Renato comemora gol pelo Santos contra o The Strongest, na Libertadores da América (Fotos: Ivan Storti / Santos FC)

Renato não precisa fazer mais nada para garantir um lugar especial na história do Santos, mas isso não o satisfaz. Peça fundamental na conquista do título brasileiro de 2002, um dos mais importantes do clube, o meia continua defendendo com muita classe e dedicação a camisa alvinegra, que usou pela primeira vez em 2000. E, aos 38 anos, ainda mantém vivo o desejo de levantar taças pelo Peixe.

Com 390 jogos pelo Santos, Renato deverá superar sem dificuldades a marca de 400 partidas pelo clube, já que tem contrato até o fim de 2018. Com um pouco de sorte, chegará a 456 e, assim, vai se igualar ao ex-companheiro Léo como o décimo jogador com mais jogos pelo Peixe. Isso, no entanto, não o comove.

Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO PEIXE, o meia afirma que sua prioridade é ajudar o Santos a
ganhar campeonatos. Ele também faz um balanço da temporada de 2017, diz o que espera de 2018 e conta
que pretende encerrar a carreira pelo clube de seu coração. O Peixe, é claro.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

DIÁRIO DO PEIXE – Como você avalia o seu desempenho nesta temporada? Do ponto de vista individual, 2017 foi do jeito que você queria?
RENATO – Não, foi um pouco abaixo. Eu tive umas lesões que não tive no ano anterior, então fiquei um pouco abaixo do nível que apresentei em 2016. É claro que não fiquei satisfeito, a gente sabe que quando a parte individual vai bem, o coletivo também vai bem. Nós poderíamos ter conquistado objetivos maiores em algumas competições, o desempenho foi abaixo do esperado.

Quando você pensa na campanha do Santos no Campeonato Brasileiro, qual é seu sentimento: felicidade pela classificação para a Libertadores ou frustração por não ter brigado pelo título até o fim?
Quando a gente entra em uma competição jogando pelo Santos, a briga é sempre por título, essa é a responsabilidade de todo jogador que veste essa camisa. Quando você não briga pelo título, é claro que há uma frustração, mas, por outro lado, atingir o objetivo de jogar a Libertadores faz o ano ser bom, não foi de todo mau. Ruim seria se ficássemos fora, o Santos tem de disputar a Libertadores todo ano, é um clube grande, de tradição, e tem de ter esse objetivo. Mas é claro que sempre pensando em ganhar títulos.

Você acredita que o Santos poderia ter ido mais longe na Libertadores ou o time chegou ao seu limite na competição?
Nós poderíamos ter ido mais longe. Tivemos baixas por lesões, principalmente no segundo jogo (das quartas de final, contra o Barcelona). É claro que respeitamos o Barcelona, que havia acabado de eliminar o Palmeiras na fase anterior, e foi um clube que investiu bastante, mas acho que o grupo tinha condições de ir à semifinal para enfrentar o Grêmio. Contra um time brasileiro, a gente não tem certeza de que a equipe chegaria à final, mas poderíamos ter dado esse passo a mais.

Como o Santos poderá concorrer em 2018 com clubes com muito mais dinheiro, como Palmeiras e Flamengo?
Acho que temos de fazer um trabalho como o que vinha sendo feito. Entramos em 2017 com uma base, o que foi importante, mas tivemos lesões em momentos decisivos, alguns jogadores ficaram fora e isso acabou enfraquecendo um pouco o grupo. Mantendo a base para 2018, você se torna forte, a gente sabe que quando se faz uma reformulação muito grande o entrosamento acaba pesando, não é tão de imediato que os jogadores se conhecem, leva um pouco de tempo. Com um poder não tão alto de aquisição no mercado, e a gente sabe que o clube ainda precisa reagir na parte financeira, acho que é importante manter essa base para a gente se tornar uma equipe forte.

O Santos deverá apostar em 2018 em jovens talentosos como Rodrygo e Yuri Alberto. De que maneira você, como jogador mais velho do elenco, pode ajudar esses garotos?
Posso colaborar dando conselhos, falando para eles não mudarem suas características. Eles se destacaram nas categorias de base e têm de manter o nível, a alegria, mas é claro que com um pouco mais de responsabilidade, pois no profissional tem de ser assim. Mas sem jamais perder suas características, eles precisam jogar como gostam. Como jogador mais experiente, eu digo a eles para não perderem o jeito de jogar e não terem medo de fazer o que sabem. Se tiverem de driblar, é para driblar, só assim eles vão evoluir.

De uma maneira geral, como você compara o Santos de 2017 ao de 2000, quando chegou ao clube? O Santos hoje é muito diferente do que era há 17 anos?
É bastante diferente, principalmente na parte de estrutura o Santos melhorou muito. Hoje o clube tem sua própria concentração no CT, isso é uma coisa importante, as partes de fisiologia e fisioterapia evoluíram muito, assim como o departamento médico. Naquela época tudo era muito diferente, agora precisamos aproveitar esse momento, essa evolução, e a gente espera que o Santos continue crescendo tanto no futebol quanto na parte administrativa.

Renato com seu grande amigo Elano, agora treinador do Santos

Você já tem planos para o encerramento de sua carreira? Sua ideia é terminá-la no Santos ou ainda cogita jogar em outro clube?
A ideia é terminar a carreira no Santos, já deixei claro isso, não quero estar em outra equipe. Espero terminar no clube do coração, no clube para o qual eu torço. Isso vai depender também da diretoria, é claro, mas o importante é que eu ainda tenho a ambição de ganhar títulos, de trazer conquistas para o Santos. Ainda tenho o prazer de ir treinar, e isso é o que me motiva a continuar jogando.

Você pensa em seguir o caminho do seu amigo Elano e também se tornar treinador?
(Risos) Ah, acho difícil… Apesar de muita gente achar que o meu perfil, mais calmo, é de treinador, é uma coisa que eu não cogito, já deixei isso bem claro. Já conversei sobre isso com a minha família também. Se mudar alguma coisa, será mais para frente, mas no momento não penso em ser treinador, não.

Se você jogar a próxima temporada toda sem lesões, terá a chance de entrar no grupo dos dez jogadores com mais partidas pelo Santos. Você tem interesse por esse tipo de marca? Isso mexe com você?
Os objetivos pessoais ficam em segundo plano, eu procuro sempre o coletivo, sempre poder ajudar, e é claro que para ajudar eu preciso estar à disposição. Por isso tenho de trabalhar bem, fazer uma boa pré-temporada e ficar à disposição do treinador, independentemente se vou jogar ou não, todo atleta tem de ter em mente estar à disposição do treinador para quando ele precisar. Esse é meu primeiro objetivo. Depois, se vierem os recordes individuais eu ficarei feliz, mas em primeiro lugar está o coletivo.

Qual foi o seu momento mais feliz como jogador do Santos?
Acho que a final de 2002, as duas partidas, não só a primeira, em que fiz o segundo gol (da vitória por 2 a 0). Aquela final do Brasileiro é um marco na minha carreira, foi meu primeiro título como profissional, e ainda mais em cima do rival. A gente sabe que o Corinthians é o maior rival principalmente para o torcedor. A gente tem os clássicos contra São Paulo e Palmeiras, mas o Corinthians é visto como o maior deles, então aquela final de 2002 acabou marcando muito a minha carreira.