfação muito grande. Saber que eu tenho todo esse amor dentro de casa”.
Cristiane também acredita que a sua luta para a realização do sonho ao lado da esposa serviu de inspiração para muitas pessoas, aquelas com medo do preconceito que poderia enfrentar durante o processo. A atacante também acredita que o filho, Bento, também possa ser um exemplo para outras crianças frutos da relação entre duas mulheres, dois homens, etc.
“Acho que a gente acabou transformando a vida de muitas outras mulheres que a gente têm acompanhado. Amigas nossas passam e colocam o mesmo médico que a gente indica para todo mundo, vários casais de amigas nossas, que viram que a gente conseguiu realizar esse sonho e o quanto a nossa família é feliz. O quanto a gente luta por isso e o quanto a gente quer trazer isso para o Bento também, viu na gente essa inspiração de que também pode. A gente quer passar muito amor para o Bento porque isso tem que prevalecer, é o caráter dele, a forma como vai ser construída a educação dele ao longo do crescimento e é o que a gente quer passar para ele. É um homem que tem essa dificuldade ainda, infelizmente, falta um pouco mais de entendimento e para outras mulheres também. A gente sabe que tem um preconceito muito grande: “ah, você é um cara com duas mães?”. Queremos passar essa construção de amor para ele para que ele seja um cara bacana e que ele passe isso para as outras pessoas, todas em volta dele”.
Bento está sempre presente nos jogos das Sereias da Vila e a atacante não vê a hora de poder entrar como ele como “mascotinho” em uma das partidas da equipe.
“Estou esperando liberar para entrar com ele no campo. É muito gostoso. Falam se eu vou querer que ele jogue e eu vou querer que ele faça o que ele gostar de fazer. Mas, é muito nítido porque qualquer coisa que tem no chão ele sai chutando e é o que eu fazia quando eu era criança. Ele tem muito disso, vai ser legal se isso acontecer. Ter esse carinho do torcedor e essa construção aqui dentro é muito legal. É muito gostoso trazer nosso mascotinho do time e ele poder ter essa identificação com o esporte vai ser muito legal.
Deixar um comentário