Jean Chera voltou ao futebol e vai reforçar o EC São Bernardo (Crédito: Camila Cavanha / Guayaca filmes / @guayacafilmes / @camicavanha)

Imagine um cenário no qual, no auge daa adolescência, um garoto é tratado como uma mina de ouro e a solução para “todos os problemas” de um dos maiores clubes de futebol do planeta. Por ser uma estrela, mesmo que jovem, recebe diversos convites para entrevistas, lançamentos e eventos esportivos. Não é considerado apenas uma promessa do futebol e sim uma possível virada de chave na história deste clube.

Essa foi boa parte da vida de Jean Carlos Chera, popularmente conhecido como Jean Chera, na base do Santos. O clube foi buscar o garoto em Vera, uma pequena cidade brasileira localizada no estado de Mato Grosso, com cerca de 11 mil habitantes. O garoto chegou à Baixada Santista e foi tratado como “o cara”. Ganhou moradia, sustento e, principalmente, a oportunidade de desenvolver como atleta. Cenário perfeito para uma estrela no mundo da bola surgir. Entretanto, essa história não teve o desfecho esperado.

Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO PEIXE, Jean Chera relembrou os primeiros passos na cidade de Santos e apontou possíveis ‘erros’ que fizeram a carreira não decolar. Dois anos mais novo que Neymar, Chera era tratado como um fenômeno.

“Eu cheguei no Santos com 8 anos e fiquei até os 16. Era treinar, ir para escola e dar entrevista. Não tive infância, não ia ao shopping com amigos, cinema… Não tinha nada disso. No final de semana era jogar. Vida bem agitada desde cedo”, disse Jean.

Gabigol, Jean Chera e Neymar, à época promessas do Santos (Crédito: Divulgação)

A vida de Jean mudou completamente. Deixou de ser só mais uma garoto que sonhava com o futebol e passou a ser ‘a joia’ do Santos. E isso repercutiu nacional e internacionalmente. À época com 8 anos, ganhou capas de jornais, revistas e teve seu nome divulgado mundialmente. É possível manter a cabeça no lugar com tudo isso? Jean responde.

“Para falar a verdade, eu não sentia pressão. Eu era muito novo. É difícil tentar explicar de uma forma que fique claro. Eu não me sentia pressionado, mas sabia que existia uma pressão muito grande para dar certo por tudo que tinha em volta. Eu sabia da pressão, mas falar que eu me sentia pressionado, não. Eu sabia lidar com isso”, afirma Jean.

“É aí que entra a parte difícil de deixar claro. Atrapalhou, a exibição era muito grande. E a expectativa era muito grande das outras pessoas. Eu acho que se tivesse existido uma blindagem melhor, talvez uma coisa ou outra teria sido diferente. Falei até aqui no clube (EC São Bernardo), não sabemos onde Endrick e Ângelo estavam aos 9 anos, fomos ver agora, eles com 15 ou 16. Então, lógico, atrapalhou sim um pouco. Mas não me senti pressionado. Eu era uma criança, queria jogar bola e me divertir”, conta.

Neymar e Jean Chera, ainda garotos, em eventos comerciais (Crédito: Divulgação)

“Acredito que sim. Foi uma exposição muito grande. Com 8, 9 anos, eu já dava entrevista para Globo e era capa da Veja, já ia no Gugu, Esporte Fantástico, tudo que é lugar. Eu saia todo final de semana para inaugurar escolinhas Meninos da Vila. Terminava e já voltava para jogar Campeonato Paulista. Tinha que fazer prova em casa porque não conseguia ir à escola por conta de compromissos profissionais. Eu tenho certeza de que foi uma exposição muito grande que poderia ser melhor controlada”, completa Jean Chera.

Caso de assédio

Em 2018, Jean Chera usou as redes sociais para contar que viveu um caso de assédio dentro do clube. Ele respondeu um torcedor nas redes sociais e disse que “viveu tudo que tinha para viver, inclusive uma tentativa de assédio sexual na base do Santos”.

