Kleiton Lima comandou as Sereias no clássico antes de afastamento (Crédito: Guilherme Greghi/Santos FC)

O presidente do Santos, Marcelo Teixeira, assumiu a responsabilidade e revelou novas medidas para apuração e investigação do caso Kleiton Lima. Em coletiva nesta quarta-feira (17), o dirigente ainda confirmou a contratação de um novo treinador para as Sereias da Vila. O Diário do Peixe apurou que é Glaucio Carvalho o novo comandante.

“Vou deixar claro, esse foi um fato ocorrido no ano passado. O Santos errou ao trazer o profissional. Como se diz, o Santos assumiu uma responsabilidade perante um perfil de profissional que tem uma história no Santos. O futebol feminino é um dos pilares da minha gestão. O que foi feito no futebol feminino ao longo desses vinte anos é inadmissível, pelo que o Santos já fez e é pioneiro no futebol feminino. Trouxe Marta, Cristiane e em épocas que essas atletas estavam no exterior. Santos está ao lado de quaisquer campanhas que estejam para apoio a discriminação, preconceito e qualquer situação. Santos é exemplo e referência no esporte nacional. Imediatamente recompomos. Tivemos a decisão da contratação, alguns dias e fizemos um acordo. E já contratamos um novo profissional, começou hoje, e iniciará seu trabalho na comissão técnica e vai estar sendo apresentado”, afirmou o dirigente.

Nesta semana, o técnico Kleiton Lima pediu afastamento do cargo no comando das Sereias da Vila. O treinador havia retornado ao time após sete meses depois de um caso polêmico e comandou a equipe em apenas um jogo. O treinador teria recebido até ameaças de morte. Marcelo Teixeira deu ‘a cara tapa’ na coletiva.

“Nós vamos sempre aceitar e respeitar as decisões que estão sendo decididas pelas profissionais das áreas. Não quero responsabilizar ninguém, nem o Gallo, nem a Thaís. O responsável é sempre o presidente do Santos, serei por todas as decisões. Porém, eu tenho que sempre ouvir e ao ouvir decidir. A minha decisão foi diante dos profissionais que estão me auxiliando, me recomendando, além do departamento jurídico. Foram feitas as constatações e foi decidida a recontratação. Hoje, depois de dias na atuação dele profissional em um jogo (contra o Corinthians) e logo fizemos esse acordo. Não será adotado pela diretoria como um término diante dos esclarecimentos que devem ser feitos. O Santos vai assumir esse protagonismo, vai a fundo e não é responsabilidade nossa. Mas queremos definitivamente ver, até para adotar as medidas diante as meninas, as atletas, a psicóloga e os profissionais. Todos que estão envolvidos. Nas quais, eu não estive. Agora estou e vou assumir pelo que eu represento ao futebol feminino”, disparou.

“Já pedi ao presidente da FPF, Reinaldo, para que ele contribua também na área esportiva possibilitando com que ele no através da Justiça Desportiva, tome a iniciativa de criar um processo interno, ouvir todo mundo e as partes. Já que na Polícia não temos solução desse processo ainda. Não queremso acobertar o treinador ou fazer o contrário a jogadoras. Nós queremos continuar sendo referência e exemplos de medidas a serem tomadas no futebol feminino. ‘Basta fazer anonimamente e acabou’. Não. Não vamos nos contentar também com denúncias anônimas. Temos que nos contentar com denúncias corajosas para que as medidas sejam adotadas. Seja contra o treinador, o profissional ou quem quer que seja”, revelou.

