O presidente José Carlos Peres assumiu o cargo no começo de janeiro (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

Eleito com um discurso calcado na promessa de seriedade nas gestões administrativa e financeira do Santos, o presidente José Carlos Peres defende que o controle de gastos não vai resultar em times ruins para o Peixe. O dirigente enfrenta atualmente críticas da torcida pelo fato de ter feito poucas contratações para a temporada de 2018 (até agora, chegaram apenas Romário, Eduardo Sasha e Gabigol).

Em sua primeira entrevista exclusiva desde que assumiu o comando do clube, Peres disse ao DIÁRIO DO PEIXE que ainda não sabe o tamanho da dívida do Santos, nem se precisará vender algum jogador para sanear as contas no curto prazo.

O novo mandatário alvinegro também não descartou uma reaproximação com a Rede Globo. Esse relacionamento, que já não era dos melhores, ficou ainda mais complicado após a assinatura de um contrato com o Esporte Interativo, que terá os direitos de transmissão dos jogos do Santos no Campeonato Brasileiro em TV fechada entre 2019 e 2024. “Queremos ouvir a Globo, o Esporte Interativo e os demais para negociarmos o que for melhor para o Santos. É esse ‘melhor para o Santos’ de que não abrimos mão”, afirmou Peres.

Leia abaixo a entrevista exclusiva de Peres ao DIÁRIO DO PEIXE:

Os clubes que partiram para um discurso de controle de gastos e equalização das dívidas, especialmente o Flamengo, não conseguiram grandes títulos e sofreram pressão da torcida. Como o senhor encara essa situação, como pretende manter essa política mesmo em caso de resultados ruins?
Não posso falar sobre outros clubes, mas, para nós, não se trata de um discurso. É um compromisso que estabelecemos de equalizar as finanças do Santos. Entendemos que a melhor forma de reestruturar o clube e alcançar títulos é saneando nossa vida financeira, não a deteriorando. E controlar gastos não significa ter times ruins. É possível sermos equilibrados e fortes dentro de campo.

Peres e seu vice, Orlando Rollo, no dia da eleição (Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

Em entrevista ao DIÁRIO DO PEIXE, o ex-presidente Modesto Roma Júnior disse que o Santos precisaria vender um jogador em janeiro. O senhor conta com isso? Qual o valor mínimo que o clube precisa levantar em negociações em janeiro, se for o caso?
Respeitamos o que outros presidentes disseram, mas nós vamos atuar conforme o nosso entendimento do clube. E isso parte de uma análise completa das finanças atuais, trabalho que ainda não finalizamos. Mas trabalharemos bastante para que num futuro próximo não tenhamos dependência da venda de jogadores, embora, claro, saibamos que esse é um recurso significativo na vida de todo e qualquer clube brasileiro.

Qual é o tamanho da dívida do Santos? Como o senhor pretende administrar essa dívida nos próximos três anos?
Estamos organizando toda a questão fiscal e contábil do Santos e ainda não podemos apresentar o valor total da dívida. Mas já está claro para nós que é preciso incentivar o clube a implantar um modelo de excelência de gestão, através de uma metodologia de auto-avaliação e capacitação que estimule a melhoria da sua gestão organizacional. A responsabilidade fiscal, conceito retirado da gestão de empresas públicas, será a marca de nossa administração. Não gastaremos mais do que arrecadarmos. A convergência entre receita e despesas será a meta a ser alcançada, até que consigamos reduzir as últimas a níveis aceitáveis. A ocupação de cada cargo será minuciosamente estudada e se dará sempre em respeito à meritocracia.

O senhor já tem um diagnóstico do quadro de funcionários do clube? Quantos existem hoje e quantos vocês imaginam ser necessários?
Recebemos o Santos como uma locomotiva pesada, quase parando. Sabemos, entretanto, que nosso desafio é dar-lhe agilidade, tirando-a da inércia em que se encontra e fazendo-a correr nos trilhos que levam ao futuro que merece e pode conquistar. E estamos totalmente dispostos a encarar essa missão. Estamos trabalhando no novo organograma e, consequentemente, entenderemos quantas pessoas precisaremos para tocar essa máquina.

Há um plano de reaproximação com a Rede Globo, que pouco tem colocado o Santos na sua grade nas últimas temporadas? Como fazer isso sem gerar problemas com o Esporte Interativo, com quem o Santos assinou contrato válido a partir de 2019?
Entendemos os veículos de mídia e imprensa como parceiros, e não inimigos. Não nos cabe o pré-julgamento se um ou outro trará um negócio bom ou ruim para o Santos. Nos cabe ouvir a todos para buscar o melhor para o clube. E isso inclui, claro, um grande player como a Rede Globo. Queremos ouvir a Globo, o Esporte Interativo e os demais para negociarmos o que for melhor para o Santos. É esse “melhor para o Santos” de que não abrimos mão.

O Santos pretende de alguma maneira participar da administração do Pacaembu? A diretoria anterior estava negociando a construção de um novo estádio. O senhor conheceu o projeto? Pretende levá-lo adiante? O assunto foi discutido no encontro do vice-presidente Orlando Rollo com o prefeito de Santos, dias atrás?
Sobre o Pacaembu, depende do processo atual de licitação pelo qual o estádio passa. Sobre o projeto de construir outro estádio em Santos, posso garantir que está completamente descartado. A Vila Belmiro é mais do que um estádio, é um Templo do Futebol mundial. Tem um entorno espetacular que se entrega ao jogo. Mas é um estádio centenário e, como tal, tem suas limitações. É o que pretendemos melhorar. É possível, sem grandes reformas e, consequentemente, sem grandes investimentos, realizar adequações que tornem o estádio mais confortável e vibrante. Extinção dos camarotes térreos atrás do gol, transferência dos camarotes térreos laterais para a parte superior do estádio, gerando mais lugares populares, são algumas das medidas. Já começamos a providenciar. É preciso também olhar o tratamento dispensado ao sócio e ao torcedor nos estádios de forma um pouco mais ampla do que a usual. Não é apenas uma relação de consumo, é algo mais complexo e amplo.

O senhor disse que pretende rediscutir o contrato com a Umbro. O que o senhor pretende obter com a empresa? As conversas já se iniciaram?
Os parceiros comerciais sabem o valor que uma marca como a do Santos tem. Vamos conversar com a Umbro para entender o que eles projetam de potencial para nossa marca e, de nossa parte, concordar ou não com isso. Mas vamos conversar. Nunca ameacei com rescisão. Falei em revisão.