Em nota divulgada à imprensa naquele ano, o Peixe afirmou que “não tinha conhecimento do caso” e que “foi pego de surpresa”. O Santos se colocou à disposição para colocar com as investigações.

“Por eu ser muito novo, eu não entendi muito bem o que estava acontecendo. No português claro, eu me deitei para fazer abdominal, e o treinador passou do meu lado e falou ‘nossa Jean, que coxa gostosa que você tem’. Eu achei estranho, levantei e sai. Depois, no vestiário, estava indo embora, eu dei a mão para ele. Ele pegou, deu um beijinho na minha mão e falou ‘tchau meu bebê’. Eu não entendi, era novo. Cheguei em casa, contei para meus pais. Meu pai ficou transtornado. Se resolveu no Santos. Infelizmente acontece até hoje com muitos jovens”, conta Jean.

“Meu pai levou ao clube e foi resolvido internamente”, completa.

Saída polêmica gerou críticas e uma imagem negativa no Santos

Toda expectativa no garoto passou a se transformar em uma bola de neve. À época, o caso virou um polêmica imensa envolvendo torcedores. De um lado, torcedores do Santos alegavam que o jogador teria aceitado sair por dinheiro. Em entrevistas, o ex-presidente Luis Álvaro de Oliveira, falecido em 2016, não escondeu a chateação.

As notícias veiculadas eram que o pai teria pedido um aumento de salário pelos próximos três anos que viriam: R$ 70 mil no primeiro ano, R$ 90 mil no segundo, e R$ 120 mil no terceiro. Havia também a exigência de luvas de R$ 1 milhão. O Peixe recusou e liberou o jogador. Jean, porém, conta uma história diferente.

“Na época saiu muita coisa, e como fomos embora acabamos não falando nada. Lembro que saiu algo ‘o pai do Jean pediu R$ 100 mil de salário para renovar’. Cara, a gente nunca pediu nada em relação a isso. O que aconteceu foi que, fomos à Vila para negociar, o Santos colocou a proposta na mesa para o primeiro, segundo e terceiro ano. Na época era uma proposta muito boa”, comentou.

“Era R$ 30 mil por mês no primeiro ano, algo assim. Muito bom. Só que já estava tarde da noite. Aceitamos a proposta e voltaríamos para assinar o contrato. Nessa ida para casa, surgiu o clube da Itália. Um empresário intermediou, ligou para meu pai e falou ‘Celso, o Santos está oferecendo quanto?’. E disse que o clube ia pagar o mesmo, só que em euros, e daria luvas para a gente ir. Era muito dinheiro para um moleque de 15 anos, era muito. E meu pai me falou e, pensando pelo lado financeiro, tínhamos que ir. Era um valor que mudaria nossa vida para sempre. E topamos. Não teve nada com o Santos de pedir mais. Lógico, o presidente (Luis Álvaro) ficou chateado, muito bravo. E começou a sair um monte de coisa. Mas não pedimos, só chegou uma proposta melhor. E com era meu pai quem cuidava disso, achou melhor ir”, disse Jean.

Jean Chera chegou ao Santos aos 9 anos (Crédito: Divulgação)

O mundo do futebol é um espaço muitas vezes cruel que, dependendo das escolhas de cada um, uma marca dificilmente é perdida. Jean Chera ficou por muito tempo marcado como “mercenário”, principalmente pelos torcedores do Santos. Novo, o garoto não tinha esse receio, mas não esconde que a história poderia ter sido diferente.

“Para ser sincero, não. Foi tudo muito rápido. Uma hora e maia atrás estava certo renovar com o Santos, mas apareceu algo que não tinha como recusar, e meu pai tomou essa decisão. Eu tinha 15 anos, era ele quem decidia. Na época, não pensamos nisso. Óbvio que depois aconteceu isso, me chamaram de mercenário, falaram que meu pai pediu o dobro, e realmente não. Só chegou uma proposta melhor e aceitou”, comentou.

