O dia 15 de dezembro de 2002 é uma data que traz ótimas lembranças para o torcedor do Santos. Naquele domingo ensolarado, há 15 anos, o Peixe conquistou o título de campeão brasileiro ao bater o Corinthians por 3 a 2, num jogo emocionante, repleto de reviravoltas e assistido por 75 mil pessoas no Morumbi. Mas aquela partida representou mais do que isso: foi também um divisor de águas, um renascimento do Santos como time campeão, depois de duas décadas pobres em conquistas.
Afinal, entre 1980 e 2002 o Peixe havia conquistado só o Paulista de 1984, o Torneio Rio-SP de 1997 e a Copa Conmebol de 1998, sendo apenas o primeiro deles um título de primeira linha. Muito pouco para uma torcida e um time acostumados a levantar taças durante tanto tempo.
A partir do título brasileiro de 2002, o Santos voltou ao patamar mais alto do futebol nacional e internacional. Conquistou o bicampeonato brasileiro em 2004, a Copa do Brasil em 2010, a Taça Libertadores da América em 2011 e a Recopa Sul-Americana em 2012, além de sete títulos do Campeonato Paulista (2006, 2007, 2010, 2011, 2012, 2015 e 2016).
A história do título de 2002 começou em maio daquele ano, quando Emerson Leão foi contratado como técnico do Santos para substituir Celso Roth, que saiu do clube depois dos fracassos no Torneio Rio-SP e na Copa do Brasil. O contrato de Leão iria somente até dezembro daquele ano. Apesar disso, foi um casamento de conveniências, já que o Santos estava sem dinheiro para reforçar o time e Leão tinha o perfil de treinador linha-dura que poderia tirar mais do elenco que tinha em mãos. Para o técnico, seria uma chance de dar a volta por cima depois de ser demitido da Seleção Brasileira no ano anterior.
Mesmo com sua fama de durão, Leão percebeu o potencial de alguns jovens, em especial uma dupla de garotos que despontava, Robinho e Diego, 18 e 17 anos, respectivamente. Apostou em Elano e Renato e evitou a saída do zagueiro Alex, que vinha sendo pouco aproveitado e parecia não ter futuro no Santos. As poucas contratações feitas foram de jogadores baratos, como o goleiro Júlio Sergio, o lateral-direito Maurinho e o atacante Alberto.
Sem ter outra alternativa, Leão apostou naquele grupo de jovens inexperientes e talentosos, além de veteranos de carreira até então opaca, para montar a equipe. A confiança do técnico aumentou quando viu o Santos bater o Corinthians por 3 a 1 em um amistoso de preparação para o Campeonato Brasileiro.
O início da campanha foi animador: nas dez primeiras partidas, o Santos venceu cinco e empatou duas, permanecendo sempre entre os oito primeiros, os que garantiam vaga na segunda fase. Um dos melhores momentos daquela campanha foi a vitória sobre o Corinthians por 4 a 2, no Pacaembu, na 15ª rodada, com dois gols de Elano e dois de Alberto, incluindo um de bicicleta. O Peixe chegou a fazer 4 a 0, mas o adversário diminuiu no final do jogo.
Como acontece com equipes jovens, o desempenho oscilou, o Santos sofreu três derrotas seguidas e viu a vaga ameaçada no final da primeira fase da competição. Nas últimas oito partidas, o Peixe sofreu cinco derrotas, o que o deixou em situação dramática na rodada final.
Uma vitória sobre o São Caetano, no estádio do adversário, garantiria o Santos no mata-mata do Brasileirão. O Peixe perdeu por 3 a 2 e passou a depender de uma derrota do Coritiba para o rebaixado Gama, no Distrito Federal, o que acabou acontecendo, e de goleada – 4 a 0.
Ao fim do jogo em São Caetano do Sul, alguns jogadores santistas lamentaram a eliminação, mas foram alertados logo depois de que o Gama havia vencido e tirado do caminho o time paranaense.
A partir dali, o Santos embalou. Logo após o jogo em São Caetano, o técnico Leão levou o time para Jarinu para se preparar para enfrentar o São Paulo nas quartas-de-final. A equipe do Morumbi havia feito a melhor campanha da primeira fase e tinha um elenco recheado de estrelas, como Kaká, Rogério Ceni, Ricardinho, Reinaldo e Luís Fabiano. Com ótimas partidas de Diego e Robinho, o Peixe atropelou o São Paulo: 3 a 1 na Vila Belmiro e 2 a 1 no Morumbi. A vaga na semifinal, contra o Grêmio, estava garantida.
