Texto de Fernando Ribeiro para o DIÁRIO DO PEIXE
Araken Patusca fez de tudo em suas passagens pelo Peixe: marcou muitos gols, brigou, saiu, voltou e comandou o time rumo ao primeiro caneco estadual.
Filho de Sizino Patusca (primeiro presidente do clube), irmão de Ary Patusca (um dos primeiros ídolos da torcida santista) e primo de Arnaldo Silveira (autor do primeiro gol da história do Santos), Araken Patusca teve sua vida sempre ligada ao Alvinegro Praiano.
Nascido em Santos, em 17 de julho de 1905, tinha 15 anos quando debutou pela equipe santista no jogo-treino diante do Paulista, de Jundiaí: marcou quatro gols, no empate em 5×5. Araken assistia ao jogo e foi chamado por Urbano Caldeira, técnico do Peixe na época, para que o time não ficasse desfalcado até o final do jogo após a lesão de Edgar.
Araken era rápido e ótimo finalizador. A velocidade era tão destacada que integrava a equipe de atletismo do Saldanha da Gama, outro clube santista. Na frente do gol, o jovem Patusca era mortal, tanto que marcou 177 gols com a camisa alvinegra em 192 partidas.
Em 1925, com apenas 20 anos, foi emprestado ao Paulistano apenas para excursão à Europa. Os brasileiros fizeram bonito no Velho Continente, inclusive derrotando a seleção francesa por 7×2. Araken ganhou dos franceses o apelido de “Le Danger” (O Perigo).
Ele integrou o famoso “Ataque dos 100 gols”, junto a Siriri, Omar, Camarão, Feitiço e Evangelista. Foram 100 gols marcados em 16 partidas no Paulista de 1927, a maior média de gols na história da competição até hoje (6,25 por partida).
Araken tem outro feito na carreira naquele inesquecível campeonato. Marcou sete vezes contra o Ypiranga, na goleada santista por 12×1, e estabeleceu o recorde brasileiro de gols marcados em uma partida. O laurel foi mantido por 37 anos, quebrado por Pelé, que marcou oito na vitória de 11×0 sobre o Botafogo-SP. No final do Paulistão, obviamente, foi o máximo artilheiro, com 36 bolas na rede. Marcou mais gols que nove das catorze equipes que disputaram a competição.
O título daquele estadual escapou entre os dedos, após controversa arbitragem na última partida, diante do Palestra Itália. Apesar da tristeza, Araken teve motivos para comemorar o ano de 1927. Foi autor de 61 gols durante a temporada, 54 deles pelo Santos e sete pela Seleção Paulista.
Nos anos seguintes, prosseguiram as boas apresentações do jogador, mas o Santos amargou mais dois vice-campeonatos, em 1928 e 1929. Ao final de 1929, Araken rompeu com seu time do coração. Solidário aos companheiros Siriri e Bilu, que foram punidos pelo clube, brigou com a diretoria e deixou o Santos.
Em 1930, já sem vínculo com o Peixe, acertou seu ingresso no Flamengo apenas para conseguir disputar a primeira Copa do Mundo. Nunca atuou pelo clube carioca, porém esteve presente na primeira partida do Brasil em Mundiais, derrota frente a Iugoslávia. No ano seguinte, transferiu-se para o São Paulo da Floresta e por lá reencontrou o velho amigo Siriri: ambos foram campeões paulistas de 1931.
O retorno à Vila Belmiro, em 1935, foi triunfal. Mais experiente, comandou uma jovem equipe rumo ao título estadual – o primeiro da história santista. Foi autor de um dos gols do Peixe na vitória sobre o Corinthians por 2 a 0, no Parque São Jorge. O fato curioso é que depois de alguns erros de arbitragem em partidas decisivas, a torcida santista teria levado galões de gasolina para São Paulo. Prometiam, em caso de ação dos apitadores, incendiar as bancadas do estádio mosqueteiro.
A gloriosa carreira pelo Santos seguiu até 1937, quando retornou a São Paulo para mais duas temporadas junto ao novo São Paulo Futebol Clube. Araken faleceu em Santos, prestes a completar 85 anos, em 1990.
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