“Me arrepender não, é muito forte falar. Claro, depois que você amadurece, você pensa ‘pô, se tivesse feito isso diferente’… ou também poderia ter sido nada diferente. Mas arrependimento não. Talvez se eu tivesse ficado no Santos, teria uma oportunidade no profissional rápido, até pelo investimento. Eu poderia também ter oportunidade e não corresponder. E aí, como é que fica? Poderia ter acontecido. Uma ou outra decisão poderia ser diferente. Mas tudo acontece por um motivo. Foi bom para mim, não só na parte financeira, mas por amadurecimento e pessoa”, completou Jean.

O que não deu certo no Genoa?

A história conhecida pelos torcedores é que Jean Chera não deu certo no Genoa. Aos 16 anos, o jogador chegou ao país italiano ainda sem passaporte. Assim, não pôde disputar jogos e nem mesmo amistosos. O receio da equipe de Gênova é que, menos de idade e sem a dupla cidadania completa, algum problema surgisse com a FIFA.

Para esperar a regularização, Jean Chera ganhou tudo e foi tratado como astro. Recebeu casa na beira da praia, carro para locomoção e todo suporte necessário para começar uma vida nova na Itália. Mas a história não terminou como todos esperavam.

“A minha ida para Itália era um processo. Eu tinha dupla cidadania, e estava saindo ainda. Tinha um prazo para que ela fosse entregue e o clube me registrasse. Tinha uns quatro meses para ficar pronta. Nós fomos para lá com o clube sabendo de tudo já, eles que cuidavam do passaporte italiano. Eu cheguei lá e fui muito bem recebido, tratamento de jogar profissional. Deram casa na beira da praia, carro. Meu pai e meus irmãos foram junto. Deram todo o suporte. E começou os treinos, eu não podia não fazer nem amistoso”, lembrou.

“Chegou o prazo do passaporte sair, mas não saiu. Deu um problema. E aí, automaticamente, eu ficaria ilegal com a minha família por ser menor de idade, e não tinha mais o que fazer. Eu tive que voltar porque poderia dar um problema maior para o clube já que eu era menor de idade, tinha toda uma burocracia que daria problemas ao clube. Tivemos que rescindir o contrato, não tinha outra escolha. Assim, voltei ao Brasil. Nessa questão eu fico tranquilo, eu não fiquei lá por burocracia, não que eu não consegui jogar. Aí após uma semana no Brasil, saiu o passaporte italiano”, lamentou.

Cinco meses depois, o jogador voltou ao Brasil e assinou com o badalado Flamengo, à época com Ronaldinho Gaúcho, Vágner Love e Léo Moura. “Na volta ao Brasil, eu fui para o Flamengo do Ronaldinho. Era um clube legal para dar sequência. Dali para frente, eu comecei a tomar decisões erradas meio que sozinho, porque meu pai voltou para o Mato Grosso para cuidar das nossas coisas. Eu fui para alguns lugares que eu não deveria ter ido, fiquei sem salário. Acabei me frustrando”, afirma.

Jean Chera voltou ao Brasil para o Flamengo, mas não obteve sucesso (Crédito: Divulgação)

Em notícias veiculadas pela imprensa na época, a informação era de que a relação com o pai, Celso Chera, “atrapalhou” sua passagem no clube Carioca. “Algumas críticas que fazem ao meu pai é verdade, ele fez. Mas, por exemplo, no Flamengo, não. Eu estava sozinho, meu pai morava no Mato Grosso. Como ele iria atrapalhar se ele nem morava lá comigo? Poucas vezes meu pai estava no Rio. As pessoas aumentam muito e isso me chateiam. Nunca ninguém me perguntou, só acham que aconteceu. No Flamengo eu fiquei um ano e recebi três meses. Eu não consegui desempenhar meu futebol que eu sabia… que eu sei também, talvez eu saiba um pouquinho. Vamos ver daqui umas semanas (risos). Mas eu não consegui jogar, meu pai nem ia ao Flamengo. Eu não joguei bem. No final do ano, rescindi e saí”.

