Jair Ventura tem dois jogos como treinador do Santos (Crédito das fotos: Ivan Storti/Santos FC)

Na segunda parte de sua entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO PEIXE, Jair Ventura fala sobre a intenção de colocar o Santos para jogar no ataque. Conhecido por ter montado um eficiente sistema defensivo no Botafogo, um time que buscava o gol geralmente em contra-ataques, o treinador afirma que no Peixe as coisas serão diferentes por causa da tradição ofensiva do clube e das características dos jogadores que estão à sua disposição.

Jair fala também sobre a pressão que já começou a sofrer no Santos, por causa da inesperada derrota por 1 a 0 para o Bragantino, na Vila Belmiro, pela segunda rodada do Campeonato Paulista. Ele garante que não está preocupado com as cobranças.

Leia a seguir a segunda das três partes da entrevista exclusiva de Jair Ventura:

No Botafogo, você era considerado um treinador defensivo porque o time jogava muito em contra-ataques. Esse modelo de jogo era um desejo seu ou era o que dava para fazer com os jogadores à disposição?
Era o que eu tinha de melhor, a marcação forte e a transição em velocidade, eu não podia fazer outra coisa. Era a característica dos jogadores. Aqui a gente está com a bola o tempo todo, tem jogo apoiado, dá o mínimo de chutão possível, é diferente. Já mudou tudo, e isso de acordo com as características dos meus jogadores. Eu vou sempre jogar com as características dos jogadores que eu tenho. Eu não poderia ficar com a bola e fazer um jogo apoiado no Botafogo porque eu não tinha jogadores com essa característica.

Depois de dois jogos já é possível dizer que o seu Santos é diferente do seu Botafogo?
Com certeza. Antes de chegar eu já tinha essa ideia. E agora a gente sofre com a transição como sofreu com o Bragantino, um time que jogou com 11 jogadores atrás da linha da bola e no nosso erro.

O técnico conversa com Renato, seu primeiro capitão no Peixe

E você se incomoda quando falam que é um treinador defensivo?
Não. Era meu último trabalho, qual era a referência que as pessoas tinham?

O Santos tem o “DNA ofensivo”, e você chegou ao clube dizendo que vai colocar o time no ataque. Quando disse isso, você já havia estudado o elenco para saber se dava para colocar essa ideia em prática?
Dava, e tem de dar. Não tem como ser diferente. Eu não posso mudar uma coisa que já há muitos anos é dessa maneira.

Mas e se você não tiver jogadores para ser ofensivo?
Ah, mas o Santos já contrata assim, né? Não tem como não ser assim aqui. Não tenho o direito de fazer no Santos o que eu fazia no Botafogo. Não tem chance. Não pode. Aqui não pode. Mas eu jogava assim na base (do Botafogo) também, eu tinha jogadores assim, a gente ficava com a bola, era muito mais ofensivo do que transição, era jogo apoiado… Contra o Bragantino, a gente acabou o jogo com seis caras para atacar.

O Santos sofreu uma derrota inesperada em casa logo na segunda rodada do Campeonato Paulista. O quanto incomoda ser pressionado com tão pouco tempo de trabalho?
A derrota nunca é boa, é claro. A vida do treinador é estar sempre pressionado, mas isso não me incomoda, porque eu escolhi ser treinador. A vida do treinador é essa. A gente vai lutar para vencer, como lutamos e não conseguimos, a pressão estará sempre dentro da vida de um treinador de um clube grande como o Santos.

Mas você acha correto existir pressão no começo da temporada?
Mas isso não vai mudar, vai ser comigo, vai ser com outro treinador que estiver aqui. É paixão, torcedor é paixão. Ele quer ganhar todos os jogos. Não quer saber se está em início de temporada, não quer saber se (o time) teve duas semanas de treino. E ele tem toda razão, ele é paixão. Os grandes responsáveis pelo clube são os torcedores, e a gente tem de dar alegria para eles, a gente está aqui para isso.

Existe alguma receita para reduzir pelo menos um pouco a pressão?
Jogar bem como a gente jogou (contra o Bragantino). Ter todos os indicadores maiores, maior posse de bola, maior número de finalizações, ter o controle do jogo, criar diversas situações… Assim ele (o torcedor) sabe que o time dele está jogando bem. Quando você joga bem, você está mais perto de vencer do que de perder. É assim que a gente faz. Performando.

Você tem jogado com Renato e Vecchio, dois jogadores com pouca mobilidade, no meio de campo. Isso é intencional ou apenas falta de opções mesmo?
A gente tem no elenco alguns jogadores com mais mobilidade, tem o Jean (Motta), que tem mais essa característica. Eu não fico preso a nada, fico preso ao melhor momento de cada jogador, e aquele que estiver no melhor momento vai jogar. Eu não tenho um sistema ao qual fico preso, então a gente vai alternar o sistema, a gente vai alternar a maneira de jogar, mas a gente tem o nosso modelo de jogo. A gente tem a hora de marcar pressão, a hora de fazer as transições, a hora de fazer o jogo apoiado, a gente pensa o jogo a todo momento, mas os números do sistema vão ser mudados de acordo com a característica do jogador que está no melhor momento. Depende muito do que o jogo está pedindo também. Se eu precisar do jogo mais apoiado, colocarei o jogador com característica de prender (a bola), errar menos o passe. Se eu precisar de transição, de velocidade, aí são outros jogadores, então vai muito de acordo com o que o jogo pede e com o adversário que a gente vai enfrentar.

O Renato foi seu capitão nos dois primeiros jogos. Ele ficará sempre com a faixa, ou haverá rodízio?
Tem outros (jogadores). Depois vocês vão ver, como viram o (David) Braz (que ficou com a faixa quando Renato saiu contra o Bragantino). Rodízio não, acho que temos os líderes dentro do grupo, isso é fácil de identificar, e essa braçadeira vai ser dividida entre os líderes, não acho legal um rodízio. No Botafogo eu fiz isso com Dudu Cearense, Luís Ricardo, Lindoso, Jefferson, Carli, Victor Luis, eu tinha diversos jogadores com liderança, então podia mudar. Quando um não jogava, eu passava para outro. É uma ordem, dentro do campo aquele que tiver mais a característica de líder vai ficar com a faixa, eu gosto assim.

Leia nesta sexta-feira no DIÁRIO DO PEIXE: Na terceira parte de sua entrevista exclusiva, Jair Ventura afirma sua fé na base santista e diz que não tem medo de colocar os meninos para jogar.

Leia aqui a primeira parte da entrevista do treinador alvinegro.