Na primeira partida, o Santos foi muito superior ao time gaúcho e fez 3 a 0 na Vila Belmiro, com mais uma grande partida de Robinho, Diego e Alberto, que marcou dois gols. No jogo de volta, em Porto Alegre, o time administrou o resultado e a derrota por 1 a 0 garantiu presença na finalíssima contra o Corinthians, que havia vencido o Rio-São Paulo e a Copa do Brasil naquele ano.
As duas partidas foram no Morumbi, e em ambas o Santos se sentiu em casa. Na primeira, o time mostrou uma maturidade e uma frieza que poucos esperavam daquela equipe formada poucos meses antes. Diego mais uma vez se destacou e o Peixe venceu por 2 a 0, gols de Alberto e Renato.
E chegou o dia 15 de dezembro de 2002, quando um Morumbi com 75 mil torcedores, dividido entre as duas torcidas, foi palco de um jogo eletrizante, que ficou na memória de todos, em especial dos santistas. O Santos entrou com William no lugar de Alberto, suspenso por ter tomado o terceiro cartão amarelo na primeira final. E sofreu um baque logo no primeiro minuto de jogo, quando Diego sentiu dores musculares e foi substituído pelo experiente Robert. Robinho correu até o amigo e disse que iria ganhar aquele título pelos dois.
O goleiro Fábio Costa evitou o gol corintiano várias vezes no primeiro tempo. Robert procurava acalmar a equipe, tocando e segurando a bola quando necessário. Até que, aos 37 minutos, Robinho recebeu um passe e avançou sobre o lateral Rogério, que recuava e recuava. O atacante santista deu oito pedaladas em frente ao adversário, a última já na grande área, quando foi derrubado. Pênalti que o próprio Robinho cobrou para fazer 1 a 0 e aumentar a confiança dos santistas de que o título brasileiro iria para a Vila Belmiro.
O jogo era tenso, final de campeonato, e Leão foi expulso no início do segundo tempo, após reclamar de uma agressão do volante Fabinho ao meia Robert. A saída do treinador deixou o time inseguro e o Corinthians aproveitou para virar o placar, com gols de Deivid, aos 30 minutos, e Anderson, aos 39, ambos de cabeça. Mais um gol e o título seria do Corinthians, já que havia feito melhor campanha na primeira fase.
Foram minutos de absoluto pavor entre os torcedores santistas. Será que o time iria deixar escapar uma chance tão clara de voltar a ser campeão de um campeonato importante? A resposta foi dada por Robinho, aos 43 minutos, quando escapou pela direita e passou para Elano, na área, empatar o jogo e trazer alívio e loucura à torcida do Peixe.
Os santistas já comemoravam o título nas arquibancadas quando, aos 47 minutos, após outra boa jogada de Robinho, a bola sobrou para o lateral Léo, que driblou o marcador e bateu forte, de direita, no ângulo de Doni para sacramentar o renascimento do Santos como um time campeão.