“Para que a gente moralize e tenha, no futebol feminino, um meio salutar, não para fazer protestos em campo. Ao contrário, o futebol feminino não precisa de protestos. Precisa de apoio, investimento e aproveitar a oportunidade desses talentos de meninas e mulheres. Vamos trabalhar para moralizar o futebol feminino pelo Brasil. O Santos vai continuar trabalhando para isso, moralizar o futebol feminino. As medidas não serão feitas apenas com a dispensa ou acordo com treinador, não. Elas não pararão aqui. Agora não. Vamos continuar acompanhando de muito perto para que as ações resultem em responsabilidades de todos que devem assumir ou ficar jogando aqui ou lá sem entender o que está acontecendo. Tem que ir à últimas consequências para que preserve a menina, a mulher e todos que estiveram envolvidos. O Santos vai adotar”, completou.

“Esse procedimento e processo foram feitos na gestão anterior. Todos eles na época. O treinador veio, colocou o cargo à disposição e a diretoria aceitou. Ali se começou um procedimento interno e investigativo policial. Quando assumimos já havia a possibilidade da profissional indicar o retorno de Kleiton Lima. Nós não tínhamos conhecimento do que tinha feito internamente e nem acompanhado o que se havia feito no ambito policial. Quando vieram os pareceres dos departamentos, dizendo que o procedimento não se apurou nada, jurídico, profissional, feminino e os profissionais chamados na época, com o processo. Tiveram as cartas anônimas e não sabemos por quantas pessoas foram feitas. Foi feito um procedimento interno e externo. No retorno dele foi baseado nisso, sem provas internas ou externas. O próprio profissional e o Santos entenderam que de fato não é mais um momento”, concluiu.

O QUE ACONTECEU

Kleiton saiu do clube em setembro do ano passado após 19 cartas anônimas de jogadoras relatando assédio moral, sexual e cobrando por melhorias e mais competitividade na modalidade. O técnico foi anunciado de volta ao Peixe no dia 2 de abril e apresentado em coletiva no último dia 9 de abril.

O técnico ao lado de Alexandre Gallo, coordenador de futebol, e Thais Picarte, coordenadora de futebol feminino, afirmaram sobre a responsabilidade do Santos com a verdade e sobre inverdades nos relatos. Picarte ainda reforçou ter conversado com ex-atletas e não ter encontrado nada, mas 10 das 14 jogadoras que saíram ao fim da temporada se posicionaram nas redes sociais e falaram que não foram procuradas pelo clube para saber o que aconteceu.

São elas: as goleiras Camila, Jully e Anna Bia; como as zagueiras Kaká e Tayla; um lateral Gi Fernandes; a volante Brena e as atacantes Cristiane, Tainá Maranhão e Jourdan Ziff. Além da atacante Bianca Gomes, que havia rescido com as Sereias na mesma semana de setembro, também se posicionou nas redes.

Outros relatos anônimos começaram a aparecer em matérias de outros veículos. Enquanto isso, Kleiton foi regularizado no BID da CBF e comandou o Santos na derrota para o Corinthians por 3 a 1, na Vila Belmiro, pela quinta rodada do Brasileirão, na última sexta-feira (12). A atacante Ketlen, que marcou ao Peixe, foi a única a abraçar o treinador na comemoração.

Ketlen foi a única jogadora das Sereias a abraçar Kleiton no gol (Crédido: Fernanda Luz/Staff Images Woman/CBF)

Já as adversárias, taparam a boca como forma de protesto durante o hino nacional antes da partida e também na comemoração do gol sobre a equipe santista. Porém, os protestos se espalharam na rodada do Brasileiro Feminino.

 

No jogo entre Palmeiras e Avaí/Kindermann, as jogadoras fizeram o mesmo sinal de boca tapada e destaque para a camisa 19 por conta do número de cartas relatando os assédios. No clássico mineiro, entre América-MG e Atlético-MG também. Os protestos seguiram pelas cruzeirenses no jogo contra o Real Brasília. E as são paulinas e botafoguenses também marcaram os protestos.

 

O caso também teve repercussão mundial com o jornal francês se posicionando. Elas voltam a campo diante o Avaí/Kindermann no sábado (20), às 15 horas, em Caçador.

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