A passagem de Juary pelo time profissional do Santos foi curta, pois com apenas 20 anos ele deixou o clube para fazer sua vida fora do Brasil. Mesmo assim, foi tempo suficiente para conquistar o coração da torcida alvinegra com muita velocidade, gols decisivos e o título paulista de 1978.
Naquela competição, ouviu-se falar pela primeira vez nos Meninos da Vila. E Juary era o símbolo perfeito da geração que ganhou o primeiro título do Peixe após a “era Pelé”: jovem, veloz, habilidoso, atrevido e formado em casa. Ainda que, por incrível que pareça, isso tenho ocorrido contra a sua vontade.
Nascido em São João de Meriti, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o menino Juary jogava no pequeno Pavunense quando recebeu a chance de se transferir para o Fluminense. No clube das Laranjeiras, porém, as coisas não eram como ele imaginava e Juary decidiu que não queria mais saber de futebol. Seu pai, porém, tinha outros planos.
Por intermédio de um ex-jogador que morava em São João de Meriti, chegou ao pai de Juary um convite para o filho fazer um teste no Santos. Sabendo que o menino estava decidido a se dedicar apenas aos estudos, o pai levou o garoto ao clube sem avisá-lo do que se tratava. É melhor deixar o próprio Juary contar a história:
“Meu pai era vendedor autônomo e disse que iria me levar para Volta Redonda para eu aprender um pouco da profissão. Eu só achei muito esquisito quando ele disse para eu levar minhas chuteiras, mas ele falou que poderia aparecer a chance de jogar alguma pelada na cidade”, contou o ex-atacante. “Seguimos viagem e eu percebi que estava demorando muito para chegar a Volta Redonda, mas não falei nada. Quando dei por mim, estávamos em São Paulo, na Estação da Luz. Perguntei ao meu pai o que a gente estava fazendo ali e ele só me disse que a viagem não havia terminado ainda. Nosso destino final foi a Vila Belmiro.”
Juary não queria ficar em Santos, mas não teve alternativa. Afinal, seu pai voltou para casa sem sequer se despedir dele. Aos 14 anos, o futuro ídolo santista se viu morando em um alojamento na Vila, onde não conhecia ninguém. “Chorei todos os dias por um mês”, lembrou ele. Passado o trauma, Juary resolveu levar o futebol a sério e prometeu a si mesmo que seria um jogador de sucesso. E ele não demorou muito a cumprir a promessa.
A estreia no time principal santista ocorreu em 1976, aos 17 anos. Como o clube vivia uma crise financeira das bravas naquela época, o jeito foi olhar para a base e dar oportunidade a Juary e sua turma, formada por gente talentosa como Pita, João Paulo e Nilton Batata. Depois de algum tempo ganhando cancha, o time de meninos “explodiu” no Paulista de 1978, sob o comando de Chico Formiga. A molecada foi acumulando vitórias até encarar na decisão o São Paulo e seus veteranos.
“A final foi a primeira vez na vida em que eu senti alguma pressão. Eu me lembro de estar jogando cartas na concentração quando de repente apareceu o Pelé na minha frente. Ali a perna tremeu. Para o Rei encontrar um tempo na agenda dele para ir à Vila conversar com a gente, é porque a coisa era séria mesmo.”
Juary já conhecia Pelé, que em 1975 frequentava a Vila para treinar com o time do Santos antes de ir para o New York Cosmos. Mesmo assim, a presença do Rei era um acontecimento, e certamente ajudou os Meninos da Vila a terem a confiança necessária para superar o São Paulo e ganhar o título.
Depois da conquista, Juary passou por uma fase difícil. Ele admite que se deslumbrou com o sucesso repentino e que só voltou aos trilhos quando ouviu um sermão de Pelé. “Até hoje eu guardo comigo as coisas que ele me disse. Por isso eu tenho um amor muito grande pelo Edson, pelo ser humano que ele é.” A passagem do goleador pelo Santos acabou logo depois, pois ele, contra sua vontade, foi negociado com o Tecos, do México. De lá, partiu para a Europa, onde atuou com sucesso na Itália e em Portugal.
Em 1989, Juary voltou ao Santos com a intenção de encerrar sua carreira onde ela havia começado, mas deu tudo errado. Ele logo percebeu que a torcida esperava ver em campo o atacante devastador de 1978, mas a velocidade já não era a mesma. Além disso, desentendimentos com a diretoria fizeram a segunda passagem pela Vila ser muito mais curta do que ele gostaria. Nada, porém, capaz de abalar sua paixão pelo Peixe e pela cidade de Santos.
“Como homem, eu devo tudo ao Santos. Tenho de agradecer em primeiro lugar a Deus, depois aos meus pais e, em seguida, ao Santos, que me criou. E eu também sou apaixonado pela cidade, não tenho a menor intenção de ir embora daqui. Eu sinto falta de Santos quando estou fora.”
FICHA TÉCNICA
Nome: Juary Jorge dos Santos Filho
Data de nascimento: 16/6/1959
Local de nascimento: São João de Meriti (RJ)
Posição: Centroavante
Jogos pelo Santos: 229
Gols pelo Santos: 101
Período em que defendeu o Santos: 1976 a 1979 e 1989
“Chupa Waldir, é gol do Juary.”
Cantei muito em 79.
Vi todos os jogos da final e encontrei o time do Santos todo, numa parada de ônibus indo pra Ribeirão Preto.
Ganhamos o título com um tal de Flávio no gol. Um feito extraordinário.