Humilhações na Grécia fizeram repensar sobre futebol

Após o Rubro-Negro, Jean Chera ainda passou por outros dois grandes clubes no Brasil, Athletico e Cruzeiro, também sem sucesso. Após uma passagem pelo Oeste marcada por atrasos de salários, recebeu uma proposta para defender o Paniliakos, da Grécia. Topou.

Jean novamente precisou “abandonar” a família pelo sonho de jogar futebol. Sozinho, atravessou o mundo e iniciou uma nova jornada. Porém, a vida novamente surpreendeu o garoto. Em um dia comum, um dos representantes do clube chegou ao vestiário e informou que Paniliakos estava falido. Dali em diante, viveu uma série de humilhações.

“Eu cheguei a ir para Grécia. Um empresário quis me levar e eu fui. Fiquei seis meses, não recebi nada. Chegou no sexto mês e o clube faliu. Só tinha eu de brasileiro e um italiano, o restante do elenco era grego. Ele chegou no vestiário e falou, na língua dele: ‘rapaziada, o clube faliu. Não temos dinheiro. Obrigado a todos e podem ir embora’. Ele virou as costas e saiu. Eu estava sozinho, não falava grego e nem inglês. Eu voltei para o hotel e estava fechado. Lá, disseram para mim e ao italiano: ‘olha, vocês estão aqui há meses e o seu clube não pagou nada da estadia de vocês. Não vão entrar até pagar o que devem’”, revelou.

“Nisso, eu estava com documentos e passaporte no quatro, eu estava só com o celular na mão. Isso quase ninguém sabe. Já era tarde, não tinha como mandar dinheiro do Brasil para lá para acertar com o hotel, pegar as coisas e sair. Eu cheguei a dormir na calçada do hotel porque eu não podia entrar nem na recepção. Só no dia seguinte pudemos ir ao banco e pegar dinheiro. Além de não receber, tive que pagar do meu bolso. Você acaba se frustrando, não recebi nada. Imagine você chegar no seu trabalho e não receber nada”, comentou.

Jean Chera brilhou nas categorias de base do Santos (Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

Retorno ao Santos

A volta de Jean Chera não era tão esperada por pessoas próximas ao Santos. Pela forma com que saiu e, principalmente, por não conseguir atingir o rendimento esperado nos campos, o atacante era “página virada” no Peixe. Mas, por meio do ex-presidente Modesto Roma, uma nova oportunidade surgiu.

Nas redes sociais, o jogador postou “Uma nova história Deus tem para mim”. Com o técnico Kleiton Lima, Jean passou a treinar com a equipe Sub-23. As coisas iam bem, segundo o atacante, até que um fato novo mudou o rumo de tud0.

“Eu tive oportunidade de voltar ao Sub-23, faltavam três meses para acabar o ano. Na época, foi um empresário que me trouxe. Ele disse que o Santos iria me pegar um salário-mínimo para ver como eu iria me sair. Eu topei, clube que me revelou, fui pela oportunidade. Eu estava indo bem, renovamos por mais um ano e com salário um pouco melhor. E aí surgiu a oportunidade de jogar a ‘Bezinha’ pela Portuguesa Santista. Só que aí aconteceram algumas coisas com empresário, dinheiro, que eu fui descobrir só depois. Por vários clubes que eu passei, pegavam dinheiro pelas minhas costas. Eu nunca soube e desanimei. Você está lá trabalhando, por exemplo, ganhando R$ 2 mil por mês, e no final você sabe que ganhava R$ 10 mil, mas uma outra pessoa ficava com R$ 8 mil, você acaba desanimando. Se querem pegar uma parte, falem. Não pegar pelas costas. Eu desanimei. Eu não precisava daquilo. No final das contas, não precisava. Tinha uma vida tranquila no Mato Grosso, família estabilizada. Aí foi quando eu comecei a pensar na ideia de parar. Com isso, surgiu a oportunidade do Sinop, de lá mesmo. Eles estavam na Série A do Mato Grosso, e eu fui. Ficar em casa, vou treinar, volto. E as coisas foram acontecendo para ir parando”, lamentou.

