Texto de Fernando Ribeiro para o DIÁRIO DO PEIXE
A história do Santos é rica em jogadores “de outro mundo”, como se diz no dito popular. Pepe mesmo afirma ser o maior artilheiro humano da história do Santos, afinal Pelé é extraterrestre e não pode integrar essa lista. Antes destes dois atuarem com a camisa alvinegra, um outro jogador fazia sucesso em Vila Belmiro e trazia, em seu nome de batismo, alusão a outro planeta: Wálter Marciano.
Wálter Marciano de Queirós nasceu em 1931, em São Paulo. Com o sonho de ser jogador, saiu cedo de casa. Foi morar em São José do Rio Pardo e, depois, um período em Campinas – onde foi pouco aproveitado pelo Guarani. De volta à Capital e desolado com o insucesso, foi trabalhar em uma empresa de vidros. A oportunidade de regresso aos gramados veio com proposta do São Caetano Esporte Clube, que algum tempo depois mudaria o nome para São Bento (não confundir com os atuais São Caetano e São Bento de Sorocaba).
Boas atuações deram-lhe a oportunidade no Ypiranga, voltando assim a sua cidade natal. Atuando como meia-direita, Wálter foi destaque no Campeonato Paulista de 1952 – o tradicional clube paulistano atuava na primeira divisão. Chamou então a atenção dos grandes clubes e o Santos apressou-se para contratá-lo.
Chegou sob desconfiança à Vila Belmiro, em contrato de empréstimo. Estreou em abril de 1953, em derrota santista no Maracanã, para o Flamengo, pelo Torneio Rio-São Paulo. Wálter entrou no decorrer da partida, no lugar de Álvaro Valente. Em sua primeira partida como titular, diante do Palmeiras, marcou o gol da vitória santista por 2×1.
As boas atuações firmaram-lhe como titular e o novo dono da camisa oito. Apesar da campanha irregular da equipe no Paulistão – encerrou a participação em sétimo lugar, Wálter terminou o ano como um dos destaques do time. Marcou 15 gols, em 40 partidas disputadas.
Dono da posição, Wálter se tornou a referência da equipe no ano de 1954. Esteve presente no primeiro jogo do Santos em solo internacional, na excursão à Argentina – empate em 1 a 1 diante do Gimnasia y Esgrima La Plata. Nesta gira no exterior, o meia marcou três gols em oito jogos. No famoso Campeonato Paulista do IV Centenário, em 1954, Wálter liderou por várias rodadas o prêmio de melhor jogador da competição. Polêmico, chegou a ser afastado após uma derrota para o São Bento, em Vila Belmiro, acusado de fazer corpo mole. Reintegrado ao elenco, encerrou o ano com 20 gols marcados, em 49 partidas disputadas.
Considerado o melhor meia-direita do Estado, logo foi cortejado por outros clubes. O São Paulo formalizou proposta de um milhão de cruzeiros – considerada muito alta para os padrões da época, mas o Santos se recusou a vender seu principal jogador ao rival. Em 1955, Wálter disputou 25 partidas e marcou 10 gols, mas deixou o clube poucos dias antes do início do Paulistão – que culminaria com o título santista, depois de vinte anos de seca. A diretoria santista aceitou a proposta do Vasco da Gama, que pagou 1 milhão e 200 mil cruzeiros pelo concurso do meia santista.
A passagem de Wálter Marciano pelo clube foi recheada de ótimas apresentações e muitas polêmicas. Em entrevista ao jornal Mundo Esportivo, em 23 de dezembro de 1955, o presidente santista Athiê Jorge Coury fez fortes declarações sobre já ex-jogador santista. “Perdemos o campeonato de 1954 por causa deste mau elemento”, afirmou Athiê. “Criava casos e provocava animosidade nos próprios companheiros”, completou o mandatário santista.
No Vasco, o futebol de Wálter despontou e fez com que chegasse à Seleção Brasileira, além de sagrar-se campeão carioca em 1956. O sucesso no clube cruzmaltino chamou a atenção dos europeus e, em 1957, assinou sua transferência ao Valência, da Espanha.
Foi o primeiro jogador brasileiro a atuar pelo clube espanhol. Na cidade espanhola, prosseguiu com o bom futebol e tornou-se ídolo local.
Em junho de 1961, com apenas 30 anos, faleceu tragicamente em acidente de carro, na estrada que liga as cidades de Alicante a Valência. Retornava de uma festa com outros companheiros de equipe.
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