Bilu sai carregado de um jogo do Peixe (Crédito: Livro Álbum de Ouro do Santos FC)

Texto de Fernando Ribeiro para o DIÁRIO DO PEIXE

Apaixonado pelo alvinegro praiano, Bilu dedicou-se ao clube de maneira exemplar e em várias funções: de zagueiro a árbitro, de treinador a organizador de bloco carnavalesco

Ao longo da história do Santos Futebol Clube, poucas pessoas dedicaram-se tanto ao clube quanto Virgílio Pinto de Oliveira, o Bilu. Por mais de quarenta anos, atuou nas mais variadas funções: torcedor, zagueiro, treinador, árbitro, dirigente e até organizador de bloco carnavalesco.

Nascido em 1900, Bilu ingressou no clube como jogador dos quadros inferiores e chegou ao time principal em 1919. Jogador de grande fibra, em pouco tempo firmou-se no onze inicial e logo ganhou o apelido de “Rei dos Carrinhos”. Vigoroso, lutava pelo clube do coração sem medir esforços.

Em 1920, agrediu o árbitro Eduardo Taurisano e foi suspenso pela Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA), que organizava o futebol paulista. O apitador chegou a Vila Belmiro disposto a prejudicar o Santos, que enfrentou o Corinthians naquela fatídica tarde. Foram pênaltis não marcados e gols legítimos anulados, ao ponto que os jogadores do Santos começaram a cometer pênaltis de propósito, sentarem no gramado e alguns até abandonaram o campo de jogo, como forma de protesto. Bilu chegou a chutar um dos pênaltis contra a própria meta, o que talvez tenha sido o primeiro gol contra em cobrança da marca da cal. O resultado foi 11 a 0 para o adversário, com Taurisano saindo sob escolta policial, mas não sem antes levar alguns sopapos.

Em que pese as confusões, o bom futebol praticado por Bilu foi reconhecido e valeu-lhe convocações para a Seleção Paulista, em uma época onde torneios nacionais eram disputados por selecionados estaduais. Ao longo da década de 20, o Santos superou adversidades econômicas e financeiras, para montar uma equipe notável. O time-base formado por Athiê; Bilu e Meira; Hugo, Júlio e Alfredo; Omar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista surpreendeu a todos e foi a sensação do Paulistão de 1927. Em treze jogos, foram cinco vitórias com cem ou mais gols marcados. O poderio ofensivo do Santos ficou eternizado como a “linha dos 100 gols”, algo até então inédito no futebol paulista.

O título não veio em 1927, pois nas últimas rodadas tropeços e atuações suspeitas da arbitragem foram decisivos para a derrocada santista. Bilu manteve-se como titular ao longo de 1928, que culminou novamente em vice-campeonato, porém com menos drama e traumas em relação ao ano anterior. O Peixe consolidava-se a cada ano como uma das forças do estado, porém o caneco teimava em não descer a Serra do Mar.

Em 1929, ano de novo vice-campeonato do Peixe, Bilu não atuou em nenhuma partida. Envolveu-se em confusões junto aos diretores e foi suspenso das atividades do clube. Por defender os direitos dos sócios do clube, acabou expulso do quadro associativo. O “Rei dos Carrinhos” estava inconformado com a decisão imposta pela APEA de cobrar ingressos dos sócios para o amistoso diante do Vitória de Setúbal, de Portugal.

Depois da readmissão como sócio do Santos, Bilu entraria em campo como atleta somente mais uma vez, em abril de 1930. Foram 195 partidas disputadas pelo clube, de 1919 a 1930. No ano seguinte, prosseguiu representando o Peixe, porém como árbitro. Em tempos de futebol amador, os clubes eram responsáveis pela arbitragem de seus jogos e cada agremiação indicavam de três a quatro apitadores – Júlio de Almeida, que também jogou no famoso time de 1927 era, também, um dos indicados santistas.

Membro da diretoria, em 1935 foi convidado para atuar como técnico do quadro principal, cargo que ocupou sem qualquer tipo de remuneração. Não há relatos que comprovem, mas a proximidade entre Bilu e Araken Patusca pode ter contribuído para o retorno do ídolo santista – que seria fundamental na campanha vitoriosa. Com equipe renovada, o Peixe enfim conseguiu a sua maior glória até então: tornou-se campeão paulista. Bilu e o clube do seu coração atingiram o objetivo que escapou-lhes por pouco em 1927, 1928 e 1929.

Ele foi treinador do Santos até 1937. Depois da experiência no campo, assumiu funções administrativas e chegou a ser vice-presidente do clube, em uma das gestões do ex-companheiro Athiê Jorge Coury. Era o organizador e maior entusiasta do “Bola Alvinegra”, bloco carnavalesco oficial do Santos.

Pelo Santos, Bilu tudo fazia. “Inimigos do Santos, eram seus inimigos. E se os amigos que possuía se desviavam da linha de conduta que ele julgava ser a mais conveniente aos destinos do Santos, eis Bilu a combater na primeira trincheira que ele mesmo abria, porque acima de tudo, acima de todos, só existia um ser: o Santos F. C.”, palavras de Adriano Neiva, o De Vaney, no Álbum de Ouro do Santos.