Nesse domingo, 21 de outubro, o Santos comemora 20 anos da conquista da Copa Conmebol (1998). E o Diário do Peixe fez uma matéria especial com o goleiro Zetti, herói da partida decisiva disputada na Argentina. Com grandes defesas, o goleirão santista pegou tudo e garantiu o empate em 0 a 0 para o Peixe, que havia vencido o primeiro jogo por 1 a 0 na Vila. Confira abaixo o depoimento de Zetti sobre a conquista, que ganhou o nome de Batalha de Rosário.
“Sem dúvida foi minha melhor partida pelo Santos. Por tudo. Pelo clima, pelo que passamos para chegar ao estádio do Rosário Central (da Argentina), pelo jejum… Foi um jogo que tínhamos uma responsabilidade muito grande. Só quem esteve lá em Rosário sabe o que aconteceu.
Tivemos vários jogos duros antes de chegar àquela final de Copa Conmebol contra o Rosário. Não dá pra dizer que nós não esperávamos que o jogo se tornasse essa verdadeira batalha. Não… Nós sabíamos principalmente depois do primeiro jogo na Vila Belmiro: 1 a 0 com gol do Claudiomiro, Viola e Jean expulsos e uma grande confusão com o Narciso. Era jogo para termos vencido por mais, mas não conseguimos.
Quando chegamos na Argentina já havia a preocupação por conta das notícias que víamos. Diziam que teria confusão porque todo mundo queria pegar o Narciso, mas em campo seria muito diferente. Foi das melhores partidas que o Narciso fez pelo Santos. Ele participou em todos os setores do campo, tocando de primeira porque queriam pegar ele, mas ninguém achava ele em campo.
Antes disso, a nossa chegada foi muito preocupante. Pra entrar no vestiário tinha que passar por baixo da arquibancada lotada com a torcida deles. O ônibus parou na calçada e tínhamos que descer. Todo mundo estava preocupado em descer no meio da multidão. O policiamento fez um cordão humano, mas tinha muita torcida ao redor. O percurso devia ter uns 30 metros, pois o ônibus não chegava dentro do estádio. Tínhamos que subir um lance de escada pra chegar até o vestiário. Não sei se era proposital ou não…
A polícia foi aguentando, mas então, com os jogadores e comissão técnica no meio dos escudos, chegou um momento em que perderam o controle. A torcida lá do alto começou a jogar de tudo na gente, até pedras. Uma chegou a fazer um corte feio no braço do preparador físico. E foi aí que o cordão dispersou. A Polícia começou a dar tiro e a torcida revidar com rojão e nós corremos cada um para um lado e entramos na primeira porta que vimos. Cada um foi parar em uma sala. Foi terrível e muito preocupante pra quem iria começar um jogo decisivo.
Demorou até todos chegarem ao vestiário. Eu fui ajudado até por um cara da torcida deles. Lá dentro ninguém queria jogar, nem o Leão (técnico do time). A partida já estava mais de meia hora atrasada, quando o presidente da Conmebol se reuniu com os técnicos e pediu para ter jogo. O Rosário já estava em campo e a gente nem tinha se trocado ainda. Então, imagina a tensão.
Nosso time era jovem, estava em formação ainda. Eu, Viola e Claudiomiro éramos os mais experientes, mas Anderson Lima, Eduardo Marques, o próprio Narciso, ainda eram novos para uma decisão com aquela pressão. Para começar o jogo pedimos para tirar todo mundo do campo: jornalistas e até gandulas, para ficar somente os times e a arbitragem, por questão de segurança mesmo. O campo lá é parecido com a Vila, bem acanhado, então a bola batia no alambrado e voltava, jogamos sem gandulas.
Foi sufoco. O jogo foi intenso, muita pressão, bola alçada e chutes de fora. Eu estava em uma noite maravilhosa. Fiz várias defesas e ajudei o time nas bolas cruzadas na área. No segundo tempo, quase no final, um jogador pegou um sem pulo do bico da pequena área, eu defendi no reflexo e a bola ainda pegou no pé da trave antes de sair. Você não sabe onde a bola vai ali. Tem que estar preparado.
O Fernandes foi um baita jogador na partida, prendia a bola para segurar o jogo e também corria demais quando era preciso. Ele e o Narciso foram os melhores do time. Conseguimos segurar o empate, mas não deu nem pra comemorar. O Narciso quando faltavam três minutos pro final do jogo foi jogar na lateral do campo pra poder marcar o túnel. Assim que acabou ele correu para o vestiário.
Se fosse hoje, com toda a exigência da Conmebol, da FIFA, não teria jogo. Seria cancelado e teria alguma punição para o Rosário. Não dava para jogar. Hoje com tanta imagem, teriam muito mais provas e haveria muito mais preocupação com a integridade dos jogadores. Eu não dei em ninguém e também não apanhei, mas teve confusão depois do final do jogo. Fomos para o vestiário, comemoramos lá, no hotel e em Santos, com direito a carro de bombeiro.
Fomos à Vila e fizemos a volta olímpica. Foi um título muito marcante, inesquecível na minha carreira. Foi o jogo mais preocupante que fiz na minha carreira. É diferente você jogar contra o Milan, em Tóquio, que você tem preocupação com o jogo em si. É outra história. Contra o Rosário a gente tinha preocupação com nossa integridade física.
Foi muito importante para essa geração e para o Santos. Vínhamos do título Rio-São Paulo de 1997. Essa não deixa de ser uma conquista internacional para o Santos. Passamos por equipes muito difíceis. Fomos nos classificando e chegamos à final. Muita gente não deu importância, mas pra nossa equipe era muito importante sim. Meu jogo inesquecível.”
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