Texto de Fernando Ribeiro para o DIÁRIO DO PEIXE
Marolla despontou para o futebol muito cedo, mas manteve o sonho de ser engenheiro eletrônico vivo por muito tempo. Para nossa sorte, escolheu ser goleiro
O sonho de muitos jovens brasileiros é ser jogador de futebol. Quando possuem uma oportunidade de ingressar em algum clube, a primeira medida é deixar os estudos de lado e concentrar-se apenas em jogar bola. Para Marolla, uma das lendas da Vila, o futebol ficou por um tempo em segundo plano. “Bola é bom, mas como carreira só mesmo para quem dá muita sorte. Por isso é que eu quero estudar”, afirmou para a edição 483 da revista Placar, em julho de 1979.
Revelado pelo XV de Jaú, clube de sua cidade natal, Fiordemundo Marolla Júnior destacou-se tanto no interior paulista que integrou todas as categorias de base da Seleção Brasileira. Com 17 anos, já era titular da meta do XV. Ainda assim, uma das condições para prosseguir no clube era ter tempo livre para estudar –
treinava no período da tarde e frequentava cursinho preparatório nas manhãs. Desejava estudar engenharia eletrônica e animou-se quando o Guarani tentou contratar-lhe.
“Campinas seria uma boa. Lá tem a PUC e a Unicamp”. O negócio não deu certo, o Santos apressou-se para assegurar a compra de seu passe – a transação girou em torno de 4,5 milhões de cruzeiros, com 3 milhões em dinheiro e o restante em troca de jogadores. Com a profissionalização completa, abandonou os estudos. Muito jovem ao chegar a Santos e “caipira de tudo”, com ele mesmo disse, ao ver o mar pela primeira vez, achou que teria que pagar para poder banhar-se.
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Estreou pelo Peixe em 06 de dezembro de 1979, em amistoso diante de sua ex-equipe, com a renda sendo usada como parte de pagamento de sua contratação. Cogitou-se atuar um tempo por cada equipe, mas não foi possível. O Peixe venceu por 2 a 0, com dois gols de Claudinho. Apesar de ter sofrido com a mudança de cidade – anos depois confessou ter pensado em retornar por saudade da família e amigos, em pouco tempo consolidou-se como titular da equipe, em detrimento do veterano Vitor.
Com apenas 19 anos, tornou-se referência no clube. “Depois de Gylmar, Marolla é o maior goleiro que o Santos já teve”, concluiu o técnico Pepe, ainda em 1980, com leve exagero. Marolla foi importante na campanha que levou o alvinegro até a final do Paulistão, perdido para o São Paulo.
Prosseguiu sendo convocado para as seleções de novos e foi bicampeão no tradicional torneio juvenil em Toulon, na França, em 1980 e 1981. Chegou a ser convocado por Telê Santana para a seleção principal, mas não teve sequência como titular. Disputou duas partidas amistosas, todas elas entrando no decorrer do jogo, mas não sofreu gols.
Depois de uma frustrante campanha no Campeonato Paulista de 1982, o Santos resolveu investir pesado para montar equipe competitiva para o ano seguinte. Chegaram Serginho Chulapa, Paulo Isidoro e Dema, mas Marolla foi, também, uma das peças principais do time que chegou muito próximo ao título do Campeonato Brasileiro de 1983 – perderam na final para o Flamengo.
Em 1984, Marolla perdeu espaço com a chegada do uruguaio Rodolfo Rodríguez. Inconformado com a reserva, pediu ao clube para ser negociado e foi emprestado ao paranaense Colorado (que anos depois daria origem ao atual Paraná Clube). Voltou ao Santos em 1985, mas em seguida regressou ao Paraná, para atuar, com sucesso, pelo Atlético Paranaense. Pelo Peixe, foram 282 partidas disputadas, número que o coloca como o quinto goleiro com mais partidas pelo clube.
Bons tempos em que o Santos FC contratava jogadores jovens que se destacavam nas Seleções. Jogadores que estavam no auge. Agora só vêm esses jogadores que são oferecidos por empresários, jogadores que estão sem clube, desempregados. O detalhe são os salários. Pode apostar que, convertendo o dinheiro da época para dólar americano, o Vladimir, terceiro goleiro, que sempre foi reserva, ganha hoje, em US$, mais do que o Marola titular do Santos FC e goleiro de Seleção Brasileira recebia na sua época. Antes, o nível técnico dos jogadores que atuavam no Brasil era melhor, mas com o crescente interesse dos clubes do exterior por jogadores brasileiros, só ficaram por aqui os muito novos, os aposentados que estão em fim de carreira e os perébas que ninguém quer. Por outro lado, a “globalização” do futebol serviu para inflacionar os salários fazendo com que jogadores medíocres tenham esses salários absurdos de R$ 200 mil, R$ 300 mil, sem nem chegar perto de uma convocação de Seleção. Impensável um jogador como o Sasha, que NUNCA foi cotado para uma Seleção ganhar, conforme dizem, R$ 400 mil. Os veteranos voltam repatriados com o sarrafo dos salários lá em cima, no nível europeu, de modo que os garotos novos (os ruins de bola, porque os bons saem cedo do País), blefam que só ficam por um salário próximo do padrão europeu, pois supostamente teriam propostas do exterior e, com isso, os demais perébas acabam tendo seus ganhos catapultados por equiparação aos demais jogadores do elenco, pois, afinal, são jogadores de time grande. Com certeza, o Rodrigão lá da Campinense PB não ganhava nem metade do que ganha o Rodrigão no Santos FC (centroavante emprestado ao Ceará com o Santos bancando boa parte dos salários). Ou seja, o nível técnico caiu inversamente ao crescimento dos salários.