Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, sempre foi muito cobrado por supostamente não combater o racismo. A história, porém, conta uma versão diferente: o maior de todos os tempos combateu a ditadura e chegou a dizer que ‘negros deveriam votar em negros’.
Essa frase emblemática aconteceu no dia 15 de novembro de 1995, quando Pelé era Ministro do Esporte no Brasil, sob o primeiro governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. À época, ele recebeu organizadores de uma marcha contra o racismo na capital do país.
“O sinônimo de político no Brasil é de corrupto e o negro não carrega essa marca”, apontou o maior de todos os tempos, em coletiva de imprensa.
“De uma maneira geral, o negro também deveria votar no negro. No Brasil, um país mulato como dizem, você vê que os negros não tem uma boa representatividade no Congresso”, afirmou o Rei do futebol.
As frases do ex-camisa 10 do Santos e Seleção Brasileira começaram a se tornar cada vez mais comuns. Pelé defendia a presença de negros na política e disse em uma entrevista que os negros precisavam estar no Congresso nacional para lutar pelas causas raciais.
“Se o negro quer que se tenha uma melhora na sua posição social e uma melhora no Brasil de uma maneira, temos de botar gente no Congresso para defender a nossa raça”, completou.
Luta contra ditadura fez Pelé recusar convite para Copa de 1974
O Rei aposentou da Seleção Brasileira em 1991 após 113 jogos e 95 gols, além dos títulos: Copa do Mundo (1958, 1962 e 1970), Copa Roca (1957 e 1963), Taça do Atlântico (1960), Taça Oswaldo Cruz (1958, 1962 e 1968) e Taça Bernardo O’Higgins (1959). Pelé, porém, recebeu outro convite.
Em entrevista em 2013 ao UOL Esporte, a majestade afirmou que recebeu convite para disputar a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha Ocidental, mas recusou por conta da fase política em que o Brasil vivia, com a ditadura. O governo dos militares perdurou entre 1 de abril de 1964 até 15 de março de 1985
“Pediram para eu voltar para seleção, eu não voltei. Eu já tinha me despedido do Santos, mas eu estava bem demais. Mas o Geisel (presidente da República entre 1974 e 1979), a filha dele, veio falar comigo, para eu voltar e jogar a Copa de 74. Por um único motivo não aceitei: estava infeliz com a situação da ditadura no país. Estava preocupado com o momento. Em apoio ao país, eu recusei, pois estava muito bem (físico e técnico) e poderia jogar em alto nível”, disse Pelé.
Já em 1984, Pelé estampou a capa da Revista Placar com uma camisa escrita ‘Diretas Já’, movimento que pediu a volta das eleições por voto no Brasil. A foto foi feita por Ronaldo Kotscho, no Pavão-Pavãozinho, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
“O Brasil já foi tricampeão e ninguém tira. Agora essa aqui é para esse jogo duro que está para sair aí. Vai demorar um pouco, mas a gente chega lá. Pelas Diretas”, disse Pelé, em entrevista ao Globo Esporte, quando a taça Jules Rimet foi roubada da sede da CBF em 1983.
O Rei do Futebol faleceu nesta quinta-feira, dia 29 de dezembro, aos 82 anos, vítima de complicações de um câncer no cólon. A majestade foi internado no final de novembro e também chegou a ser diagnosticado com Covid-19. O Boletim apontou a causa da morte como “falência de múltiplos órgãos”.
Segundo o Peixe, o velório acontecerá no próximo dia 2 de janeiro, na segunda-feira (2), na Vila Belmiro. Todos que quiserem se despedir do Rei do Futebol entrarão pelos portões 2 e 3, com saída pelos portões 7 e 8. Autoridades terão acesso pelo portão 10.
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Tive a grata satisfação de conhecer o Rei. Descanse em paz, com certeza a seleção dos que já se foram, ficou mais fortalecida!