Apesar do problema, Jean preferiu não tomar nenhuma medida judicial. Foi então que a ideia de voltar para sua terra natal veio à tona. “Eu não cheguei a abrir processo na justiça. Só arrumei minhas coisas e fui embora… Já tinha passado por tanta coisa, não quis mais problemas. Daqui para frente, se eu quiser ir para algum clube, vou sozinho. Prefiro não falar quem é (empresário). Se ele vir a matéria, vai saber que é ele”, comentou.

Jean Chera voltou ao Santos em 2015, mas não brilhou (Crédito: Reprodução)

De grande promessa para aposentado aos 23 anos

O começo dessa história trouxe relatos de “grande aposta”, “o futuro dos cofres” e “a virada de chance” na base de um clube. Mas, anos depois, mesmo aos 23 anos, Jean Chera decidiu parar. Após superar dramas no mundo da bola, o jogador decidiu não sair de sua cidade e a aposentadoria foi inevitável.

“Não foi uma decisão meio que programada. O Sinop jogava a Copa do Brasil, Campeonato do Mato Grosso e Série D do Brasileiro. À época, o Cuiabá não era grande, perdemos nos pênaltis. E começou a Copa do Brasil, ganhamos do Salgueiro e perdemos para o Fluminense. Mas a Série D naquela época era curta, e foi o que aconteceu. Maio e junho, já tinha acabado o calendário do Sinop. Então, os caras foram liberados para procurar outros clubes e voltar no ano seguinte. Só que, pô, ficar esse tempo parado ou procurar outro clube, não quis. Fiquei em casa. E nisso foi surgindo a oportunidade de aposentar aos 23 anos”, disse Jean Chera.

Durante boa parte da entrevista, Jean Chera não quis passar uma imagem de “coitadinho”. Firme nas respostas, deixou claro que as coisas aconteceram por suas decisões, e precisava lidar com isso. Ao falar da aposentadoria, porém, a situação mudou.

Após passagem pelo Sinop, Jean Chera decidiu se aposentar (Crédito: Divulgação / Sinop)

Jean não negou que, de fato, ficou mal com a situação e viveu momentos de depressão. Para sair dessa situação, uma velha conhecida foi fundamental: a bola. Com o tempo, passou a jogar futevôlei em Sinop, abriu uma escolinha e passou a dar aulas. A vida ganhava uma nova página.

“Quando eu parei, eu me frustrei, fiquei chateado. Foi um ano parado, sem fazer atividade física, não queria ver bola e nem assistir futebol. Foi um ano em que fiquei bem mal, cheguei a entrar em depressão. Mas aí eu conheci o futevôlei, voltei a fazer atividade física. Eu vi que levava jeito, abri um Arena de futevôlei lá em Sinop, comecei a dar aulas para os meus amigos. O negócio foi crescendo, contratei professor para ajudar. O futevôlei me resgatou. Passei a jogar campeonato, vim morar em São Paulo com a minha noiva, comecei a dar aulas aqui. E a vida foi indo”, completou.

Oportunidade no EC São Bernardo

A vida de Jean Chera já não era mais a mesma. Focado no futevôlei e morando em São Paulo, as oportunidades voltaram aparecer. Certo dia, Anderson Franciscon, CEO do EC São Bernardo, clube do ABC Paulista, e Fabiano Fernandes, executivo de futebol, entraram em contato com o atleta para avaliar uma oportunidade.

Entre algumas sondagens, optou pelo clube paulista por conta da logística e da família. Jean não escondeu que o EC São Bernardo ‘abraçou’ o seu projeto pessoal e estava disposto a ajudar. Um outro motivo muito especial alimentou o sonho de voltar: o filho Leonardo, de 6 anos.

