Texto dos pesquisadores Fernando Ribeiro e Vinícius Cabral para o DIÁRIO DO PEIXE
Aniversariante da semana, Serginho jogou muita bola no Santos e é um dos principais responsáveis por um dos maiores títulos da história do clube. Mas fez muito mais!
Quando Zé Sérgio e Humberto fizeram aquela trama pela esquerda, a bola tinha um destino óbvio dentro da área: Serginho. O camisa 9 santista empurrou para o gol vazio e saiu para comemorar como um torcedor. Serginho era torcedor do Peixe e jogava com a vontade que eu e você jogaríamos se pudéssemos um dia defender a camisa do clube.
Eram jogados 27 minutos do segundo tempo de um jogo tenso. O Santos poderia empatar que seria campeão paulista de 1984. Do outro lado, o Corinthians tentava o tricampeonato e estava um ponto atrás na tabela. Serginho e outros figurões do time como Rodolfo Rodriguez, Dema, Márcio, entre outros combinaram previamente que, se por ventura o Santos tivesse perdendo, eles quebrariam tudo. Inclusive a taça.
A partida realizada no Morumbi no dia 2 de dezembro de 1984 fez o Santos quebrar um jejum de seis anos sem títulos – o último tinha sido conquistado em 1979, mas era válido pelo Paulistão do ano anterior. Por isso, o elenco sabia a importância de um triunfo e de consequentemente dar um Natal tranquilo à nação santista. Mas Serginho foi muito mais que aquele histórico gol.
Sérgio Bernardino nasceu no bairro da Casa Verde, em São Paulo, no dia 23 de dezembro de 1953. Filho de Otávio e Laura Bernardino, Serginho era bem mais agitado que seus irmãos Sônia e Zé Carlos.
Desde cedo já mostrava temperamento explosivo nos campos de várzea da capital paulista. Após um período na equipe juvenil da Portuguesa, acabou dispensado e ficou desiludido com o esporte. Passou a entregar leite para ajudar nas despesas de sua casa.
Esquerdinha, como era conhecido entre os amigos, não desistiu do sonho e após uma boa atuação em peneira do São Paulo ganhou uma chance no time amador do Morumbi. Apesar de ter 1,94 de altura, Serginho era muito ágil e atuava pela ponta-esquerda. Aos poucos foi caindo para o centro do ataque e se tornou um centroavante letal. Pelo São Paulo o camisa 9 fez 243 e até hoje é o maior artilheiro da história do clube. Por lá ganhou um Brasileirão e três Paulistões.
Também era um jogador de seleção brasileira. Não disputou a Copa do Mundo de 1978 porque estava suspenso após dar um chute em um bandeirinha. No Mundial de 1982 fez seus gols, mas não evitou a eliminação diante da Itália de Paolo Rossi.
No fim daquele ano o Santos vivia um momento curioso. Após um Paulistão sem brilho, a equipe não estava qualificada a disputar o Brasileirão do ano seguinte. Com isso, a diretoria prometeu montar uma equipe forte e o Peixe foi liberado para disputar o nacional. O clube foi atrás de nomes de peso como Paulo Isidoro, Dema e, claro, Serginho. Foram 140 milhões de Cruzeiros pelo artilheiro, que fez questão de defender o clube do seu coração.
Logo em seu terceiro jogo, Serginho já mostrou aos torcedores do que era capaz: três gols na vitória contra o Moto Clube pelo Brasileirão de 1983. O centroavante foi a figura principal da equipe na campanha. Das primeiras fases até a decisão Serginho brilhou com gols, lances inesquecíveis e algumas confusões. O Peixe avançou até a final, mas acabou derrotado pelo Flamengo de Zico e companhia, mas como uma espécie de prêmio de consolação, Serginho foi o artilheiro com 22 gols. Foi o mesmo número de gols com que alcançou a artilharia do Paulistão no mesmo ano, competição em que o Santos caiu na semifinal. A primeira temporada terminou sem títulos, mas Serginho já tinha conquistado o coração da nação santista.
Em 1984 veio a consagração. Novamente Serginho foi um dos destaques da campanha santista. O gol na partida final frente ao Corinthians foi o 16º no Paulistão e obviamente que nosso camisa 9 foi o artilheiro. Nem a ida para o Corinthians em 1985 fez o amor do torcedor santista diminuir. Um ano depois ele percebeu que fez a escolha errada e voltou para sua casa.
Algumas contusões crônicas impediram Serginho de manter o alto nível nos anos seguintes. Serginho acabou indo jogar no Marítimo, de Portugal, e no Malatyaspor, da Turquia, mas sempre voltava para Vila Belmiro, onde marcou seus gols até 1990. Foram 104 tentos com a camisa alvinegra, fazendo com que seja o 21º goleador da história do clube e terceiro após a Era Pelé. Serginho também atuou na Portuguesa Santista, São Caetano e Atlético Sorocaba, onde encerrou a carreira aos 39 anos.
Após encerrar a carreira continuou morando em Santos, cidade que ama. Sempre esteve vinculado ao clube de alguma maneira. Foi auxiliar, treinador e está até hoje na comissão técnica do clube e no coração da torcida santista.
Centroavante-centroavante, referencia no ataque, que utilizava a sua força física para brigar com os zagueiros no meio da área (um estilo parecido com o Fred nos melhores momentos). Era muito forte no jogo aéreo (como o Gustavo Henrique, utilizava bem a sua estatura). A altura do jogador varia conforme a fonte de informação: 1,89 m, 1,91 m e agora 1,94 m , será que ainda está crescendo? Tinha também um chute forte com a perna esquerda. Agora, tinha um defeito grave: a qualquer momento podia deixar a equipe com um jogador a menos. Essa estória de que se perdesse o título iria quebrar tudo, mostra como o jogador era destemperado e inconsequente. Algumas pessoas acha isso divertido, mas é lamentável que um jogador profissional não tenha respeito pelo resultado de um jogo. Se foi incapaz de ganhar no campo, para que dar um vexame de mal perdedor? Houve episódios lamentáveis na carreira do centroavante, sempre ligados à violência desmedida, como agressão a bandeirinha, brigas com zagueiros como Mauro e Juninho do Curintias e Julio César, o armário de portas abertas do Guarani. Atualmente virou aspone do Cuca. Enfim, realmente era um atacante que preocupava a defesa adversária, mas a parte emocional era totalmente instável.