Pita era um clássico camisa 10, dono de grande habilidade e visão de jogo (Crédito: Reprodução)

Texto do pesquisador Fernando Ribeiro

Já mergulhado em dívidas e sem dinheiro para grandes contratações, o Santos apostou nos jogadores das categorias de base para a disputa do Campeonato Paulista de 1978. Uma aposta que tinha muito para dar errado, acabou alterando para sempre a história do clube.

A torcida santista vivia dias tristes após a aposentadoria de Pelé. Quando 1978 começou, nem o mais otimista poderia imaginar que o Santos teria sucesso com o surgimento de jovens que marcaram uma geração inteira. A torcida não poderia imaginar, também, que a camisa de número 10 seria tão bem tratada como foi outrora.

Pita com o uniforme listrado do Peixe (Crédito: Reprodução)

Pita, o menino-craque, foi um dos principais expoentes daquele time mágico, que encantou o país. Nascido em Nilópolis, no Rio de Janeiro, o pequeno Edivaldo de Oliveira Chaves nem tinha o apelido famoso quando veio junto à família para a Baixada Santista. O apelido que o tornou famoso no futebol foi dado pela mãe, que queria registrá-lo com o nome Epitácio. Passou a infância no Jardim Casqueiro, em Cubatão. Entre as atividades escolares e as peladas pelos campos do bairro, vendia siris nas margens da rodovia Anchieta. “Depois que o freguês pagava, eu me oferecia para colocar o bicho no porta-malas. Mas eu só fingia que colocava”, contou aos risos em entrevista para a revista Placar, em 1987.

Foi descoberto por olheiros da Portuguesa Santista aos 13 anos, quando disputava torneio de futebol de areia nas praias de Santos. Passou dois anos em Ulrico Mursa, mas o destaque conduziu-o rapidamente até a Vila Belmiro. Chegou ao Peixe aos 15 anos de idade, trazido pelo técnico Olavo, histórico jogador do clube na década de 60. No Santos, teve a oportunidade de observar o ídolo Edu treinar. Foram várias as vezes em que assistiu os dribles do ágil ponta-esquerda e tentou reproduzir em suas partidas.

As boas atuações nas equipes de base garantiram vaga a Pita entre os profissionais, para uma excursão à Argentina, em 1977. Subiu junto aos colegas do time juvenil, como Juary, Rubens Feijão e Célio. Não firmou-se logo de cara, mas pouco tempo depois tornou-se um dos principais jogadores do time. Em 1978, seu futebol explodiu.

Incentivados pelo grande Chico Formiga, os jovens santistas surpreenderam a todos e fizeram ótima campanha no Paulistão. O campeonato foi extenso e arrastou-se até 1979, mas o time de garotos do Santos fez bonito. Na decisão, bateram o experiente time do São Paulo e garantiram o título. Pita foi autor de um belíssimo gol no primeiro jogo das finais. O Santos venceu o primeiro confronto por 2 a 1. O empate em 1 a 1 na segunda partida forçou a realização de um jogo-desempate. Na finalíssima, o Tricolor venceu por 2 a 0, mas o empate sem gols na prorrogação deu o título ao Peixe.

Card (figurinha) de Pita nos anos 80 (Crédito: Reprodução)

Quando todos acreditavam que Pita evoluiria ainda mais, tudo mudou. Sem motivo aparente, o futebol do jovem meia caiu de produção e por muitas vezes foi criticado por torcida e imprensa. Acusavam-lhe de sonolento e chegaram a cogitar uma troca com Gérson Sodré, da Portuguesa de Desportos. Com o retorno de Formiga ao clube e a contratação de jogadores famosos (como Serginho, Paulo Isidoro e Dema), o futebol de Pita voltou a aparecer. Foi determinante na campanha que levou o Santos até a final do Campeonato Brasileiro de 1983. Novamente marcou um bonito gol no primeiro jogo da final, vencida pelo Santos por 2 a 1. Na segunda partida, o Santos não foi bem e sucumbiu diante de um grande time do Flamengo – em que pese o pênalti não marcado no próprio Pita.

Pita deixou o seu querido Santos em 1984. Em grande crise financeira (novidade!), o Santos se desfez de seu camisa 10. Na troca com Pita, o alvinegro recebeu do São Paulo os jogadores Humberto e Zé Sérgio. Os dois ex-tricolores foram fundamentais na campanha do título paulista daquele ano, inclusive foram os organizadores da jogada que terminou com o gol de Serginho, no jogo decisivo diante do Corinthians. Resultado: Pita foi importante ao Santos até mesmo quando resolveu deixar o clube.