Jean Chera voltou ao futebol neste ano e acertou com o EC São Bernardo (Crédito: Matheus Previde/EC São Bernardo)

“Eu já vinha tendo essa ideia, quando começou os treinos, devido ao meu filho. Ele tem 6 anos, começou a ler e entender o que tinha acontecido no meu passado. Ele começou perguntar sobre as coisas que deram errado, porque eu não jogava mais, se eu não gostava mais. Ele está jogando agora, então eu voltei por causa dele. Para ele ver com seus próprios olhos o pai jogando. Apareceram algumas propostas antes, time da Bahia, só que surgiu a oportunidade de conversar com o EC São Bernardo”.

“Como eu moro em São Paulo, a logística seria muito melhor. Eu e meu empresário viemos conversar com o Anderson e Fabiano, e de cara falamos ‘achamos o lugar, é aqui. São do bem’. Eles entendem o que eu passei, que preciso de tempo, então estamos ao lado das pessoas certas. Não é fácil, é difícil. Essa é nossa segunda semana de treino, os primeiros foram testes. Estou com muita dor na panturrilha, não é fácil. Mas com as pessoas certas, conseguimos deixar um pouco menos difícil”, comentou.

Portas abertas ao Santos

Com duas passagens pelo Santos, uma terceira oportunidade talvez não seja tão fácil de acontecer. Mas quem é que sabe? De qualquer maneira, Jean Chera deixou portas abertas ao clube, mas não nega que, com sua experiência, aceitaria outros desafios, como em rivais santistas.

“Eu sou grato ao Santos por tudo que fez por mim, me tirou do Mato Grosso novo, me deu apartamento, estrutura para treinar. Fiquei até os 16 anos, fiz toda minha base, tudo que aprendi, foi lá. Eu sou muito grato. Eu quero jogar a Copa Paulista pelo EC São Bernardo, e já falei para o pessoal, quero muito permanecer para jogar A-3, porque vou precisar de tempo e criar uma raiz em um lugar. Se for para sair daqui sendo bom para o EC São Bernardo e para mim, deixo com meu empresário. Eu não tenho portas fechadas para clube nenhum. Se eu tiver que voltar ao Santos ou jogar por Corinthians, Palmeiras e São Paulo, acho que, nós jogadores, temos que ser profissionais. Sendo bom mim e clube, temos que aceitar e ir”, explicou.

O que o futebol e a vida ensinou sobre felicidade?

Aos 28 anos, Jean Chera precisou amadurecer muito cedo. Sua profissão o obrigou a viver isso. Hoje, o atacante tem uma vida mais “leve”, e tenta passar alguns ensinamentos sobre felicidade ao filho, que também sonha em ser jogador de futebol, mas em uma posição diferente do pai.

“Eu tenho duas pessoas que me motivas: meu filho e minha noiva. Ela também não me viu jogar. Está sempre do meu lado, me motivando. Se a gente não tiver pessoas ao nosso lado, não vamos conseguir. Eu quero mostrar para o Leo que ele pode fazer o que quiser, no tempo em que quiser, independente da idade, que ele pode fazer. Depende de você. E também para provar para mim mesmo que eu posso reescrever essa história de uma forma justa, honesta e feliz”, comentou.

“Ele estava jogando como zagueiro. Aí, um mês atrás, ele queria uma luva para ser goleiro. Obviamente não falei para ele, mas pensei ‘pô, vai ser goleiro? Vai jogar de atacante, fazer gol’. Mas daqui um ano se ele quiser parar de jogar no gol, quiser fazer outra coisa, vai fazer. Estando feliz, fazemos qualquer coisa. Faça o que te deixa feliz”, disse Chera, rindo.

“Hoje, o que me deixa feliz é voltar a jogar futebol. Eu até fiquei com pé atrás de ter essa rotina novamente, voltar a treinar de manhã e tarde, pré-temporada… como eu vou me sentir, você não consegue falar antes. Mas eu nunca estive tão feliz. Eu tenho 28 anos, os meninos 23 anos… e brincando com eles, parece que eu tenho 23 também. Claro, com responsabilidade, estou em um clube profissional, que tem seus objetivos na Copa Paulista e no ano que vem na Série A-3. Estou muito feliz”, finalizou.

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