FICHA TÉCNICA
Corinthians 2 x 3 Santos
Local: Morumbi – São Paulo
Árbitro: Carlos Eugênio Simon (RS)
Público: 74.586 pagantes
Renda: R$ 1.152.809,00
Cartões Amarelos: Fabinho, Fábio Luciano e Fabrício (Corinthians); Maurinho, Fábio Costa e Léo (Santos)
Gols: Robinho (pênalti), aos 37 minutos do 1º tempo; Deivid, aos 30, Anderson, aos 39, Elano, aos 43, e Léo, aos 47 minutos do 2º tempo
Santos: Fábio Costa; Maurinho, André Luís, Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego (Robert, depois Michel); Robinho e William (Alexandre). Técnico: Emerson Leão
Corinthians: Doni; Rogério, Anderson, Fábio Luciano e Kléber; Vampeta, Fabinho (Fabrício) e Renato (Marcinho); Gil, Deivid e Guilherme (Leandro). Técnico: Carlos Alberto Parreira
A CAMPANHA DO TÍTULO
Primeira fase
10/08 – Santos 2 x 1 Botafogo – Gols: Elano e Diego; Vila Belmiro
18/08 – Juventude 2 x 1 Santos – Gol: William; Alfredo Jaconi
21/08 – Santos 3 x 0 Figueirense – Gols: Douglas, Léo e Renato; Vila Belmiro
25/08 – Fluminense 1 x 1 Santos – Gol: Diego; Maracanã
28/08 – Santos 2 x 1 Paraná – Gols: Diego e Léo; Vila Belmiro
31/08 – Internacional 3 x 0 Santos; Beira-Rio
05/09 – Santos 3 x 0 Vitória – Gols: Alberto [2] e Robinho; Vila Belmiro
08/09 – Santos 2 x 2 Atlético-PR – Gols: William e Alberto; Vila Belmiro
11/09 – Coritiba 4 x 2 Santos – Gols: Diego [2]; Couto Pereira
14/09 – Santos 2 x 0 Grêmio – Gols: Alberto e Léo; Vila Belmiro
18/09 – Vasco 1 x 2 Santos – Gols: Elano e Alex; São Januário
21/09 – Santos 1 x 1 Goiás – Gol: Elano; Vila Belmiro
26/09 – Gama 0 x 0 Santos; Bezerrão
29/09 – Santos 1 x 1 Palmeiras – Gol: Robinho; Vila Belmiro
03/10 – Corinthians 2 x 4 Santos – Gols: Elano [2] e Alberto [2]; Pacaembu
09/10 – Santos 3 x 2 Atlético-MG – Gols: Alberto, Alex e Robinho; Vila Belmiro
13/10 – Cruzeiro 1 x 4 Santos – Gols: André Luiz, Elano [2] e Robinho; Mineirão
16/10 – São Paulo 3 x 2 Santos – Gols: Robert e Diego; Morumbi
19/10 – Santos 1 x 2 Portuguesa – Gol: Diego; Vila Belmiro
23/10 – Paysandu 2 x 1 Santos – Gol: Elano; Mangueirão
26/10 – Santos 3 x 0 Flamengo – Gols: William, Robert e Robinho; Vila Belmiro
30/10 – Bahia 1 x 1 Santos – Gol: Léo; Fonte Nova
02/11 – Guarani 0 x 2 Santos – Gols: Diego e Robinho; Jaime Cintra
09/11 – Santos 1 x 3 Ponte Preta – Gol: Robinho; Vila Belmiro
17/11 – São Caetano 3 x 2 Santos – Gols: Alex e Alberto; Anacleto Campanella
Quartas-de-final
24/11 – Santos 3 x 1 São Paulo – Gols: Alberto, Robinho e Diego; Vila Belmiro
28/11 – São Paulo 1 x 2 Santos – Gols: Léo e Diego; Morumbi
Semifinais
01/12 – Santos 3 x 0 Grêmio – Gols: Alberto [2] e Robinho; Vila Belmiro
04/12 – Grêmio 1 x 0 Santos; Olímpico
Finais
08/12 – Santos 2 x 0 Corinthians – Gols: Alberto e Renato; Morumbi
15/12 – Corinthians 2 x 3 Santos – Gols: Robinho, Elano e Léo; Morumbi
31 Jogos; 17 Vitórias; 6 Empates; 8 Derrotas; 59 GP; 41 GC; 18 SG
Artilheiros:
12 Gols: Alberto
10 Gols: Robinho e Diego
9 Gols: Elano
6 Gols: Léo
3 Gols: Alex e William
2 Gols: Robert e Renato
1 Gol: André Luis e Douglas
Jogadores utilizados (27):
31 jogos – Renato
30 jogos – Robinho
29 jogos – Alberto, Elano e Léo
28 jogos – Diego e Paulo Almeida
26 jogos – Maurinho
25 jogos – Alex
22 jogos – Júlio Sérgio
21 jogos – Preto
18 jogos – André Luis
16 jogos – Robert e William
13 jogos – Alexandre
12 jogos – Wellington
7 jogos – Pereira e Douglas
6 jogos – Fábio Costa
4 jogos – Rafael, Michel e Bernardi
2 jogos – Adiel, Bruno Moraes e Fabiano Souza
1 jogo – Canindé e Marcão
Confira os gols da vitória sobre o Corinthians:
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